Luanda - Num processo de credibilidade duvidosa, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou a contratação das empresas espanholas e portuguesa INDRA e SINFIC, respectivamente, para a gestão do FICM, solução tecnológica e fornecimento de material de votação, mapeamento das assembleias de voto e produção dos cadernos eleitorais e sistema de informação ao eleitor.

Fonte: Club-k.net

Para justificar a polémica contratação, alegou-se que a CNE optou pela «contratação simplificada na medida do estritamente necessário e por motivos de urgência imperiosa». E como se não bastasse, a decisão não foi colectiva, pois não espelhou a vontade da plenária desse órgão…


À semelhança do que aconteceu em 2008, a CNE volta este ano a evocar motivos de «urgência» para a contratação das referidas empresas, um argumento que, convenhamos, não colhe já que existe um calendário eleitoral e etapas por cumprir. Publicamente não se tem conhecimento de atrasos no processo de preparação das eleições.


Sintomaticamente, em 2008, a CNE lançou, através do Jornal de Angola, um concurso público às empresas concorrentes à gestão do processo eleitoral, a quem solicitou uma pilha de documentos. Maldosamente, o concurso foi lançado numa sexta-feira e logo no PRIMEIRO DIA ÚTIL da semana seguinte, ou seja, na segunda-feira já havia um vencedor. Estanho, nê? Tudo aponta que as empresas vencedoras, nomeadamente a INDRA e SINFIC terão concorrido em vantagem sobre os demais, pois foram a únicas que conseguiram apresentar todos os documentos num curtíssimo espaço de tempo…. Só pode!


Consta que este ano, a CNE solicitou ao mercado internacional propostas para a prestação de serviços eleitorais, mediante o procedimento de contratação simplificada. Essas propostas deviam ser entregues no prazo de SEIS DIAS ÚTEIS…


Segundo revelou um comunicado divulgado recentemente pelos partidos da Oposição, «a maioria das empresas declinou o convite por considerar que esse prazo era demasiado curto, [além de] que o convite não continha os elementos necessários para a elaboração de uma proposta de qualidade, e que o processo era questionável».


Tudo aponta que a INDRA e SINFIC terão obtido debaixo da mesa os elementos necessários ao concurso e desta forma conseguido apresentar as propostas em tempo útil. Só pode!


Sabendo-se que não existe nenhum atraso no processo eleitoral, por que tanta «urgência» em contratar a INDRA e o SINFIC? Há um gato escondido com o rabo de fora? Por estas e outras razões é que os partidos da Oposição e os observadores internacionais olham com desconfiança para as próximas eleições gerais de 2017. Se a isso juntarmos a postura incongruente do próprio presidente da CNE, Silva Neto, que, em Novembro do ano passado, apresentou a sua demissão, por motivos de saúde e limite de idade, mas que volvidos alguns dias acabaria por recuar, dá para questionar sobre a seriedade, independência e imparcialidade da CNE no processo eleitoral… Até prova em contrário, este organismo continuará a ser visto no duplo papel de jogador e árbitro…