Lisboa - O diretor do Programa África do Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido defendeu hoje que o novo Presidente de Angola deve mudar o governador do banco central e o ministro das Finanças.

Fonte: Lusa

"Há uma aguda crise de liquidez, uma significativa crise bancária de acesso a divisas estrangeiras, particularmente dólares, e uma das coisas que João Lourenço deverá fazer rapidamente é mudar o governador do banco central de Angola", disse Alex Vines.

 

Em entrevista à Lusa em Londres, explicou que "não há muita confiança na maneira [João Lourenço] como tem lidado com esta crise", considerando que esta deve ser "uma das suas prioridades, o mesmo acontecendo com o ministro das Finanças, provavelmente, já que são duas posições chave neste processo".

 

Falando à Lusa na sede da Chatham House, o diretor do Africa Programa África desta instituição considerou que "Angola está em fim de ciclo" com a saída de José Eduardo dos Santos e vincou que "o fim deste ciclo, desta dinastia, coloca a questão de quanto poder nos bastidores vai o atual Presidente querer ter e como vai relacionar-se com o seu sucessor".

 

Para Alex Vines, uma boa parte da resposta a esta questão será dada "pela dimensão da vitória do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]", sendo certo que "haverá continuidade, mas também mudança".

 

O que acontece atualmente no país, disse, "é uma paralisação, não há decisões estratégicas e está toda a gente à espera das eleições e do novo Governo", nomeadamente na maior empresa angolana, a Sonangol.

 

"A triste realidade é que a economia angolana está muito dependente do petróleo, não se diversificou, e há sempre a retórica sobre a diversificação, mas o que lhes interessa realmente é o petróleo, por isso uma Sonangol eficiente e reformada é essencial para o desenvolvimento do país", afirmou.

 

Isabel dos Santos, nomeada para presidente da petrolífera no ano passado, "teve um papel importante na reforma da companhia, mas tudo isso agora desacelerou e nada parece acontecer na empresa".

 

Alex Vines disse mesmo que esta situação, comprovada pelo cancelamento da ronda de licitações para um novo bloco no mês passado, teve consequências concretas para os investidores.

 

"Não vou dizer quais são, mas eu sei que há muitos milhões de dólares de investimento de grandes companhias petrolíferas internacionais que estavam reservados para Angola e que agora vão para outro lado", assegurou.

 

Angola ostenta o título de maior produtor de petróleo da África subsaariana, mas "há menos produção da Nigéria e é por isso que é a maior produtora, mas isto pode mudar muito rapidamente se as petrolíferas escolherem investir noutro lado, até porque o petróleo em Angola está a maturar e o cancelamento da licitação mostra que a Sonangol percebeu que não consegue atrair as licitações de que precisa", acrescentou o analista.

 

Sobre a permanência de Isabel dos Santos à frente da empresa após as eleições, Alex Vines considerou que "vai ficar até médio prazo", mas salientou que "uma das frustrações das petrolíferas é que acham que não há quem tenha as mãos no volante".

 

A Sonangol "é demasiado complicada para ser gerida por consultores externos", disse, referindo-se aos serviços de consultoria que a Boston Consulting Group, PwC e Vieira de Almeida prestam à petrolífera angolana.

 

"Não há nenhuma razão para que uma indústria de petróleo competitiva e globalmente eficiente não possa continuar em Angola, com o investimento a entrar e a diversificação para o gás a ser usada de modo mais eficiente", considerou.

 

A empresa "precisa de liderança e de visão, e foi por isso que fui dos poucos a apoiar a nomeação de Isabel dos Santos, porque isso mostrava que o Presidente da República tinha percebido a necessidade de uma mudança a sério, mas as dificuldades do trabalho e a antecipação da saída do Presidente complicaram a capacidade e a força necessárias para uma reforma tão rápida e profunda", concluiu Vines.