Luanda - Tenho acompanhado com frequência a abordagem de vários assuntos do interesse público do nosso país por parte de personalidades de diferentes áreas do saber, alguns com filiações partidárias conhecidas, outros camuflados. A afiliação ou não numa organização qualquer não interessa para o objetivo deste artigo, até porque as pessoas são livres de o fazer desde que respeitem os princípios éticos e regras que regem a nossa sociedade.

Fonte: Club-k.net

Destaco as personalidades que na minha opinião têm dado contribuição valiosa para a formatação da consciência individual e coletiva da sociedade angolana; David Mendes, Rafael Marques, Domingos Da Cruz, Jorge Macedo, Marcolino Moco, Justino Pinto de Andrade, Reginaldo Silva, Agostinho Sikato, Josué Chilundulo, Wiliam Tonet, Joaquim Nafoia, Makuta Nkondo, Precioso Domingos, Fernando Hector, João Paulo Nganga entre outros.

 

Lamentavelmente as “profecias” do Dr. David Mendes vaticinadas em algum meio de comunicação social local há algumas semanas sobre as atitudes e comportamentos de alguns fazedores de opinião da nossa praça nas vésperas de eleições, começam a fazer-se sentir com uma certa frequência. Pois, dizia o mesmo que muitos analistas, comentadores televisivos e de rádios não hesitam em mudar da rota para responder aos estímulos do enriquecimento fácil vindos dos grupos de influência que domina a sociedade angolana.

 

Os exemplos não faltam, senão vejamos:

 

O Deputado da Bancada parlamentar da UNITA Fernando Hector escolheu as vésperas das eleições para dizer basta a politica partidária para se dedicar a profissão e servir qualquer programa do partido vencedor, incluindo aquele que combateu durante décadas. Os argumentos que fundamentam este abandono são contraditórios, difícil de convencer mentes sãs. Era de esperar. Por favor, Sr. Dr. Fernando Hector, deixa em paz o humilde cidadão Raul Danda como motivo do abando do barco em marcha. Caso encerrado

Os últimos debates da TV Zimbo são interessantes, claramente o ano eleitoral 2017 promete;

O cinzento posicionamento do Sociólogo João Paulo Nganga e os quatro assuntos levantados nos últimos debates da TV Zimbo, farão passar muita água de baixo da ponte a saber:

a) Identificou os partidos políticos na oposição como elo mais fraco da sociedade angolana

b) Desqualificou os Telespectadores que partilham conhecimentos para esclarecimento dos assuntos em debate como tendo problemas de percepção, ou seja, pessoas menos inteligentes (precisam de três meses ou mais, para perceberem os assuntos em

discussão), ideia partilhada pelo colega do debate, Sr. Gildo Matias.

c) Resultados eleitorais baixíssimos da oposição angolana será motivo de crispação no pós eleição, tendo em conta as perspetiva de mudança que estes partidos prometem e pretendem protagonizar- vaticinou o futurólogo Dr. João Paulo Nganga

d) Defende um acérrimo respeito das instituições do Estado Angolano pela sociedade, para evitar um estado da selva

Considerações gerais e o meu ponto de vista

Sobre o Sr. Gildo Matias nada a comentar , pois o seu posicionamento é claro. Não precisamos de perder tempo.

a) Com relação a afirmação do Dr. João Paulo Nganga que identifica os partidos políticos na oposição como sendo o elo mais fraco da sociedade angolana em pleno ano eleitoral, é indicio e sinal de alerta de quem já saiu no trilho ao crucificar as organizações partidárias como o mal da fita de tudo que vai mal neste país. Alguns destes partidos já ultrapassaram meio século para sobreviver às tempestades de um país com um histórico terrível. O relativo funcionamento irregular destes partidos não se deve cingir-se ao fraco desempenho dos seus responsáveis e militantes, deve-se por diversas razões (falta de fonte de financiamento seguro, reduzido espaço da antena nos meios de comunicação pública, desentendimento interno com suspeição de mãos invisíveis externas, etc). A facilidade com que o nosso doutor chega a esta conclusão é de uma estranheza espetacular. Haja estomago! Os problemas sociais com impactos negativos na vida das populações não têm como causas os partidos políticos na oposição. Longe disso. Os partidos na oposição e a sociedade civil no geral influenciam a governação através de identificação de problemas concretos, mas não tem o poder de decisão porque não geram os fundos do país. Os governantes recebem vários imputs vindo da sociedade civil, sobretudo das organizações não-governamentais e universidades que desenvolvem pesquisas objetivas. Tenho reticências sobre o aproveitamento destes trabalhos por aqueles que traçam os planos sectoriais. A falta de emprego para os jovens, a delinquência juvenil, os baixos salários para toda função publica, a perda do poder de compras, a redução do fundo de pensão para os antigos combatentes, a falta de enquadramento de ex-militares na caixa social, a desatualização de categorias dos professores e outros da função publica, um rol de problemas que enfermam a sociedade angolana estão a vista de toda gente de bom senso e de mente sã. Estes problemas começam a trazer situações preocupantes na sociedade.

