Luanda  - Bento Bento, o ex-todo-poderoso 1º secretário do MPLA em Luanda, parece juntar-se ao grosso de elementos do poder que está contra a indicação de João Lourenço para substituir José Eduardo dos Santos como Presidente da República.

Fonte: Club-k.net

Não estando alinhado com o general Zé Maria, o não menos-poderoso chefe dos serviços de inteligência militar, na prática Bento Bento e o general partilham o mesmo sentimento de traição pela decisão de José Eduardo dos Santos não querer continuar como Presidente da República.


O facto de Bento Bento e o general Zé Maria não estarem a actuar em associação, não impede que o veterano general que nunca foi maquisard (veio do exército colonial) o incentive naquilo que já chamam de “movimento dos injustiçados” e que será, ao que se diz, liderado pelo antigo homem forte do MPLA em Luanda.


De acordo com fontes próximas, os “injustiçados” seriam um grupo de dirigentes do MPLA, do governo, das forças armadas e outras estruturas que sempre foram fiéis ao Presidente José Eduardo mas que por razões que atribuem à intriga e à conspiração viram-se afastados do poder.


Este grupo, cuja liderança é atribuída a Bento Bento, estava a organizar uma mega manifestação, como diziam, “jamais vista em Angola”, para pressionar o Presidente da República a voltar atrás na sua intenção de abandonar o cargo. Os preparativos estavam bem avançados e contavam com o apoio moral e financeiro de vários indefectíveis de Zé Dú, entre eles membros da sua própria família.


A morte do mais velho Avelino dos Santos veio complicar as pretensões dos “injustiçados” uma vez que forçou José Eduardo dos Santos a suspender o tratamento médico em Barcelona (Espanha) e a regressar não totalmente curado e até desmaiou no óbito do irmão, o “movimento dos injustiçados” decidiu adiar a manifestação.


A ideia inicial era promover essa manifestação no regresso normal de José Eduardo dos Santos de Espanha, clinicamente melhor sendo recebido em apoteose com o slogan já ensaiado de “Zé Dú não sai, fica” engendrado por Jesuino Silva, o braço direito de Bento Bento no MPLA na capital também afastado.


Bento Bento mobilizou todas as organizações que supervisionava enquanto 1º secretário do MPLA em Luanda, desde o Movimento Nacional Espontâneo, a Amangola, Ajapraz e outras associações, contando com a colaboração dos seus homens de campo, os chamados cabos eleitorais/milícias, que conduziam nos bairros as orientações de Bento Bento na perseguição dos elementos da oposição, usando preferencialmente a violência.


Mas não foi só raia miúda e as milícias que Bento Bento aliado ao outro Bento conseguiu mobilizar. Eles conseguiram captar apoiantes da causa até no círculo familiar do PR, e em diversas estruturas da Cidade Alta, do governo, parlamento, forças armadas, polícia e da justiça, quase todos a temerem o fim dos mandatos.

Gorado os intentos, com a decisão de JES de abandonar o cargo, sobretudo por questões de saúde, o “movimento dos injustiçados” não se desmobilizou. Tem estado a trabalhar nos bastidores em dois sentidos: publicamente aceitam o candidato João Lourenço, mas na retaguarda vão conspirando e procurando organizar-se o mais possível para lhe fazer frente.


Pelo meio vão largando comentários contra a figura do candidato, incentivando as fugas de informação sobre alegados negócios de João Lourenço para o envolver no esquema da corrupção, mas as baterias estão apontadas para o pós- 23 de Agosto, quando forem conhecidos os resultados das eleições gerais.


Bento Bento, em surdina, vai criticando a capacidade mobilizadora do general Higino Carneiro, apesar deste ter sido seu padrinho de casamento em terceiras ou quartas núpcias. Critica o padrinho por ter afastado os seus cabos eleitorais/milicianos e vaticina uma vitória apertada ou mesmo derrota do MPLA em Luanda.


Nos comentários que faz, vai comparando as mobilizações actuais do MPLA com as do seu reinado em que “punha mais de um milhão de pessoas”, diz arfando. “Desde quando a UNITA iria fazer aquela manifestação e não teria troco?”, diz. Segundo fontes próximas, cita também o comício do 10 de Dezembro no estádio 11 de Novembro, onde era suposto o Presidente aparecer para apresentar o candidato João Lourenço e que, à última hora, decidiu não ir porque, de acordo com Bento Bento ( que também não foi visto), não tinham conseguido encher o estádio, havendo bastantes clareiras nas bancadas. “ No meu tempo isso seria impossível e o 11 de Novembro não seria o lugar ideal porque não suporta os milhões que eu mobilizava”, gaba-se.


Verdade ou mentira, o facto é que José Eduardo dos Santos não foi mesmo ao acto dos 60 anos do MPLA mas no dia seguinte esteve tranquilinho no campo dos Coqueiros a assistir uma partida de futebol entre velhas guardas de Angola e Moçambique…

Bento Bento e os demais membros dos “injustiçados” estão à espera dos resultados de Agosto, mas têm uma estratégia já em articulação para o congresso extraordinário que o MPLA deverá fazer para oficializar a saída de José Eduardo dos Santos e a confirmação de João Lourenço.


A estratégia passa por tornar o congresso aberto não apenas para eleições dos cargos de presidente e vice-presidente mas de um novo Comité Central onde eles contam poder manobrar e exercer influência para depois pressionar a liderança de João Lourenço.


Mas Bento Bento esquece-se que não foi “apenas” o estado lastimoso como deixou a governação provincial, com a cidade capital mergulhada num mar de lixo e doenças, fornecimento de energia e água sem qualquer plano e ausência de saneamento (“saneamento não dá votos”-, como dizia inúmeras vezes nas reuniões), uma gestão ruinosa do património público em beneficio próprio e de familiares e amigos que o levou a sair dos seus castelos da Mutamba e da Vila Alice.


Foi, sobretudo, a transformação do comité provincial do MPLA de Luanda num quase outro partido político em que ele era o rei e senhor, em descoordenação quase absoluta com as estruturas centrais do partido no poder a ponto de só responder às orientações do líder.


Ele que foi queimando governadores provinciais, atrás de governadores, desde a Francisca do Espírito Santo, até ser ele mesmo a assumir a direcção total de Luanda.


Nas críticas que vai deixando ao seu padrinho Higino Carneiro, Bento Bento incluiu o apagamento dos comités de especialidade e dos próprios CAP’s do MPLA dizendo que no seu mandato “funcionavam à sério”.


Bento Bento no meio dos seus apoiantes questiona a actividade de Higino Carneiro à frente do MPLA e na governação de Luanda: “Entrou cheio de peito e agora anda aonde que ninguém lhe vê, logo agora que estamos perto das eleições?”, interroga para justificar o “desaparecimento” de HC dos holofotes, insinuando que, “se calhar, também faz parte do nosso grupo, pois ele queria ser o candidato a vice-presidente da República”.

Atirado para o vale dos caídos num apagado lugar de terceiro vice-presidente da Assembleia Nacional (alguém se lembra de o ter ouvido falar uma única vez sequer?), Bento Bento faz gala de parecer que nada mudou no seu beliscado prestígio continuando a mexer os cordelinhos nos bastidores graças a teia de influências que montou e a promessa de novos tempos.
Para isso faz recurso aos enormes bens imobiliários que açambarcou quer no Kilamba, no Nova Vida e, sobretudo, nos Zangos, para distribuir benesses e comprar fidelidades em muitos sectores, desde a polícia, justiça e milicianos, passando pelas concubinas.