Lisboa - A administração da Sonangol, liderada pela empresária Isabel dos Santos, responsabiliza a gestão anterior pela situação da petrolífera estatal angolana, em processo de reestruturação, nomeadamente pela "inacção" ao lidar com a quebra nas receitas a partir de 2015.

Fonte: Negocios

A posição surge numa abordagem ao contexto actual da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) no seu relatório e contas de 2016, apresentado esta semana, e que enfatiza as consequências da "redução estrutural do preço do petróleo" desde finais de 2014.

 

O cenário de "redução acentuada de receitas da Sonangol não foi acompanhado, quer em 2015 quer no primeiro semestre de 2016, por uma redução de custos nem por uma revisão da estratégia de investimento" da empresa.

 

"Esta inacção conduziu a uma situação difícil perante os credores internacionais, reduzindo a capacidade de obter novos financiamentos, fundamentais para a sustentabilidade das operações e para a manutenção dos níveis de produção", lê-se no relatório e contas da empresa.

 

A administração da Sonangol era liderada desde 2012, até à nomeação (Junho de 2016) de Isabel dos Santos pelo chefe de Estado, por Francisco de Lemos José Maria, que por sua vez sucedeu a Manuel Vicente, eleito então vice-Presidente da República.

 

As críticas à gestão anterior já tinham sido feitas directamente por Isabel dos Santos em Dezembro último, quando, em conferência de imprensa, anunciou que a petrolífera angolana precisava de uma reestruturação financeira e de 1.569 milhões de dólares (1.476 milhões de euros) para fazer face às necessidades de pagamentos.

 

Após uma análise às contas da petrolífera, Isabel dos Santos afirmou mesmo que a situação da Sonangol "é bastante mais grave do que o cenário inicialmente delineado", obrigando a "decisões de gestão com carácter de urgência".

 

Ao nível dos Recursos Humanos, a administração de Isabel dos Santos, conforme relatório e contas de 2016, refere que foi identificado um sobredimensionamento da estrutura, com cerca de 22 mil pessoas ligadas ao grupo Sonangol, com cerca de 8.000 colaboradores activos e mais de 1.100 colaboradores não activos, "que representam um custo anual superior a 40 milhões de dólares".

 

A avaliação da situação da empresa concluiu anda que pela existência de "diversas lacunas operacionais, organizativas e processuais que se reflectiram numa situação financeira critica que importava corrigir".

 

"Do ponto de vista financeiro foram detectadas inconsistências na informação financeira, com falta de controlo sobre várias participações financeiras, tendo ficado, adicionalmente, evidente a necessidade da reestruturação financeira da empresa para conseguir cumprir com os compromissos de divida anteriormente assumidos", enfatiza o relatório e contas.

 

Além disso, na componente organizativa foi concluído que o modelo em vigor conta com um "número elevado de camadas hierárquicas", o que "dificulta a tomada de decisão e reduz a rapidez de resposta aos desafios do mercado".

 

"Da análise levada a cabo ficou claro que os desafios que se colocam à empresa resultam não só da queda do preço do petróleo, mas, fundamentalmente, de políticas de gestão e financeiras pouco alinhadas com as melhores práticas internacionais e que carecem de revisão profunda de forma a assegurar a sustentabilidade futura da empresa", lê-se no documento.

 

Para tentar reverter este cenário, a empresa tem em curso, desde o final de 2016, uma nova estratégia de médio prazo, no âmbito do programa de transformação da Sonangol.

 

Ao nível da redução de custos, o programa Sonalight, centrado na despesa com fornecimentos e serviços externos, via negociação de contratos, já identificou 1,2 mil milhões de dólares e "permitiu a implementação de mais de 315 milhões de dólares de poupanças anuais", parte das quais em 2016.

 

O resultado líquido consolidado da Sonangol em 2016 foi de 13.282 milhões de kwanzas (70,5 milhões de euros), uma quebra de 72% face ao exercício de 2015, "como resultado de uma diminuição nos resultados financeiros e nos resultados de filiais e associadas", reconhece a petrolífera, no seu relatório e contas.