 

As incubadas convulsões sociais com proclamação de greves em muitos segmentos da sociedade não é um problema dos partidos políticos na oposição. Porque escamotear e esquivar o cerne da questão Sr. Sociólogo. Não precisamos métodos sofisticados para pesquisar os fenómenos/factos e ações sociais, até porque alguns métodos e técnicas de pesquisas utilizadas em sociologia que o Senhor domina por ser sua praia, são os mesmos em áreas afins nalguns casos como é evidente. Os autointitulados intelectuais e professores universitários devem ajudar a sociedade em despertar as consciências para a cidadania e não o contrário. Em angola algumas pessoas com oportunidades de estudar e privilégios de falar nos meios de comunicação social preferem encostar-se e assinar pactos com os poderosos, deixando os fracos a deus dará. Os professores universitários de acordo com os ditames da academia têm de ter qualidades pessoais e profissionais. Ater-me- ia apenas em algumas qualidades pessoais (princípios éticos, sentimento de responsabilidades, espirito de cooperação e de equipe, serenidade e inter-relação com os outros, partilha de conhecimento- chuva de ideias etc..). Estes pronunciamentos do Sr. Dr. Paulo Nganga visam alguns objetivos inconfessos

 

b) Quanto a falta de respeito que o Sr. Dr. João Paulo Nganga protagonizou ao longo do debate da Zimbo quando alguns telespectadores pretendiam partilhar o conhecimento com os mais lúcidos e intelectuais da praça, tenho pouco a comentar. É o vírus de ataques pessoais que tem sido o menu do dia-dia entre partidários de diferentes organizações, sobretudo, entre o partido maioritário e os da oposição. A casa das leis é o exemplo vivo onde os nossos digníssimos deputados do partido que nos governa chamam nomes aos colegas da oposição e em jeito de defesa os da oposição buscam outros nomes feios para qualificar os do partido da situação. Ou seja, é o padrão de convivência que nos é transmitido por aqueles que deviam ser a referência (modelo), para a sociedade, sobretudo para os mais novos que precisam moldar o seu comportamento respeitando as pessoas independentemente do posicionamento social, cultural, religioso etc, ou seja, guiando o seu comportamento com base na ética e na moral. Qualificar os telespectadores de “tolos” num debate televisivo é a todos os títulos irresponsável, nem os sábios e donos das teorias e ciências que vamos buscar para os nossos conhecimentos chegam ao extremo quando está em causa uma contraproposta de uma determinada teoria. Pelo contrário fazem-no com respeito, reconhecimento do outro e humildade acima de tudo. Os métodos de avaliação (teste) de inteligência, tanto quantitativa como qualitativa não se compadece com show da televisão protagonizado pelo ilustre mestre.

 

c) Sobre a previsão dos resultados eleitorais de 2017 e as consequências apontadas pelo nosso Dr. Só ele pode explicar as fontes que sustentam estes pronunciamentos que acho preocupantes. Estamos ansiosos de ver publicado o inquérito ou qualquer instrumento do argumento da razão usado pelo Dr. João Paulo Nganga. Pois, não vejo outra forma de convencer as pessoas que acompanharam os seus pronunciamentos. Como é possível um profissional do “calibre” do Dr. Nganga ariscar afirmações absolutistas sem nenhum instrumento que serve de “muleta” para suas declarações num programa televisivo assistido em todos cantos do mundo, numa fase tão sensível, cujo país está na boca e olho do planeta pelo histórico que carrega.


