Luanda - Empresários e trabalhadores chineses em Angola estão há vários meses sem conseguir enviar lucros e remessas para a China, cenário agravado pela crise e com impacto ainda na importação de produtos, informou o presidente da Câmara de Comércio Angola/China.

Fonte: Negocios/Lusa

Em declarações à Lusa, Arnaldo Calado admitiu que a situação tem vindo a merecer atenção das autoridades e instituições financeiras angolanas, tendo em conta a relevância da comunidade chinesa em Angola, igualmente afectada pela falta de divisas e a crise generalizada no país, o maior produtor de petróleo em África.



"Temos dificuldades muito grandes, mas estamos a trabalhar com as autoridades, com o Ministério das Finanças, o Banco Nacional de Angola e mesmo com os bancos comerciais, no sentido de minimizar o impacto que esta medida [limitações no acesso a divisas] tem causado aos empresários chineses, sobretudo na aquisição dos meios de reposição, meios de construção e meios de comercialização", disse.


Estima-se que cerca de 200.000 chineses estejam instalados em Angola e de acordo com a Câmara de Comércio Angola/China mais de 1.000 empresas chinesas operam no país.


De acordo com Arnaldo Calado, as dificuldades no envio de remessas "é ainda pior" para os trabalhadores chineses e já atingiu "níveis de preocupação".



"Estes chineses que vocês estão a ver aí estão todos chateados porque estão há muitos meses sem receber e sem enviar dinheiro para as suas famílias na China, e a níveis que preocupam já, porque eram só os trabalhadores de base. Agora já atingiu outros níveis", explicou.


A China afirmou-se como o principal investidor em Angola, depois do fim da guerra civil naquele país africano, em 2002, tendo concedido nos últimos 10 anos empréstimos e linhas de crédito ao Governo angolano de mais de 15 mil milhões de euros, segundo números oficiais.


Para Arnaldo Calado, é mesmo a linha de crédito de mais de quatro mil milhões de euros que a China atribuiu a Angola em 2015 que, em altura de crise, "está a fazer funcionar" o país.


A prevista abertura em Angola de uma sucursal do Banco da China é para o dirigente outra demonstração do interesse chinês.


"Ter um banco com o calibre como o do Banco da China é uma mais-valia e se vai ter o desempenho e cobrir a expectativa que todos nós criámos à sua volta, isso vai depender de nós, com ideias e transformar as mesmas em negócios. Em suma, o banco vai contribuir para o engrandecimento do empresariado nacional", vaticinou.


A anunciada intenção de reconhecimento mútuo das moedas da China e Angola - mas ainda sem qualquer prazo oficial -, segundo o dirigente, é um caminho que está a ser "explorado minuciosamente", com o propósito de não criar "quaisquer colapsos" no sistema financeiro angolano.


"Porque o sistema financeiro não admite improvisações, uma improvisação poder colapsar todo o sistema angolano, por isso reafirmo a prudência do ministro das Finanças nesse particular. Está a ser muito prudente, tomando medidas de acordo com os passos que se devem dar tempo a tempo", afirmou.


Há um ano à frente dos destinos da Câmara de Comércio Angola/China, o economista angolano disse que, tirando as empresas petrolíferas e diamantíferas angolanas que operam no mercado chinês, encontram-se igualmente naquele país asiático "pequenos escritórios de representação e de actividades comerciais de angolanos".

O responsável recordou ainda que as acções da cooperação chinesa continuam visíveis em Angola e realçou o peso da China na economia angolana.


"Não consigo vislumbrar nos últimos meses nenhuma obra a funcionar sem a presença chinesa, as acções são visíveis em todo território nacional", realçou.