Lisboa - Uma equipa do estatal Banco de Poupança e Crédito (BPC), o maior banco angolano, está a manter contactos em quatro capitais europeias, incluindo Lisboa, para restabelecer a "curto prazo" ligações com bancos correspondentes e o acesso a divisas.

Fonte: Lusa

De acordo com informação do BPC, enviada à Lusa, a equipa, que além de Portugal tem, desde segunda-feira, reuniões com representantes de bancos em Espanha, França e Alemanha, é liderada pelo próprio presidente do conselho de administração, Ricardo Viegas d'Abreu.

 

As reuniões no âmbito deste "road-show" prolongam-se até 19 de junho e pretendem permitir "retomar a curto prazo as relações institucionais com os bancos correspondentes", essencial para o país ter acesso a divisas.

 

"Queremos demonstrar aos responsáveis financeiros e empresariais alemães, franceses, espanhóis e portugueses, com quem vamos reunir, que o BPC está focado na eficácia comercial e na eficiência operativa do negócio e nos resultados daqui resultantes", explicou Ricardo Viegas d'Abreu.


Angola enfrenta desde finais de 2014 uma crise financeira e económica, com a forte quebra das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade.

 

Esta conjuntura levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.

 

Além disso, devido à suspensão de acordos com bancos estrangeiros para correspondentes bancários para compra de dólares, por problemas de 'compliance', desde 2016 que a banca angolana apenas consegue comprar divisas ao BNA, no caso euros, como explicou em abril o governador do banco central.

 

"Não poderíamos ter o azar de os bancos correspondentes deixarem de fazer operações em euros. E havia este risco. Já perdemos as operações em dólares. Se perdêssemos as operações em euros era uma catástrofe para Angola, porque Angola deixaria de importar medicamentos, alimentação e todos os outros produtos necessários", disse Valter Filipe.

 

A Lusa noticiou a 31 de maio que o BPC fechou 2016 com um prejuízo de 29,5 mil milhões de kwanzas (159,1 milhões de euros).

 

As contas do banco, o maior do país e em processo de reestruturação devido à elevada carteira de crédito malparado, superior a 1,2 mil milhões de euros, foram aprovadas em assembleia-geral e contrastam com o resultado positivo em 8,3 mil milhões de kwanzas (44,7 milhões de euros) em 2015.

 

Na informação enviada à Lusa, o BPC justificou na altura o resultado líquido negativo com as "decisões assumidas pelo atual conselho de administração", de constituir 72,7 mil milhões de kwanzas (392,2 milhões de euros) para "imparidades e provisões" do exercício de 2016.

 

Ou seja, refletindo nas contas uma perda potencial ou efetiva de quase 400 milhões de euros em créditos concedidos anteriormente.

 

"Esta iniciativa será reforçada em 2017, com o intuito de assegurar o saneamento efetivo da carteira de crédito do banco e atingir um rácio de transformação abaixo dos 70,0%", refere ainda o BPC, liderado desde março por Ricardo d'Abreu (presidente do conselho de administração), antigo vice-governador do Banco Nacional de Angola.

 

Esta medida foi acompanhada de um reforço dos fundos próprios do banco pelos acionistas, em 26,9%, face a 2015, passando para 171,9 mil milhões de kwanzas (927,4 milhões de euros), enquanto os custos administrativos aumentaram num ano 38,5%, para 67,5 mil milhões de kwanzas (364 milhões de euros).

 

O Estado angolano é acionista do BPC, através do Ministério das Finanças (75%), do Instituto Nacional de Segurança Social (15%) e da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (10%), que suportaram na proporção da sua participação o financiamento do aumento de capital do banco.