Luanda - Depois de muito reflectir sobre a realidade do exercício de cargos políticos, públicos e partidários, decidi fazer uma homenagem aos da minha geração (entenda-se os nascidos entre 1975 e 1980 em respeito ao disposto no n.º 1, do artigo 110.º da Constituição da República) que de forma convicta optaram por fazer carreira politica e por isso mesmo são fiéis militantes nos diversos partidos políticos e coligações existentes em Angola.

Fonte: Facebook

Feita esta introdução, volto ao fenómeno MACRON, Sua Excelência Presidente da República da IGUALDADE, LIBERDADE E FRATERNIDADE. Macron foi Secretário – Geral Adjunto da Presidência, passou a Ministro da economia, demitiu-se, formou o Partido “A República em marcha” ganhou as eleições presidenciais e levou o “LRM” à vitória nas legislativas com esmagadora maioria na primeira volta.


Isto seria possível em Angola? A minha constatação, com bastante respeito à opinião alheia, é que não! Se Macron fosse angolano, estaria a envelhecer nas fileiras da juventude do Partido, dando o corpo ao manifesto para defender absurdas opções de governo e até obsoletos pensamentos duma geração que, muitos, tendo já idade para se reformar, quer por decorridos anos de exercício de funções politico-públicas, quer pelo decurso da sua natural idade, teimam e acreditam que ainda têm muito para dar ao país, de resto não constitui novidade neste continente berço.


Se chegasse a Secretário-geral Adjunto da Presidência, dificilmente chegaria a ministro, pois “ainda seria muito jovem para tamanha responsabilidade” e se por alguma varinha mágica, com menos de 40 anos de idade, chegasse a Ministro, então daí não passaria, pois nunca teria coragem de se demitir, sob pena de nunca mais ter “segunda oportunidade” na vida de atingir tal cargo, advertido veementemente pelos familiares e pelos colegas de militância, dado que ninguém se demite por estas terras ou então entender-se-ia como uma afronta aos mais velhos e por isso mesmo voltado ao ostracismo por petulância, vangloria e atentado à disciplina partidária.


Se ainda e contra todos estes apelos “MACRON angolano” se determinasse na demissão, nunca conseguiria formar um Movimento Politico, porque tinha de percorrer o país inteiro para recolher assinaturas e aí sim encontraria fortes entraves dos defensores da “democracia” que iriam impedir a recolha das assinaturas amedrontando aqueles que olhassem com simpatia as intenções do jovem, mas antes disto, iria enfrentar as esburacadas estradas, muitas delas transformadas em autênticas picadas nacionais (depois de terem custado ao erário público enormes fortunas, sem nenhuma cláusula de garantia) pelo país adentro para lhe partirem a viatura que fosse usar para angariar assinaturas e se as recolhesse teria outro enorme desafio ter de convencer a comunicação social pública, a que tem cobertura nacional, para fazer passar a sua mensagem e aí sim, teria enormes dificuldades pois que estes meios não trabalham para o país e para a inclusão, parecem manietados mentalmente por “algemas” e não dariam de certo antena a um cavaleiro da pátria que ousasse criticar o “status quo” da corporação onde militou.


Isto quando não surgissem antigos colegas e da mesma faixa etária dispostos a assumirem o lugar que ocupara ou outro a custo de impropérios contra o ex colega e aí sim “MACRON” antes mesmo de reunir os requisitos necessários e mesmo depois disto, poucos o teriam conhecido, outros escassos teriam a coragem de com ele conversarem em hasta pública. Não conseguiria, decerto, as assinaturas gorando-se a pretensão de concorrer ao que quer que fosse. Restar-lhe-ia apenas abandonar o sonho ou contentar-se por ser “um técnico” muito competente e frustrado no seu sonho de servir mais e melhor a sua pátria e farto de conselhos de que “é preciso ter calma, o teu tempo há-de chegar…” ou “no nosso tempo também tivemos de começar lá em baixo…” quando muito “és muito jovem e tens muita pressa…vá com calma meu jovem…” e quando desse por si, já tinha 50 anos e ainda a ser tratado como jovem…


Portanto se MACRON fosse angolano, com imensa sorte chegaria a Secretário de Estado que na prática manda nada e até o Secretario Geral do Ministério e o Director do gabinete do Ministro mandariam mais do que ele; não sendo não chegaria a Governador, pois aí está lá gente desde os tempos de Comissários provinciais, isto é desde 1975, ou que já tenham “provas dadas”, jovens? Nem pensar! Se fosse jovem e conservasse a sua verticalidade, honestidade e coerência continuaria uma luta interna séria aguardando a melhor oportunidade - que pode durar mais de 25 anos - ou engavetaria os valores todos e se colocava numa luta de cumplicidade no mal, adulações e entradas em “negócios” para ser acomodado num qualquer sítio desde que o fim fosse acumular riquezas aproveitando a conjuntura do país.


Enquanto isso, estes jovens com muito para dar à pátria não chegam à ministros, mesmo estando melhores preparados que muitos que por lá andam; não chegam à Secretários de Estado, em número satisfatório, permitindo um convívio equilibrado entre as gerações; não chegam à Governadores, pois estes, em muitos casos parecem cargos vitalícios, não chegam à Direcção dos Partidos, a não ser por via de representação de jovens, quando o país e o eleitorado é maioritariamente jovem, enfim, chegam a lado nenhum e cinicamente fazendo venha a uns tantos, poucos nuns casos e imensos noutros, que sabem tanto ou pouco do que eles e até com históricos de má gestação ou gestão danosa do erário público e parte destes com reputação abaixo da média e com paternidade de politicas que contribuíram para a degradação do património publico, do sistema de educação e saúde, reinserção e segurança social, entretanto podres de rico.


Aos jovens que se mantém íntegros, verticais e firmes no propósito de bem servir a Pátria têm a minha solidariedade e compreensão, entretanto não se esqueçam que há mais mundo para além da militância politica e partidária e, obviamente “MACRON” em Angola, por enquanto, só em sonhos!
Qualquer semelhança é mera constatação a bem da Pátria!