Luanda - Na antigamente costumava dizer que, “quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras aos dos vizinhos.” Este proverbio ensina-nos a ter cautela em não ofendermos inadvertidamente as outras pessoas. Sempre é aconselhável respeitar os outros de modo que eles possam-nos respeitar também. Pois, na vida é preciso sermos modestos, prudentes e sensatos quando lidamos com outras pessoas. Evitar situações desagradáveis ou perigosas, capazes de comprometer a nossa reputaçao ou o nosso futuro.

Fonte: Club-k.net

Por isso, um homem sensato deve assumir integralmente o seu passado histórico. A nossa identidade, como pessoa colectiva, está ligada estreitamente ao nosso passado, como um espelho, que reflecte a nossa imagem. Não existe o presente sem o passado, e o futuro sem o presente. A vida é um encadeamento constante de actos concretos, que nos permite fazer um juízo dialéctico de uma realidade movente, histórica, concreta e global. Ou seja, a vida desenvolve-se e transforma-se – adaptando-se à cada realidade concreta, numa dinâmica contínua. Jugar isoladamente o passado no presente é uma metafisica que abstrai os elementos isolados de um todo, considerando-os como estáticos e independentes uns dos outros. Ao passo que, a vida é uma teia de arranha. Em função disso, o futuro reside no presente, e este último ilumina o primeiro.

 

Olhando para os aspectos concretos desta reflexão, Angola possui três matrizes sociopolíticas e étnico-culturais distintas. A Primeira Matriz é da União dos Povos do Norte de Angola (UPNA) que se transformou sucessivamente na União dos Povos de Angola (UPA) e na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA). A sua base social e étnico-cultural é Kikongo. A Segunda Matriz é do MPLA, que desenvolveu-se no seio dos mestiços, dos brancos e dos assimilados quimbundos, com ligações fortes ao partido comunista português. A sua base social e étnico-cultural é Quimbundo, Mestiços e Brancos. A Terceira Matriz é da UNITA, que desenvolveu-se das duas matrizes acima referidas, transformando-se numa identidade politico-ideológica. A sua base social e étnico-cultural é Umbundo.

 

Este é o mosaico original da transformação gradual do nacionalismo angolano, cuja entidade sociocultural mante-se intacta, com algumas alterações ligeiras, na sua composição sociológica e étnico-cultural. Pois, no seio dessas matrizes socioculturais verificou-se uma integração relativa de outros povos de Angola em cada uma delas. Mas o cerne do poder político é mantido inalterável sob o controlo absoluto por núcleos internos das bases sociais e étnico-culturais que determinaram a génese destas formações politicas.

 

Portanto, as instituições politicas baseadas nessas matrizes socioideológicas têm dificuldades enormíssimas, quase impossível, de ajustar-se às exigências da realidade actual das sociedades abertas e cosmopolitas. O pluralismo politico, assente nos valores democráticos, na cidadania e na igualdade étnico-cultural e multirracial, exige uma transformação profunda e real, dos partidos tradicionais. O dogmatismo ideológico e o etnocentrismo, não se coaduna com a realidade actual das sociedades modernas, de maioria bantus, da Africa Austral, com grandes mosaicos étnico- culturais. A supremacia de um grupo étnico ou racial sobre os outros é insustentável. Embocando-se sempre em instabilidades internas, em rupturas e em dissidências intrapartidárias.

 

A título de exemplo, no Mês de Maio de 2017, realizou-se em Luanda uma Reunião de cúpula, dos Secretários Gerais dos Antigos Movimentos de Libertação Nacional da Africa Austral, actualmente no poder, nomeadamente: ANC, da Africa do Sul; FRELIMO, de Mozambique; SWAPO, da Namíbia; Chama Cha Mapinduzi, da Tanzânia; e MPLA, de Angola. Nesta Reunião de Luanda, constatou-se que, os «inimigos principais» dos Partidos Nacionalistas, da luta anticolonial, são o «fraccionismo» e a «mudança do regime».

 

Em face desta conjuntura, de dissidências intrapartidárias, esses partidos, decidiram (na reunião de Luanda) reforçar a «doutrina ideológica» na Juventude e a imposição da «disciplina partidária» sobre a sociedade, no sentido de «inviabilizar a cultura democrática» e a «mudança do regime» na Africa Austral. Uma das medidas tomadas nesta reunião da cúpula é dos Governos da Africa Austral adoptar o Modelo Político Chinês, de Partido-Único, adaptando-o à realidade de cada País. Acima disso, bloquear o acesso das Potencias Ocidentais ao Mercado da Africa Austral, rico em recursos naturais, minerais estratégicos e terras vastas para a agricultura e a pecuária.

