Luanda - Mais uma vez temos de voltar à “vaca fria”, do jornalismo e da propaganda, porque ela, como veremos lá mais para frente, faz questão de nos dizer que não vai arredar pé tão cedo da nossa paisagem, pelo menos enquanto não chegarmos ao dia 23 de Agosto de 2017, que podia ser bem mais tarde, permitindo assim que mais alguns largos milhares de jovens que atingem a maioridade este ano pudessem votar.

Fonte: Opais

Depois do 23 de Agosto logo se verá, com a certeza de que a mesma “vaca fria” vai continuar por aí à pastar nas suas calmas ruminantes e a colocar-nos novos e sempre complicados problemas.

 

Alguém que já olhou para os prazos constitucionais, garantiu-nos que as eleições podiam ser convocadas até meados de Setembro, restando agora fazer as contas sobre quantos mais angolanos, dos 85 mil excluídos, este ano poderiam votar pela primeira vez, caso este prazo fosse esticado até ao limite permitido.


Sinceramente e caso a apreciação do nosso interlocutor esteja correcta, não percebemos bem qual foi a razão de tanta pressa em marcar as eleições para a data que já faz parte do calendário oficial.


O ideal seria esticá-la até ao limite, exactamente para permitir que estes largos milhares de excluídos exercessem pela primeira vez o seu direito ao voto.


Não adiantando muito chorar sobre o leite derramado, aqui fica lavrada esta preocupação que chegará, certamente, e por esta via, ao conhecimento de quem de direito, que no mínimo irá anotá-la no seu “note-book” para os devidos efeitos, onde se inclui o “esquecimento”, no âmbito da democracia participativa, onde os cidadãos para já, garantido mesmo, ainda só têm o direito de reclamar.


Já não falta muito tempo para o 23 de Agosto, mas ainda não podemos dizer que é amanhã, porque amanhã ainda vamos estar no mês de Maio, tendo pela frente mais três meses, o que pode ser uma eternidade, sobretudo num país onde esta viagem pelo tempo se costuma fazer aos sobressaltos e sem grandes instrumentos de ajuda à navegação.


Os próprios também já se recusam a dar a sua contribuição mais técnica, para não perderem a sua credibilidade, diante da sempre imprevisível evolução da conjuntura local, que se complica ainda mais quando em causa está a disputa poder.


Se há um momento neste país em que uma boa parte dele começar ter fortes perturbações na qualidade do seu sono, com destaque para as insónias, é esta quando nos aproximamos das eleições.


Sem qualquer dúvida.


Agora por força da democracia que nos foi imposta pela globalização, de acordo com algumas apreciações, todos os cinco anos temos de fazer este exercício renovador/legitimador, por maiores e mais qualificadas maiorias que possamos arrancar desta consulta periódica.


Todos nós já sabemos o que vai acontecer nesse dia, mas dificilmente nesta altura estamos em condições de adiantar como é que vamos lá chegar, tantos são os acidentes/incidentes que se anunciam a ter em conta as promessas das “makas que estamos com elas” e que todos os dias fazem questão de nos informar que vem aí mais uma e ainda mais cabeluda do que a anterior.

A nossa “vaca fria” até já devia estar minimamente esclarecida pois é a mesma que se arrasta penosamente desde as eleições de 2008.


Olhando para os nossos apontamentos de 2012 e comparando com o que se está a passar agora, não vemos grandes diferenças.
As diferenças que existem são muito poucas e apontam na pior direcção, a do agravamento.


Como agravante, este ano está-se a verificar uma ainda maior subordinação do jornalismo à propaganda política, a favor claramente do partido que nos governa há mais de 40 anos e pelos vistos, ainda nem em tese admitiu a hipótese de continuar no poder apenas com uma maioria simples.


A tal ponto as coisas chegaram nesta “aliança”, que o poder judicial está neste momento confrontado e pela primeira vez com uma acção popular ao abrigo do artigo 74 da CRA-2010, onde os requerentes, todos cidadãos ligados a UNITA, exigem que a TPA, a RNA e o Jornal de Angola “se abstenham imediatamente de transmitir em directo as actividades políticas da plataforma político-eleitoral do partido MPLA e seu candidato à Presidente da República, o também Ministro da Defesa, Gen. João Lourenço”.


Exigem ainda que “os órgãos de comunicação social públicos adoptem, doravante, uma posição de equidistância relativo aos partidos políticos e seus candidatos e que cessem em definitivo com o clientelismo político a favor do MPLA e do candidato à presidente da República, Gen. João Lourenço.”


Nesta acção popular, que já foi reforçada com uma providência cautelar, que até hoje ainda não produziu qualquer reacção de quem de direito, os requerentes pedem ainda ao Tribunal para “os órgãos de comunicação social públicos cessem, em definitivo, com as ingerências na vida interna dos partidos políticos, distintos do MPLA, assim como com a promoção de um jornalismo irresponsável, discriminatório e de puro espetáculo público que não serve o interesse público, quer em sentido estrito quanto em sentido amplo.”