Luanda - As redes sociais são sede da maior central de informação angolana que trabalha vinte e quatro horas por dia, todos os dias da semana, durante o ano de forma ininterrupta e gratuita e produz um universo de informação que nos vai acendendo a indignação e a preocupação. As conversas cruzadas provam o vazio institucional que se instalou entre nós, sobre questões de Estado mas que a todos os cidadãos dizem respeito pela sua dimensão e consequências.

Fonte: Correio Angolense

Estamos a atravessar um momento de descoordenação total no que à governação diz respeito e minha preocupação vai para além da “questão jurídica”. É a Nação que está a navegar “sem” timoneiro e refiro-me às acções descoordenadas, às contradições grosseiras das propostas, à urgência da aprovação de decretos “fast-food”, que é confrangedora pelo que revela. Não há informação institucional que nos acalme a preocupação.


É tudo tão atabalhoado, com tantas informações contraditórias, com netos e filhas a fazerem o papel de porta-vozes, com imagens de arquivo a serem publicadas por “leais militantes” na internet, com indiferença pela preocupação genuína do povo. A questão é muito mais profunda do que muitos querem fazer passar por uma “normalidade” administrativa.


A grande questão que se coloca é, de facto, quem é que está a mandar neste país? Porque os constantes recuos são indicativos de que falta maturidade e autoridade aos proponentes. O momento é confuso e propício a todas as interpretações. A saúde do Presidente da República está a ser colocada em praça pública de forma cruel, porque quem quer que seja que devia dar a versão real e oficial enfiou a cabeça na terra.


Os angolanos não são insensíveis e estão aptos a perceber e aceitar que, como qualquer ser humano, o Presidente da República pode ficar doente e tem o direito a fazer o seu tratamento em paz e sem ter que se esconder. O que é desagradável e causa instabilidade é o vazio, a intriga, a falsa notícia, a mentira, a meia-verdade medíocre, a sonegação e a infantilidade com que o assunto está a ser conduzido.


"A grande questão que se coloca é, de facto, quem é que está a mandar neste país? Porque os constantes recuos são indicativos de que falta maturidade e autoridade aos proponentes. O momento é confuso e propício a todas as interpretações."


Estamos num momento crucial da nossa História. Um ciclo está a fechar-se e outro vai começar, independentemente do partido que ganhe as eleições. Mas ao mesmo tempo, o país atravessa o seu pior momento em tempo de paz, com uma enorme crise económica cujas dores mais profundas ainda não foram todas sentidas. Os próximos anos serão de desgaste face à incapacidade de se fazer o milagre das rosas quando nem sequer se plantou o jardim. Os atropelos para controlar o “futuro”, por parte de quem já pertence ao passado, são a novidade do momento e parecem não ter fim. Não se compreende a intenção de blindar o país para as próximas legislaturas, tentando negar a possibilidade do próximo Presidente cumprir cabalmente as funções de Comandante-em-Chefe pelo impedimento de deliberar sobre a nomeação ou exoneração das chefias militares e policiais, trazidas por um presente envenenado que, felizmente, ainda não foi aceite.


A minha esperança, no meio disto tudo, é que com urgência surja um político, daqueles em quem ainda não se instalou nem o musgo da longevidade administrativa, nem a perda de uma visão para Angola assente nos afectos. Um político que traga uma lufada de ar fresco, que renove as esperanças e que não se comprometa com caminhos que já não fazem sentido. Um político que seja consequente, que sirva em vez de ser servido e que permita que a sua energia contagie e galvanize membros de igual conteúdo ético, dentro da nossa sociedade, para que em conjunto se salve o país. Não vamos a lado nenhum mantendo a mesma performance, com actores que não inovam, que não são audazes na defesa da nossa integridade em todos os sentidos e que trazem programas megalómanos que não atendem ao essencial, as pessoas.


Angola merece estar noutro patamar de credibilidade e de progresso social. Merece a nossa coragem para defendermos primeiro a Pátria. Porque, em verdade, é a Pátria que se está a desmembrar.