São Paulo - Após a divulgação dos depoimentos de seus 77 delatores, a Odebrecht intensificou movimentos para negociar um acordo de colaboração em Angola, único país onde atua e que não impôs sanções à empresa.

Fonte: Folhapress

A ausência de legislação sobre acordos de leniência, espécie de delação premiada para empresas, porém, tem sido o principal empecilho para as tratativas avançarem.


Funcionários da empreiteira realizaram uma reunião com investigadores angolanos há mais de um mês com o objetivo de manifestar interesse em negociar.


A necessidade de ter garantias para continuar operando em Angola se mostrou mais urgente com a publicidade da delação, que revela com detalhes alguns dos esquemas de propina que envolvem o país.


Há mais informações para se tornarem públicas, o que deve acontecer no mês de junho, de acordo com o combinado com o Ministério Público brasileiro.


A preocupação do grupo é que, após essa divulgação, as autoridades em Angola possam colocar obstáculos e prejudicar os negócios da empresa no continente.


O acordo pretendido pela Odebrecht segue o modelo do que a empresa negocia em outros países, como Peru, Equador e Venezuela.


A ideia é revelar informações sobre atos de corrupção de agentes públicos nesses territórios, pagar uma multa e, em contrapartida, ter a garantia de que a empresa sobreviverá no território.


Em dezembro, o DoJ (Departamento de Justiça dos Estados Unidos) tornou públicos documentos que mostram que a Odebrecht pagou mais de US$ 50 milhões em propina para agentes do governo angolano. Segundo a investigação, repasses ocorreram entre 2006 e 2013 e renderam cerca de US$ 261,7 milhões à empreiteira.


Após a divulgação do DoJ, países citados na delação da Odebrecht passaram a procurar o Brasil para ter acesso aos documentos. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se reuniu com representares de dez países interessados e explicou que, para tanto, era preciso firmar um acordo com a empresa. Na ocasião, a Angola não participou do encontro.


Até o momento, a Odebrecht só teve sucesso em assinar esse tipo de leniência na República Dominicana. O acordo foi homologado em 19 de abril, e a empresa se comprometeu a pagar uma multa de US$ 184 milhões em oito parcelas.

 

O valor é o dobro do que admitiu ter pago em subornos entre 2001 e 2014 para conseguir contratos no país.