Menongue - UNITA e FNLA dizem que a convivência entre os militantes das diferentes forças partidárias está minada. Há militantes feridos e bandeiras dos partidos retiradas, afirmam.

Fonte: DW

A oposição política na província do Cuando Cubango, no extremo sudeste de Angola, queixa-se de falta de coabitação política. Os dois partidos históricos, União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), dizem que a convivência entre os militantes das diferentes forças partidárias está minada. Por exemplo, há militantes feridos e bandeiras dos partidos retiradas.


Joaquim Sapondo, secretário provincial da UNITA para Organização no Cuando Cubango, diz que os números provam a falta de coabitação política: há registo de 17 militantes feridos em quezílias, 20 detenções arbitrárias, dois jangos queimados – construções feitas de paus e cobertos de capim - entre outros atos que classifica de intolerância política. Afirmando que "a reconciliação é difícil", este responsável afirma que, de 2013 a 2017, o seu partido registou a retirada de 192 bandeiras do Cuando Cubango .


As queixas repetem-se também no seio do FNLA. De acordo com Celestino Cassumina, 2º secretário provincial do Cuando Cubango deste partido, têm existido dificuldades. "Até agora não conseguimos meter comités noutros bairros porque somos sempre impedidos. Até os sobas (chefes tradicionais) impedem que haja outros partidos, porque são influenciados pelo partido no poder”, explica.


Benedito Daniel, cabeça de lista do Partido da Renovação Social (PRS) às eleições de 23 de agosto, esteve recentemente na província do Cuando Cubango. Além de apresentar o seu manifesto eleitoral, constatou a realidade de alguns municípios.


Na localidade do Ndumbo, por exemplo, o político ouviu relatos de alegada exclusão. É que, na aldeia, foi construído um Comité do MPLA com chafariz no seu interior e só os militantes estão autorizados a beneficiar do projeto.


Os cidadãos pertencentes a outras forças políticas socorrem-se do rio Tchicilo para conseguir água. Em comício, Benedito Daniel condenou o que chamou de política de exclusão social. Afirmando que "a intolerância política também é um retrocesso", o cabeça de lista do PRS às próximas eleições, acrescenta que "os angolanos estão condenados a viver como angolanos. Podem ter diversidades, podem ter diferenças de opinião, mas estão condenados a viver em conjunto”.

Progressos só para alguns


Antes do final do conflito armado, as pessoas referiam-se ao Cuando Cubango como "terras do fim do mundo”. Quinze anos depois, ergueu-se dos escombros. No entanto, na opinião de Celestino Cassumina, político da FNLA, o progresso é visível apenas "dentro da capital do município sede". "Noutros municípios ainda não há este progresso”, constata.


Joaquim Sapondo partilha da mesma opinião. Segundo este secretário provincial da UNITA, "dos 4345 quilómetros de extensão de estrada que liga todos os municípios, apenas 445 estradas estão asfaltadas”.


A DW África tentou ouvir as autoridades governamentais do Cuando Cubango, mas sem sucesso.