Luanda - ”Houve tortura" e tiros, afirmou Chinguari à DW África, um dos organizadores da manifestação. Os jovens exigiam, este sábado (20.05), no Cacuaco, a libertação de outros sete ativistas condenados a 45 dias de prisão.

Fonte: DW

Manifestação para exigir a libertação de sete ativistas

Chinguari ficou com um braço inflamado e deslocado. Foi o resultado da ação da polícia, este sábado (20.05), no Cacuaco, onde reprimiu uma manifestação de jovens.

 

Segundo um dos organizadores do protesto, pelo menos duas pessoas ficaram feridas e cinco dos manifestantes foram levados pelas forças de segurança.

 

Os jovens manifestaram-se para exigir a libertação de sete outros ativistas que foram condenados, a 19 de abril, pelo tribunal de Cacuaco a penas de 45 dias de prisão efetiva, por resistência às autoridades. De acordo com o secretário-geral do Conselho Nacional dos Ativistas de Angola, os jovens foram ainda condenados a pagar, cada um, multas de 65 mil kwanzas (365 euros).


Na altura, os sete ativistas tentavam manifestar-se contra alegadas irregularidades no processo de registo eleitoral, mas também para alertar para as dificuldades dos jovens do município do Cacuaco, nos arredores de Luanda, nomeadamente a falta de emprego. A DW África entrevistou Chinguari, um dos organizadores da manifestação deste sábado (20.05).

 

DW África: Chegou a haver manifestação ou o protesto foi reprimido logo de início?

Chinguari (C): Houve manifestação, eles reprimiram. Se não houvesse, não havia todo aquele aparato policial, que era muito. Eles reprimiram e não nos deixaram chegar ao local. Não nos deram uma prioridade para darmos uma explicação ao comandante sobre por que é que nos estavamos a manifestar, não nos deram tempo.

DW África: Houve uso de força por parte da polícia?
C: No início da manifestação houve uso da força. Até apareceu o helicópetro da polícia a sobrevoar por cima de nós. Houve tiro, temos as imagens e temos também alguns vídeos. Houve tortura, por exemplo, eu tenho um braço inflamado e deslocado. Temos um colega que fraturou a perna e foi levado para o hospital. Deslocou [a perna] porque caiu num buraco, quando ia a correr por causa do tiroteio. Ao Nito Alves deram-lhe com o cabo da polícia na cabeça. Detiveram cinco [manifestamtes], mas se calhar dois já estão em liberdade. Quanto aos outros três não sei.


DW África: Quantas pessoas estavam aproximadamente no local da manifestação?
C: Concentramo-nos 75 pessoas, mas depois começaram a dispersar-nos. Separámo-nos depois em grupo para ver se nos conseguiamos concentrar na vila.

Aí, começaram a chutar em todo o mundo que se sentou num local público. O nosso objetivo era chegar até à administração. Como a admnistração é perto do tribunal, aí poderiamo-nos concentrar para fazer a manifestação. Eles cercaram aquilo com cavalos, cães, armas e gás lacromogéneo. Só não lançaram gás lacromogéneo. Mas estavam munidos, caso houvesse um protesto em frente do frente do tribunal. Por isso, cercaram-nos para nos começar a deter.

DW África: A manifestação foi autorizada?
C: Nós demos a carta e eles não deram nenhum deferimento. Assim, [entendemos que a manifestação] estava autorizada, pois quem fica calado é porque concordou. Temos "manos" que estão detidos, sete ativistas. Fizemos esta manifestação para exigir a liberdade deles. Provavelmente, na próxima sexta-feira (26.05), vamos fazer uma nova manifestação para exigir a sua liberdade, porque a multa que estão a pedir é muito [alta] e a família não está a conseguir.