Luanda - O país está em suspense porque não se sabe o que vai acontecer exactamente no próximo Sábado. Ou melhor, sabe-se: a UNITA vai jogar mais uma das suas cartadas suicidárias, «soltando as feras» contra a Comissão Nacional Eleitoral por, diz ela, ter contratado irregularmente duas empresas prestadoras de serviço que podem não fazer bom trabalho.

Fonte: OPais

É um argumento simplório, fácil de espalhar por aí como pólvora que depois se liga a um rastilho incendiário. Quando já se vem de suspeição em suspeição, desde o primeiro acto do processo – o registo eleitoral -, o resto é apenas sequência de um mesmo caminho a ser feito, em nome de uma estratégia qualquer que, em política, tem sempre um fim em vista.


São perturbadoras as informações a que O PAÍS teve acesso nesta cruzada anti-CNE que, se tudo acontecer como a UNITA está a desejar que aconteça, descambará em marchas na capital do país, Luanda, e em todas as restantes províncias do país. Afinal a INDRA e a SINFIC tão diabolizadas foram escolhas aprovadas por unanimidade, em reuniões que tiveram os representantes de todos os interessados, incluindo Isaías Chitombi, comissário nacional pelo partido UNITA.


Memorandos e actas de reuniões da Comissão de Avaliação que se constituiu para levar a cabo o concurso público para adjudicação da gestão do Ficheiro Informático de Cidadãos Maiores (FICM), elaboração do mapeamento e dos cadernos eleitorais, material de votação e solução tecnológica para as Eleições Gerais de 23 de Agosto de 2017 são documentos que estão aí, verdadeiras provas de que a UNITA, com as manifestações que agora convoca, passa por cima de compromissos que assumiu em sentido contrário, em encontros marcados pela unanimidade nas decisões.


É isto que seria necessário explicar ao Povo, aos eleitores, aos cidadãos. Dizer claramente que as manifestações são uma forma de rasgar o papel que num primeiro e definitivo momento, foi aprovado por todos, com as assinaturas, uma por uma, dos comissários que integraram a Comissão de Avaliação, onde não faltou, sequer, o assessoramento de técnicos do Tribunal de Contas.


Voltamos a dizer o que nesta coluna referíamos ontem: manifestar-se é um direito estabelecido pela lei, não há mal nenhum em mobilizar pessoas para uma causa e leva-las para a rua. Instrumentaliza-las com verdades que não podem ser provadas porque não existem é que é mau, desonesto e, sobretudo, perigoso.


Não é sério que num dia se diga SIM à INDRA, SIM à SINFIC, com todos a aprovar, e, depois, o discurso é totalmente alterado e o SIM daquela reunião com acta e memorando assinados, deixa de valer e acaba atirado ao cesto de papéis.


Tratando-se de eventos da política em que se joga muito alto, porque estão futuros em causa, essas metamorfoses repentinas não fazem bem às sociedades nem aos seus integrantes.


Os papéis por aí andam, guardados em baús de onde podem saltar para a praça pública, é preciso que se tenha isso em conta. Não se pode esquecer que foi essa mesma Comissão de Avaliação que aprovou a SINFIC e a INDRA que, um dia, reprovou a exclusão da empresa Easy People, Lda, pelas seguintes razões: a)falta de requisitos exigidos nos cadernos de encargos; b)falta de apresentação da caução provisória; c)falta de experiência em processos eleitorais; d)falta de aptidão técnica do seu representante legal; e)apresentação de um preço total anormalmente baixo, cujos justificativos não foram apresentados, nos termos do artigo 83º da Lei dos Contratos Públicos.

A mesma Comissão de Avaliação que aprovou por UNANIMIDADE a admissão da SINFIC por: a) cumprimento dos requisitos exigidos nos cadernos de encargos; b)prestação da caução provisória; c)experiência técnica em processos eleitorais; d) implementação de projectos de sistemas de informação, levantamento de campo e assistência técnica em todo o território nacional; e)representação em todas as províncias. E, também, a INDRA pelas seguintes razões, defendidas na Acta do Acto Público nº 02/CAPCS/CNE/2017: a) mais de 40 anos de experiência; b)mais de quatrocentos eleitorais realizados; c) realizou processos eleitorais em vários países.

Em síntese, a INDRA e a SINFIC são estas empresas. Com um tal percurso e do modo como ganharam os concursos, percebe-se claramente que há uma procura incessante de bodes expiatórios e pretextos quase improváveis para um propósito que é outro: não se treinou para o jogo da grande final ou não se estudou para a prova, então toca a acusar o árbitro de batoteiro e a professora de mazinha…

in O PAÍS | 31 Maio 2017