Luanda - Gostava de saber quem terá visto, ao vivo e a cores, o Presidente da República, desde que ele supostamente voltou de Barcelona? Quem teve uma audiência, pública ou privada, com ele? Quem despachou com o Chefe de Estado pessoalmente? Quem viu e falou com JES por estes dias? De onde aparecem os projectos de lei fantasmagóricos do MPLA sobre o Presidente Emérito ou a manutenção das Chefias Militares e Segurança?

Fonte: Club-k.net

Dito de outro modo: o Presidente ainda preside? Ou alguma camarilha palaciana tomou o poder de facto e aproveita-se da doença/debilidade presidencial para tomar o controlo do país?


Não venham as carpideiras do costume, filhas do Presidente, indignar-se com as especulações acerca do pai. Não estamos a falar do pai, mas do Presidente da República e de quem detém o poder em Luanda. Historicamente, não seria a primeira vez que uma camarilha se aproveitaria da debilidade de um Presidente para exercer o poder.


Nos democráticos Estados Unidos da América tal aconteceu com o Presidente Woodrow Wilson, hoje famoso por ter criado a Liga das Nações, antecedente da ONU, e ter vencido a Primeira Guerra Mundial em 1918. Em 1919, o presidente Woodrow Wilson sofreu um grave acidente vascular cerebral que o deixou incapacitado até o fim da sua presidência em 1921.


Neste ponto, um encobrimento começou, liderado pelo seu médico, o Dr. Grayson e pela segunda mulher do presidente, Edith. Quando o Dr. Grayson informou o gabinete, surgiu a questão da sucessão, mas ele recusou-se a assinar qualquer nota oficial de deficiência, não permitindo que o Vice-Presidente tomasse o poder. Ele também desencorajou que o público conhecesse a extensão da condição médica do presidente. Durante esse período, a mulher do Presidente foi muito mais do que uma Primeira Dama, tornou-se a titular do poder executivo da nação até ao fim do segundo mandato de seu marido, concluído em Março de 1921. Hoje diz-se que durante esse período (Outubro de 1919 e Março de 1921) os Estados Unidos tiveram um Presidente secreto.


É esta a situação que poderá estar a acontecer em Angola. Ao encobrir-se a real situação de saúde do Presidente está a permitir-se que alguém tome efectivamente o poder em Luanda e oriente o governo no sentido da manutenção do status quo. (situação actual vigente).


Repare-se que os últimos tempos têm sido férteis em acontecimentos: as já referidas leis que criam a figura de Presidente Emérito e retiram a possibilidade ao futuro Presidente de nomear as chefias militares e de segurança, indiciam a institucionalização da presidência bicéfala em que JES será uma espécie de back-seat driver (condutor de banco traseiro) que orientará o Presidente novo. O novo caso patético contra Rafael Marques que parece uma resposta angolana aos casos judiciais em Portugal que despontam contra a elite: Manuel Vicente, Kopelipa ou Tchizé.


Este caso parece tentar propôr na arena pública uma espécie de trade-off (troca), “nós desistimos dos processos contra Rafael Marques em Angola, se desistirem dos processos contra nós em Portugal”.


Estes factos indiciam que existe um aproveitamento das forças mais conservadoras do poder que procuram manter JES como Presidente efectivo, apesar (ou por causa) da sua doença e que querem pressionar a justiça.


Há que ter muita atenção, pois pode estar em curso um golpe de estado “secreto” em Luanda.