Luanda - Vítima de doença que, pela segunda vez em menos de dois meses o levou a Barcelona para tratamento médico, o Presidente Eduardo dos Santos será o grande ausente da campanha eleitoral que se inicia amanhã em Angola. O seu estado de saúde, considerado muito reservados tem sido gerido pelas autoridades como “segredo de estado” .

*Gustavo Costa
Fonte: Expreso

No entanto, e segundo apurou o Expresso, um eventual impedimento temporário de o Presidente angolano para exercer, a partir de agora o cargo, não condicionará a realização das eleições previstas para 23 de Agosto.

 

Na grelha de partida estarão cinco partidos e uma coligação que durante a pré-campanha eleitoral assistiram à irrupção política de João Lourenço, vice presidente do MPLA como o mais sério candidato à sucessão de Eduardo dos Santos.

 

Tido como o principal alvo a abater pela oposição, o afastamento de Eduardo dos Santos da corrida presidencial está a obrigar os seus adversários a realinharem a estratégia eleitoral. Até porque a oposição tem de enfrentar um partido que dispõe de uma máquina organizativa bem oleada, que beneficia de poderosos apoios do Estado.

 

“Os órgão de comunicação social públicos estendem todos os dias a passadeira ao MPLA” – diz Herculano de Oliveira, professor universitário. O surgimento de João Lourenço como rosto de uma nova geração, perante o desgaste do regime, está a ser vista pela corrente renovadora do MPLA como uma porta aberta para a sua regeneração.

 

“Colocando o combate à corrupção na linha da frente das suas preocupações pode ser que o espectro da abstenção, que ameaçava essas eleições, venha a reduzir-se” – sustenta aquele médico.

 

É certo que as eleições de 23 de Agosto podem vir a marcar um ponto de viragem na vida dos angolanos mas estes continuam a ver as mudanças com muitas reservas. É certo também que antes ter regressado esta semana ao país, Eduardo dos Santos fez saber que deverá antecipar a saída da liderança do MPLA, abandonando a tentativa de imposição de um poder bicéfalo, publicamente criticado por Lopo do Nascimento, dirigente histórico daquele partido.

FIM DO EDUARDISMO?

Na prática, há dúvidas sobre se, a partir de Setembro, se assistirá. ou não, ao fim de 38 anos de “eduardismo”. Apesar de Eduardo dos Santos já ter anunciado a sua reforma política, os seus últimos actos de governação estão a mergulhar o país nalguma perplexidade política. “ Quer sair mas parece ambicionar ficar” . É assim que um antigo dirigente do MPLA caracteriza as várias jogadas de bastidores que o Presidente tem estado a encetar e que agora, culminaram na apresentação de um decreto-lei que lhe confere poderes para, a um mês das eleições, aprovar a nomeação das chefias dos serviços de informações e da policia.

 

Esta decisão, vista como uma forma criticável de Eduardo dos Santos pretender manter a estrutura securitária sob seu controlo, está a levantar uma onda de críticas em diversos círculos da sociedade civil.

 

A sua popularidade, que está a atingir agora os níveis mais baixos de sempre, já sofrera um duro revés depois de ter visto ser chumbada a tentativa de outorga do estatuto de “Presidente Emérito”.

 

Esta proposta, que ameaçava dividir o MPLA, não escapou a uma contundente advertência da filha mais velha do Presidente Agostinho Neto. “Angola não pode depender de um só homem” – disse Irene Neto, que recusou voltar a integrar a lista de deputados do MPLA.

 

Mas não é só no plano político que a margem de manobra de quem vier a suceder Eduardo dos Santos, começa a ficar apertada. Sem ter à partida o controlo da Sonangol e do Fundo Soberano que permanecerão nas mãos dos filhos de Eduardo dos Santos, o sector dos diamantes ficará também fora da alçada do próximo Presidente.

SINAIS DE DERIVA FINANCEIRA

A um mês das eleições são cada vez mais preocupantes os sinais de deriva financeira instalada nalguns organismos do Estado. Só em Julho foram assinados contratos avaliados em mais de 1000 milhões de dólares!

 

“Está à vista que José Eduardo dos Santos quer manietar quem lhe vier a suceder e isso não podemos aceitar” – desabafou, sob anonimato, um alto dirigente do MPLA próximo de João Lourenço, que promete vir a introduzir “um novo estilo de governação” em Angola.