 

O exposto acima não se conjuga bem com o mundo da globalização, que busca uma maior cooperação internacional e o intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos. Nesta lógica, a inoculação de ideologias dogmáticas não potencia a Juventude no sentido de fazer face aos grandes desafios do mundo contemporâneo. O que exige, neste respeito, enormes investimentos no sistema de educação e na formação técnico-profissional de alta qualidade. Criando Institutos e Centros de Pesquisas, bem apetrechados, com equipas de especialistas de altos níveis. Fazendo investimentos avultados na Juventude, na classe média, na camada intelectual e nas comunidades locais, como sustentáculos de desenvolvimento.

 

Por isso, a nossa Juventude não deve perder tempo com ideologias partidárias caducas, que visam apenas manter a sociedade no obscurantismo, no atraso, na iliteracia, na pobreza e na opressão. Ao passo que, o mundo de hoje, da época contemporânea, aposta-se nas inteligências finas, no empoderamento do Homem, na promoção das comunidades locais, na obtenção de novas tecnologias, na concorrência leal e na cooperação internacional. Por coincidência, o Senhor Isaac dos Anjos, o deposto Governador de Benguela, caracterizou recentemente os «Partidos da Independência» como sendo “muito pesados, com uma química muito forte, sem possibilidade de mudar; como acontece com Benfica e Sporting. Sendo alternativa, o Porto.”

 

Como princípio pessoal, nunca aceitei a ideia de disfarçar a minha identidade política, de ter sido parte integrante dos nacionalistas angolanos, que lutaram contra a colonização portuguesa, sob a Bandeira da UNITA. Portanto, eu conheço bem a cultura dos Partidos Nacionalistas (partidos da independência) angolanos. A Doutrina monopartidária, de exclusão e de intolerância politica, afecta todos eles, quer os que estiverem no Poder, quer os que estão na Oposição.


Importa realçar que, a reconciliação entre esses partidos de independência é impossível. Eles são inimigos declarados e eternos, que excluem-se mutualmente. Eles não aceitam o princípio da mudança do regime. Quando estiverem na oposição utilizam a mudança democrática para apenas alcançar o poder político. Quando o Poder do Estado estiver conquistado aplica-se a mesma Doutrina que consiste na eternização do Poder do Estado.

 

A UNITA, por exemplo, defende a tese segundo qual: “Ela é o único partido que defende o povo angolano.” Fim de citação. Por sua vez, o MPLA defende que, “ele é o único partido capaz de governar Angola.” Estas duas teses, de ser «ÚNICO», contrariam o Conceito da Democracia Multipartidária, assente no Sufrágio Universal e na Alternância do Poder do Estado. O Sufrágio e a Alternância são a «ESSÊNCIA» da Democracia moderna – Multipartidária, Representativa e Participativa.

 

No fundo, quem tem a faca e o queijo na mão para decidir sobre o Poder Público são os Eleitores. Somente eles que tem o poder de decisão de quem governa e de quem representa melhor os seus interesses. Os Partidos Políticos não podem impor a sua vontade e determinar por si só seu estatuto de ser isso ou aquilo. Em função disso, os eleitores devem ser livres e votar em consciência, sem constrangimentos nenhuns. Na verdade, nas democracias genuínas e avançadas, os eleitores apostam-se em ter o equilíbrio político no Parlamento, a fim de poder legislar bem, fiscalizar bem e escrutinar bem o Poder Executivo. O equilíbrio político, neste respeito, constitui a condição sine qua non para a Boa Governação. As maiorias absolutas induzem os países nas ditaduras das maiorias, inibindo assim a democracia.

 

Portanto, o Isaac dos Anjos tem razão na sua articulação, que resultou, como esperava, da sua exoneração – já de imediato. Afirmando assim, a intolerância politica. Na verdade, ergueu-se o muro intransponível que divide a Nação Angolana em dois Campos inimigos e irreconciliáveis, como os Judeus e os Palestinos. Tem-se estado a incutir persistentemente na mente dos angolanos o espirito forte de ódio, de segregação e de revanchismo. Alias, na TV-Zimbo, o General Abílio Khamalatah Numa foi explícito e bastante contundente sobre esta matéria. Pondo a nu a natureza exclusivista do Regime do MPLA. Como vês, são dois polos distintos, bem afastados, de matrizes opostas, mas que se convergiram nas suas ideias sobre esta matéria – em busca da Cidadania Angolana.

 

Por isso, todos os Patriotas, bem esclarecidos, das três escolas de pensamento (matrizes sociopolíticas), acima referidas, reconhecem o imperativo de buscar uma alternativa viável, exequível e sustentável ao status quo presente. É nestes moldes em que a CASA-CE emergirá em 2012, com o propósito de desfazer a cultura segregacionista e a política da partidarização absoluta da Nação Angolana.

 

Em função disso, a CASA-CE nunca vai coibir-se de se defender e de defender os seus Ideais Políticos, acima sublinhados. O Conceito de «Um Só Partido», como um monólito, todo-poderoso, pertence ao passado. A Pluralidade Politica e a Diversidade de Ideias constituem a Filosofia moderna do Mundo Contemporâneo, do Século XXI, do Terceiro Milénio.

LUANDA, 12 de Junho de 2017