Luanda - A “grande manifestação” convocada pelo maior partido da oposição para este fim de semana em todo o país resultou num falhanço total em termos de mobilização.

Fonte: Jornal de Angola

"O autor dessa estratégia suicidária  é  o  Adalberto da Costa Júnior"

Os números definitivos ainda não são conhecidos mas a adesão ao chamamento da UNITA de Isaías Samakuva para as manifestações em defesa de eleições livres, justas e transparentes e da legalidade foi muitíssimo fraca. Há quem aponte para quatro mil pessoas em Luanda e um máximo de 1.500 manifestantes em Menongue. Um fracasso para a oposição.


Porquê um fracasso? A responsabilidade deste revés político da histórica formação partidária deve ser assumida por Samakuva enquanto líder da organização, mas no ocorrido estão vários problemas que permitem perceber o que se passa actualmente na UNITA para não ser acompanhada pelo povo. Um deles é que este partido político angolano, e em particular a sua direcção política, não cortou ainda com muitos comportamentos do passado, a começar pela colagem excessiva que mantém à conduta extremamente reprovável de Jonas Savimbi que lançou Angola para uma guerra devastadora e foi duramente criticado pela maioria da comunidade africana e internacional.


Além desse facto está o problema de, apesar de ter muitos quadros altamente qualificados e profissionalmente valiosos e de reunir à sua volta um leque significativo de apoio na sociedade, a UNITA não dar provas de abraçar plenamente o projecto moderno de desenvolvimento económico e social, no qual o país já carrila sem possibilidades de recuar. Ora, quem está por dentro das mais prementes aspirações dos angolanos, incluindo a ala mais crítica, sabe da rejeição que geram os factores de conflitualidade e da simpatia pelos factores ligados à resolução dos problemas das populações e de progresso social imediato. O desfasamento da realidade que se nota na actuação política da UNITA continua, aparentemente, a afastar muita gente do seu círculo de amigos e da sua actuação. A dificuldade que o partido teve em atrair figuras jovens e de outras sensibilidades políticas para integrarem as suas listas eleitorais para o pleito de 23 de Agosto próximo, defraudando as expectativas que criou com grande pompa e apresentando nomes de pessoas que estamos carecas de ouvir falar sem lhes reconhecer prática política positiva, contrasta com a novidade e a renovação evidenciadas nas listas do seu principal concorrente, o MPLA, a começar por ter colocado como cabeça-de-lista alguém que não é o líder máximo do partido, no maior exemplo de maturidade democrática já visto.


Em segundo lugar, e por acréscimo, a credibilidade da UNITA é posta em causa por sucessivos erros de comunicação e de “casting”. A UNITA tem uma acção politicamente previsível. Quem concorre contra ela, já sabe com que contar. As mesmas viagens de sempre de Samakuva e de Sakala a Portugal e Espanha ou a França, Alemanha e Itália, quando estamos em vésperas de eleições, sem levar os jornalistas nem os informar previamente da saída para o exterior do país, criam sempre a ideia de que a liderança da oposição está a ocultar alguma negociata e que, afinal, a defesa que faz da liberdade de imprensa é absolutamente falsa e pura falácia. Associada à feroz campanha de ataques e intimidação que o partido desenvolve actualmente contra os meios de comunicação social públicos, e que no passado antecedeu sempre actos de violência contra os seus profissionais, essa estratégia para conseguir por qualquer meio controlar a linha editorial dos órgãos de Imprensa apenas está a fechar portas ao partido e a abrir inimizades que se reflectem nos momentos de levar a mensagem e mobilizar o eleitorado – como se vê.


O autor dessa estratégia suicidária da UNITA é obviamente o grande “guru” da informação, da comunicação e da imagem que é Adalberto da Costa Júnior, chefe do grupo parlamentar da UNITA. A ele são reconhecidos os dotes de ter controlado durante muitos e longos anos a comunicação social portuguesa e italiana para justificar e garantir o sucesso da empreitada de Savimbi, cuja fidelidade confirmou quando desmentiu a notícia da sua morte em combate, e de os querer aplicar agora em Angola. Ser Adalberto Júnior o encarregado de convocar as manifestações em todo o país para reivindicar que a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) realize um novo concurso público para a contratar as empresas que devem prestar serviços no âmbito das eleições gerais de 23 de Agosto soa a inabilidade. Que se arranjasse outro, talvez fosse melhor o resultado! Daí o erro de “casting”.


O mal está feito e é mau prenúncio para as eleições. Haverá, provavelmente, outras manifestações. O que resta saber é se o fracasso da “grande manifestação” da UNITA deste fim de semana é apenas episódico nos revezes que o partido vai coleccionando ou se é sinal de uma crise dentro do partido que se aprofunda. Sendo uma coisa ou outra, o que se espera é que se assuma a realidade dos factos, em vez de se tentar transformar a Imprensa e os jornalistas em bodes expiatórios.