Luanda - Os engraxadores da baixa de Luanda estão a ser obrigados a fazer limpeza nas esquadras. Os jovens são intimidados e levados quase todos os dias pelos agentes de divisão dos distritos da Maianga, Ingombotas e Sambizanga.

Fonte: NJ
CPL.jpg - 33.73 kbHá já dois anos que a história se repete, com humilhações, violência e falta de respeito, acusam os jovens, que dizem ainda ter-se tornado vítimas dos agentes da Polícia Nacional.

Manuel Augusto, residente no bairro dos Ossos, explicou ao Novo Jornal Online que normalmente os agentes da Policia Nacional aparecem no período da manhã e ao final do dia.

"Quando vêm, os agentes mandam-nos entrar à força no carro. Quem reclamar é logo espancado. Durante a semana passada quando saía do centro da cidade para a casa, fui recolhido por uma patrulha do Comando de Divisão do Sambizanga. Eles levaram-me para a esquadra e mandaram-me lavar toda loiça do refeitório, limpar as casas-de-banho e lavar os carros", acusa.

Augusto disse ainda que muitas vezes são obrigados a passar duas noites na esquadra para fazer a limpeza das instalações: "Somos mandados com porretes nas costas. Tenho um amigo que ficou uma semana na cela por não aceitar fazer os trabalhos que os polícias queriam", contou.

No distrito da Ingombota, a situação não é diferente. O Novo Jornal Online deparou-se com sete engraxadores, uns a trabalhar, outros preocupados a controlar a polícia.

Revoltado com a situação, Vasco Santos, de 22 anos, disse que a situação é antiga e que muitos dos agentes que patrulham aquela zona, para além de os deterem, ainda lhes retiram os pertences.

"Já não sabemos o que fazer com esta perseguição policial. Há duas semanas, estivemos detidos sem saber porquê. Eles disseram-nos para informarmos as nossas famílias que estamos detidos e avisá-los para trazerem três a quatro mil Kwanzas para nos soltarem", explicou, sublinhando que havia adolescentes de 16 e 17 anos, de nacionalidade congolesa, entre os detidos.

"Os dois congoleses também são engraxadores. Os familiares deles foram obrigados a pagar sete mil Kwanzas por cada um para serem libertados", afirmou.

"Para além de engraxador, também comercializo pacotes de Whisky. Quando os agentes de Divisão da Maianga me levaram, ficaram com tudo o que eu trazia comigo. Meterem a mão no meu bolso, tiraram todo o dinheiro, dividiram-no logo e depois beberam os pacotes de Whisky", frisou.

Perante esta situação, o Novo Jornal Online contactou o inspector chefe Mateus Rodrigues, porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Policia Nacional (PN), que reconhece que o mesmo não passa de abuso de autoridade por parte dos agentes.

"A polícia trabalha no âmbito do combate à criminalidade e não a importunar e intimidar jovens. Quando estas coisas acontecem, os jovens devem denunciar e processar estes agentes. E remata: A isto chama-se abuso de autoridade".