Luanda - E esta, hein?! No âmbito das suas funções como estadista ou como líder partidário, o Presidente José Eduardo dos Santos já foi enganado muitas vezes e obrigado a fazer papéis incríveis. Inaugurações, por exemplo, de obras inacabadas passaram a figurar no ror de coisas normais e corriqueiras.

Fonte: CA

Já ninguém liga. Por isso, ninguém ligou que, há 13 anos, ele tenha homenageado, a título póstumo, alguém que não morrera, por serviços prestados na luta de libertação nacional.

 

A personalidade assim distinguida antes de morrer foi a anciã Josefa Luís António Neto, mãe de duas conhecidas figuras do nacionalismo angolano, os irmãos Luís Neto Kiambata, antigo assessor de José Eduardo dos Santos, e António Alberto Neto, líder do extinto Partido Democrático Angolano e terceiro candidato a Presidente da República mais votado nas eleições de 1992.

 

Na altura da insólita condecoração, Josefa Neto tinha 88 anos de idade. A anciã faleceu apenas este mês, no dia 3, na cidade de Luanda, já com 95 anos, sendo caso para cogitar se não terá sido a bizarra homenagem de que foi alvo a prolongar-lhe a vida por mais treze anos. Quem sabe?

 

Estes factos foram dados a conhecer por Alberto Neto em mensagem online que enviou ao juiz-conselheiro do Tribunal Constitucional Raul Araújo, em resposta de agradecimento às condolências que este lhe endereçara.

 

“Há treze anos atrás a minha falecida mãe deu-me a conhecer e a ler um diploma do MPLA, assinado pelo Presidente Engº José Eduardo dos Santos, no qual ela era homenageada a título póstumo, pelos serviços prestados na luta de libertação nacional. Não é isso estranho? Uma vez que nessa altura a minha mãe, Josefa Luís António Neto, ainda estava viva com a idade de 88 anos...” – diz Alberto Neto no e-mail enviado a Raul Carlos Vasques Araújo e ao qual o Correio Angolense teve acesso.

 

O episódio ilustra igualmente as contradições e desacertos em que tem incorrido o MPLA, que nesse capítulo do reconhecimento às figuras da libertação não sabe bem a quantas anda. É capaz de homenagear mortos que não morreram e, noutros casos, condecorar quem não tenha lutado por este país.

 

Mas, no caso da anciã Josefa Luís Neto, a história, pelo menos, comprova o seu contributo pela emancipação e autodeterminação de Angola. De acordo com relato feito por Luís Neto Kiambata, documentos da PIDE arquivados na Torre do Tombo, em Lisboa, atestam que Josefa Neto integrou um grupo de cerca de vinte mulheres detidas pela PIDE/DGS na cadeia de São Paulo em Luanda, em 1968.



Na prisão, segundo relata Kiambata, elas foram alvo de brutais interrogatórios, “muitas delas a altas horas da noite”.

 

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