Alias, a obra “ les enquêtes sociologiques- Theories et pratique”, de Rodolphe Ghiglione e Benjamin Metanol, é claríssima nesta matéria em afirmar o seguinte: « Um inquérito consiste em sustentar um conjunto de discursos individuais, interpretar e generalizar, ou seja, os reduzir a um único discurso»

 

Por outro lado, os mesmos autores afirmam que o inquérito é o instrumento chave de todas as investigações psicossociológicas. Até países com tradições de inquéritos pré- eleitorais realizados por instituições de reconhecida idoneidade e imparcialidade, em nenhum momento os analistas e especialistas das questões eleitorais ariscam induções tendenciosas e absolutistas como o fez o Sr. Dr João Paulo Nganga. Algo não vai bem. O tempo vai provar e o mundo vai testemunhar.

 

d) O respeito das instituições do Estado pelos angolanos evocado insistentemente pelo nosso professor, faz parte do agir ético e do respeito das normas estabelecidas. Portanto, é uma imposição moral independentemente do tipo da sociedade. Qualquer cidadão bem-educado e instruído sabe que deve pautar a sua conduta respeitando a sua família, seus compatriotas, as autoridades e as instituições do país. Agora, o respeito que o Senhor Sociólogo exige aos cidadãos angolanos deve ser recíproco, ou seja, não espera destes cidadãos outro comportamento enquanto haver no país instituições e autoridades que se acham especiais que não respeitam as normas que regulam a sociedade. A suposta falta de respeito das instituições e das autoridades decorre da arrogância, do autoritarismo, da supremacia, da injustiça social, da prepotência, em fim, um rol do agir não ético de algumas autoridades e instituições do estado, estimula o comportamento que o senhor considera como falta de respeito às instituições. Qual será o comportamento de um cidadão que perde a sua casa, demolida por ordem administrativa e não por uma decisão judicial sem indeminização? Já imaginou as consequências psicossociais provocadas por este ato. Este agir de alguns membros do estado angolano causa lutos patológicos em muitas famílias. Há famílias que perdem inclusive, parentes por não suportar o impacto psicológico e social. Estou evitar uma abordagem científica (psicopatológica), para aclarar e facilitar o entendimento das coisas para servir todas pessoas. Acha que isso anima o cidadão a respeitar as instituições que agem a margem da lei, violando alguns direitos consagrados na constituição? Diante destas situações, mesmo as pessoas com problemas mentais (maluco na linguagem popular) não estariam quietinhos e bater palmas aos que destroem as suas moradias conseguidas com sacrifícios. Não porque as pessoas não querem respeitar, isso é de natureza humana, o sofrimento não é aceite por toda gente, sobretudo gente sã. Isso não precisa uma explicação científica, embora a ciência aborda estas questões com propriedade.


Do ponto de vista sociocultural, o Dr. Makuta Nkondo e o Dr. Sediangani Mbimbi estão fartos de explicar esta situação, usando a sabedoria ancestral que explica o seguinte: “o dedo do mais velho só não se afasta quando não é direcionado no olho de quem quer que seja, ou seja, qualquer ser humano consciente não vai permitir um corpo estranho traumatizar o seu olho sob pena de perder a visão”.

 

A forma intransigente como o Senhor Dr. Paulo Nganga coloca o problema, ao ponto de insinuar os partidos políticos na oposição em não participar nas eleições de 2017, por estarem em desacordo com alguns procedimentos sobre o processo do registo eleitoral. Isso dá-nos entender que os cidadãos não tem direito de se indignarem diante de uma instituição do estado que não cumpre o papel pelo qual foi instituído. A indignação faz parte de qualquer ser humano pensante, isso não pode ser motivo de descriminação, ou seja, proibir os que assim agem em participar na vida pública do país.

 

Por outras palavras, nenhum pai espera respeito por parte dos filhos, enquanto este não cumprir com o seu papel. Não podemos ter uma sociedade com moralistas sem moral.

Conclusão

Em ano eleitoral os nossos fazedores da opinião são beliscados e os menos serenos e oportunistas aproveitam para amealhar, deixando os seus admiradores apavorados!

Sugestões

Para aqueles fazedores de opinião que sabem que tem damas a defender, façam-no sem rodeios, evitam a ambivalência nos vossos pronunciamentos para não atrapalhar as pessoas. Sigam o exemplo dos comentaristas desportivos de algumas televisões portuguesas que abertamente defendem os seus clubes, com ou sem razão. Alias, este é o modelo dos fanáticos, sobretudo dos partidos políticos, de algumas agremiações sociais, culturais e económicos.

Parabéns Dr. David Mendes pela profecia

LUANDA, 10 DE MAIO DE 2017

DISIMUA KIAVEWA

Psicólogo Clínico