Luanda - Duzentos cartões de eleitores encontrados na posse da família de um antigo coordenador do Comité de Acção do Partido MPLA, na Calonda, Lunda-Norte, relança as suspeições sobre as eleições de Agosto.

*NOK NOGUEIRA
Fonte: Novo Jornal

Quadro do MPLA deixa «herança» de centenas de cartões eleitorais

A denúncia não é nova, no entanto, nunca antes tinha envolvido um número tão expressivo quanto o que foi esta semana apresentado em exclusivo ao Novo Jornal pelo secretário da UNITA na Lunda-Norte, Domingos Oliveira, que acusa o partido no poder de ter criado condições para uma alegada fraude eleitoral, ao procedendo à recolha coerciva de cartões eleitorais.


São ao todo pouco mais de duzentos cartões de eleitores encontrados na posse da família de um antigo coordenador do Comité de Acção do Partido (CAP) MPLA na comuna da Calonda, município do Lucapa, a 150 km, da capital, Dundo, facto que o secretário da UNITA atribui ao “trabalho árduo e titânico dos militantes” do Galo Negro naquela região.


O malogrado, militante do MPLA, segundo soube o Novo Jornal, atendia pelo nome de João Catxeu e era professor do primeiro ciclo. Catxeu teria falecido a 20 de Abril, vítima de doença, e enterrado no dia 21, conforme informações recolhidas no local pelo NJ.


De acordo com declarações de Domingos Oliveira ao Novo Jornal, após o infortúnio, à luz dos costumes locais, a família do malogrado procedia à divisão dos bens materiais, quando militantes da UNITA, familiares de João Catxeu, detectaram a presença de uma pasta individual contendo um “número elevado” de cartões de eleitores.


Avisado pelos seus colegas de partido do Lucapa, Domingos Oliveira explicou que orientou a recolha desses cartões para posteriormente apresentá-los junto das autoridades eleitorais no município, facto que só nesta sexta-feira, 5, teria lugar.


Questionado se não houve qualquer contacto com a liderança local do MPLA no sentido de obter esclarecimento sobre o sucedido, Domingos Oliveira declinou fazê-lo alegando que se o tivesse feito os cartões teriam desaparecido.


“Neste momento, estão na posse da nossa estrutura. Queremos fazer esta denúncia para depois apresentá-los à direcção do registo”, esclareceu Domingos Oliveira, alertando que a UNITA vem denunciando “uma realidade que é uma evidência”.


«Estão na posse da nossa estrutura. Queremos fazer esta denúncia para apresentá-los»


“Não é normal que um simples cidadão estivesse na posse de 200 cartões de eleitores. Não representa nenhum órgão de registo eleitoral”, disse o responsável da UNITA, alegando que o seu partido desconfia que os titulares dos referidos cartões sejam militantes da UNITA que fizeram a actualização do registo, no sentido de impedi-los de exercerem o seu direito de voto.


Segundo secretário da UNITA, o MPLA na localidade da Calonda, tem conhecimento do sucedido desde o dia em que os cartões foram encontrados, mas ainda não se pronunciou a respeito.


O secretário para assuntos eleitorais da UNITA, Victorino Nhany, disse ao Novo Jornal que o facto ora relatado “entra no conjunto de reclamações ligadas ao processo de recolha de cartões junto da CNE e do Ministério da Administração do Território.


«Não é normal que um simples cidadão estivesse na posse de 200 cartões de eleitores»


“O que pretendemos, por causa dessa situação e de outras, é que a lei seja aplicada. No quadro da auditoria”, avançou.


Em relação ao caso da Calonda, não está prevista uma acção particular, muito embora o responsável da UNITA reconheça que tivesse orientado o secretário provincial na Lunda Norte “a aprofundar o assunto junto dos responsáveis eleitorais naquela localidade”.


“Penso que as suspeições são estas. Se o cartão é unipessoal, só serve para as eleições, não se percebe porquê que de uma forma generalizada se procede à sua recolha”, afirmou o Nhany.


Ainda segundo o responsável da UNITA, ao longo de todo esse tempo foram apresentados vários exemplos.


“No Bié, ao nível da Educação, foram entregues modelos que foram entregues aos directores no sentido de fazerem a recolha de todos os cartões de funcionários que sejam professores. Tivemos uma situação de um agente da polícia que se envolveu na recolha de cartões no Benfica, em Luanda”, exemplificou.


Apesar de terem sido já apresentadas, a resposta, de acordo com Victorino Nhany, foi sempre que ninguém deu estas orientações e que eles [CNE e MAT] não controlam esse tipo de acções.