Luanda - Vivemos numa sociedade com uma grande implantação da religião, sobretudo a cristã e muitos dos seus cidadãos se identificam com uma das muitas igrejas espalhadas pelo país. As motivações que levam muitos às igrejas são variadas, não sendo este o tópico deste artigo.

Fonte: Club-k.net

A importância da igreja na educação moral e ética da sociedade é indiscutível. Aliás, se recorrermos à história, facilmente poderemos concluir que a religião jogou um papel fundamental no tipo de organização e sentido de justiça nas sociedades ocidentais.

 

Entre nós, é lamentável ver que as lideranças de muitas igrejas parecem estar mais preocupadas com o poder do que com o próprio evangelho. Muitos pastores, bispos, reverendos e padres passaram a ser verdadeiros mobilizadores políticos. Estes têm mais prazer em aparecer em encontros públicos e formais com governantes do que em serem servidores da “causa divina”.

 

Ora vejamos senhores líderes religiosos, vois que sois emissários de Deus, me respondam o seguinte:

 

Se Jesus ou mesmo algum dos seus apóstolos estivesse diante de um governante Angolano, qual seria a conversa entre eles? Eu acredito que aqueles governantes teriam duas escolhas, ou mudariam o seu comportamento e a forma como gerem os bens do país, ou então seria a última vez que os dois estariam frente a frente. Porque cristo e os seus apóstolos não eram hipócritas e não se preocupavam com a aprovação de homens e chamavam o pecado pelo seu nome (Mateus 19:16-22, Mateus 3:7-8, Actos 8:20-23).

 

Os nossos líderes religiosos também têm testemunhado a forma como muitos se têm enriquecido ilicitamente enquanto os cidadãos (muitos deles crentes de suas congregações) morrem em hospitais por falta de medicamentos, crianças estudam em situações deploráveis e as obras públicas são feitas com baixa qualidade por culpa da corrupção. Os líderes vão aos eventos com governantes e gestores públicos, sorriem, tiram fotos e voltam para as suas casas como se tudo estivesse às mil maravilhas. Que desafio deixam a esses governantes e gestores púbicos? Alguns, nas entrevistas que concedem à imprensa, até podem ser confundidos com os militantes activos!

 

O pastor e activista cívico Martin Luther King, Jr, numas das suas célebres frases disse: “o que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem carácter, dos sem ética... o que me preocupa é o silêncio dos bons.”

 

A bíblia nos retrata que a única vez que Jesus esteve diante de uma autoridade governamental foi no dia do seu julgamento (João 19:33-38) e mesmo assim não se acovardou diante de Pilatos. Ele manteve as suas convicções. De igual modo, os apóstolos desafiaram as autoridades judaicas e mantiveram-se firmes nas suas convicções, e estavam prontos a darem as suas vidas por aquilo que acreditavam (Actos 4:19-21, Actos 5:28-29).

 

Muitos pastores prostram-se diante do poder político por recearem que os projetos de expansão das suas igrejas sejam dificultadas pelas autoridades. Mas o que estes pastores se esquecem é que Deus não precisa de templos para ser adorado. Mesmo debaixo de árvores ele é adorado e não é por isso que o evangelho há de parar. Alías, os sermões mais famosos de Jesus Cristo não foram pregados em templos, mas sim no deserto, nas montanhas, junto ao mar e nas casas de crentes.

 

Sim, somos um Estado laico, mas alguém que se acha ser um homem ou uma mulher ao serviço de Deus não pode se calar diante das injustiças.

 

Sabendo que as nossas igrejas têm simpatizantes e apoiantes das diferentes forças políticas, não é correcto que os senhores estejam a fazer pronunciamentos que indiciem a mobilização para o voto a favor de um determinado partido. Nesta altura da pré-campanha e durante a campanha, não usem os vossos templos para fazer política.

 

Os senhores devem perguntar-se, se as igrejas estão sempre cheias todos os Domingos, então porque estamos a perder os nossos valores morais e éticos? A razão é que muitos pseudo líderes religiosos deixaram de pregar o evangelho. Substituindo-o com o poder terrestre, com a luxúria, com a reputação e o bom nome. O foco está virado para eles próprios e no seu bem-estar (Ezequiel 34:2-6).

 

As vezes tenho o pressentimento que muitos líderes não estão realmente preocupados com a melhoria das condições de vida no país, porque somente assim poderão continuar a ter muitas almas desesperadas e carentes em suas igrejas. Porque o evangelho da prosperidade e da benção parecer ser a única mensagem de muitas igrejas hoje. O que eles esquecem é que a pobreza extrema é inimiga da própria salvação, uma vez que onde existem muitas necessidades, há maior propensão à inveja, brigas, ciúme, calúnia e outros males que a Bíblia retrata como sendo pecado (Gálatas 5:19-21). Por essa razão, os primeiros cristãos partilhavam tudo o que tinham entre eles, para que ninguém entre eles passasse por necessidades (Actos 4:32). Por mais projectos sociais que as igrejas implementem, elas nunca serão capazes de erradicar a pobreza no país. Somente o Estado o pode fazer. É por essa razão que os governantes devem sentir a pressão de toda a sociedade e a igreja deve sempre falar em nome dos pobres. Quando assim proceder, é normal que haja antagonismo entre ela e os governantes. A harmonia existente entre as igrejas e o Estado, num país com níveis de corrupção tão altos como o nosso, é uma prova clara que alguns líderes deixaram de pregar a justiça e a verdade.

 

Ainda bem que, embora poucos, ainda vemos alguns líderes que não vendem as suas convicções.

 

Cada um deve lutar na sua trincheira para que tenhamos um país mais justo e onde todos os seus filhos tenham um nível de vida aceitável. Que Deus abençoe a Nossa Pátria!