Luanda - Faz hoje 7 dias que perdi uma das pessoas que mais influenciou a minha vida, do ponto de vista familiar, económico, cívico e político: a minha querida avó Josefa Luís Neto, que viveu até aos 95 anos de idade. Ao longo desta caminhada, esteve sempre presente nos momentos mais felizes e mais tristes da minha vida (quando perdi o meu pai José e o meu avô José, ela esteve presente, na minha queima das fitas, ela foi até a "Coimbra dos Doutores", para ver a neta conquistar mais uma realização académica; quando subi ao altar do Senhor para casar, lá estava ela orgulhosa, por estar a fazer aquilo que sempre me pediu, quando fui mãe do meu Zezinho, ela foi até Pretória conhecer o seu bisneto e ficou muito feliz por saber que iria chamar-se José Luís (dizia ela que se fosse menina teria o seu nome, mas como veio um menino era igualmente "seu xará").

Fonte: Facebook

Há no entanto três episódios que testemunhei com a minha avó que quero partilhar com os meus facekambas.


O primeiro aconteceu quando o MPLA fez 50 anos e o seu Presidente enviou uma condecoração partidária a título póstumo a minha avó estando ela na altura com 84 anos de idade(Dezembro de 2006), quando mostrou-me a referida moldura, disse-lhe que como ela era de 1922, ano do Manguxi, eles pensaram que já tivera falecido , ela ria e dizia, que se estavam a governar o país também com esse erros, a água e a luz iriam demorar muito para ser uma realidade nas nossas casas. Até a data da morte dela, cerca de onze anos depois, nunca veio um pedido de desculpas, nem a retificação do erro.

 

O segundo episódio aconteceu em 2010, sendo ela militante do MPLA, antiga combatente, presa política da PIDE-DGS, estava com receio da sua reação quando soubesse da minha simpatia pela UNITA. Com os seus 88 anos na altura, era um risco fazer algo que não lhe agradasse, mesmo assim enchi-me de coragem e disse a minha avó que iria trabalhar com o Presidente Samavuka e possivelmente me tornaria membro da UNITA, ela olhou para mim e no alto da sua sapiência disse-me o seguinte: na minha barriga saíram os do MPLA, FNLA, PDA (referindo-se ao seu primogénito querido Alberto Neto), PRS, se agora sair para a UNITA, não há problema minha neta, somos todos angolanos, força! Foi a primeira da família a saber e esse foi nosso segredo durante quase um ano!!!


O último episódio foi depois do dia 3 de Junho de 2017, quando o Zezinho e eu fomos visitá-la juntos pela última vez e o meu filho, que gosta de dar o relatório das actividades disse a bisavó o seguinte: Bisa, a mama foi "na manufestação" e falou fora "currutos" (ele ainda não consegue dizer corruptos) e fazia os gestos que os manifestantes fazem quando se manifestam em prol de uma causa. A minha avó ria e dizia, a semente da cidadania está lançada (ao contrário de outras pessoas da família que dizem, não ensina estas coisas ao miúdo, ela pelo contrário defendia que é de pequenino que se deve moldar o bom cristão e o bom cidadão).


Ela dizia sempre: Cuidem da Igreja, pois era cristã, Cuidem da Nação, porque era nacionalista, e por último parecia querer dizer Cuidem da Família, pois várias vezes dizia que ela era do nosso sangue e gostava da expressão SÓ VALE QUEM TEM, referindo-se à família, sobretudo aqueles que a visitavam.


A minha avó partiu e vai deixar muita saudade, mas sei que apesar de tudo foi uma grande mulher, cristã, lutadora, matriarca, nacionalista, cidadã, comprometida com a verdade e acima de tudo influenciou sobremaneira a minha vida!!!!


Nga sakidila Mama Vefa.
Que Deus te guarde até ao nosso reencontro!!!