Luanda - Esta pergunta ocupa o espírito de muitos desde que viram a figura patética de Kadhafi a ser retirado de dentro dum largo tubo de cimento e morto por uma populaça em fúria. Ainda uns dias antes proclamava que o povo o amava.

Fonte: Club-k.net

Esta pergunta ocupará novamente o espírito de muitos ao verem o povo em revolta na Venezuela. As grandes manifestações a sucederem-se, as mortes intimidatórias a aconteceram, mas o poder impotente para conter a fúria do povo.


Dirão muitos que em Angola nada disto se passa, e o governo está seguro, mesmo não sendo amado pelo povo, é temido. E como dizia Maquiavel, o cientista político florentino, mais vale ser temido que amado.


Quem lê as redes sociais fica com uma impressão diferente. Há uma revolta, uma fúria cega nas redes, contra José Eduardo dos Santos e a família. Há o perigo efectivo de um dia a população em fúria sair dos musseques que cercam Luanda e iniciar uma verdadeira caça ao Presidente e à família, como aconteceu na Líbia. Não há cientista político, sociólogo ou polícia que saiba prever se isso acontecerá realmente ou quando. Mas todos concordarão que o perigo existe. E que não se vê o regime a tentar operar uma transição tranquila desta situação de revolta no silêncio das fibras digitais.


A revolta surda existe. As pessoas estão descontentes. Não há censura de discos ou juízes que consiga encobrir essa realidade. Ninguém acredita na lisura das próximas eleições. Estas até podem ocorrer da melhor maneira possível, mas a batalha de credibilidade já perderam. As eleições de 2017 serão umas eleições em que ninguém acreditará, a não ser três ou quatro fanáticos do regime. Já se dá por assente que Lourenço ganhará, mas que tal nada adiantará, o povo continuará na penúria, e os chefes a roubar. Neste momento, não é uma questão de Direito. De respeitar as regras do jogo. Estas já foram tão violentadas no passado, que ninguém acredita que algum momento de conversão damascena, como a de São Paulo, chegue ao regime.


O regime está podre nos corações do povo.

Todos os dias surge a notícia de mais uma malfeitoria, ou é Isabel que fica com as barragens, ou Vicente com as águas, ou Zenú com os portos. Eles distribuem entre eles, e o povo não tem água, não tem electricidade, não tem nada, a não ser pó nos dias de sol, e lama nos dias de chuva.


Porque é que Isabel tem os seus negócios em off-shores ou Zenú faz as suas Fundações na Suíça? Porque sabem que um dia os Angolanos reivindicarão o que é lhes pertence e quererão de volta os negócios de Isabel e Zenú. As off-shores e os países como a Helvética e os outros são as protecções de Isabel, Zenú e demais. Mas não vão servir de nada.


Antes da revolta, antes de Angola se transformar numa Líbia ou caminhar sem possibilidade de retorno para uma situação como a da Venezuela, haverá que existir coragem de reformar o sistema e salvar o povo de mais convulsões.


Pode-se dizer que Angola não é a Líbia ou a Venezuela, mas só não o será se os dirigentes arrepiarem caminho e aplacarem a fúria surda do povo, começando a governar para o povo e pelo povo, caso contrário, o caminho para o abismo continuará.


Há um momento em que o processo histórico se desenvolve de tal maneira, adquire uma força própria tal, que ninguém o pode parar, é uma corrente de água imensa que tudo inunda e tudo leva. Aliás, os dirigentes que estudaram na União Soviética deviam saber disso.

Como dizia Lenine: “É impossível prever o tempo e o progresso de uma revolução. Ela é governada por leis mais ou menos misteriosas.” Mas acontece invariavelmente, acrescentamos nós.