Luanda - Tem-se assistido nos últimos dias fortes atributos de uma “incompetência antecipada” quase absoluta da oposição angolana, alertando-se que caso tomem o poder deixarão o país num labirinto potencialmente irrecuperável, o que, de certo modo, talvez, como se tem apregoado, deveria se optar sempre pelos “caminhos já conhecidos.”

Fonte: Club-k.net

Foi assim em 1968 aquando de pronunciamentos de Portugal para libertar as colónias, dizendo que caso isso acontecesse, os africanos teriam um obstáculo incessante por falta de um número suficiente de assimilados para darem continuidade ao progresso que as então colónias tinham granjeado. Foi assim também que em 1986 o regime do Apartheid na África do Sul (minorias brancas) lançou o famigerado signo “os pretos não sabem se governar, dêem-lhes armas que se vão matar uns aos outros.” Mas o apartheid não leu que o problema das armas é social e não racial. Hoje, essas profecias discriminalistas dos colonialistas e apartheístas caíram soterradas e, são hoje na verdade os antes menosprezados “pretos” a comandar os seus destinos, embora uns melhores que os outros, o que não é um caso exclusivo da raça.


Acresce-se também o facto de que, em Angola nasce também esse fantasma (que é mais notável em épocas eleitorais) em que certos sectores da sociedade já com alguma reconhecida responsabilidade, têm apelado aos cidadãos a não pautarem pelos caminhos da “incerteza” enquanto existem um que já deu luz verde (embora ao fundo do túnel).

 

Sim, há lógica na verborreia dessa natureza para fins de campanha e disputa concorrencial, já que para ganhar votos a instrumentalização das mentes é também uma táctica viável. Mas que espectro nos dá na arena da consolidação da nossa democracia se forem as igrejas ou outros sectores apartidários que alertam o povo a essa reflexão? – Ora, bem nós sabemos que esta é uma insinuação falsa e demagógica. Mas a grande preocupação é que a maioria das pessoas crê com toda fidelidade nesses apelos, criando desvios nas opções, concluindo mesmo em certas vezes que deve-se insistir nos mesmos caminhos até ao destino (fatal?) apesar de por vezes haver uma fissura que permita ser usada para sair do obscuro e respirar o ar puro. Os que percebem que as coisas não são assim, olham para o seu número e se respondem: são a minoria e não irão mudar o que querem. Então, novos fracassos começam a nascer!

Não existe uma forma universal de governação nem mesmo um modelo consensualmente global. Entretanto, sempre que os objectivos falham por inúmeras vezes, demolindo as aspirações e abatendo cinicamente as esperanças de grandes maiorias, as mudanças são sempre necessárias e esta é a mensagem. A atribuição antecipada de um certificado de incompetência governativa aos partidos da oposição angolana é um certo acto de intolerância e demagogia extrema. A oposição não é simplesmente uma organização em que fora dela se ache um vazio; ela é um feixe com representação em todos os níveis da sociedade. Através de seus quadros, a oposição política angolana está em todos sectores estruturantes da vida pública: nos hospitais, educação, forças de segurança e defesa, comércio, finanças, produção diversa, etc. etc. Se formos a ver, seus representantes com altas categorias são uns dos melhores destaques na esfera de desempenho patriótico e profissional. Eis ali a razão de que ninguém irá aprender a governar quando não aceder ao poder governativo através de uma oportunidade concedida pelo povo; também não iniciará a traçar uma agenda já governando, pois que quem chega ao poder, implementa a sua estratégia, pois ninguém lá vai sem um princípio orientador.


É por essa razão que a sociedade precisa despir-se desse fantasma sobre uma incompetência sem ainda tê-la por experiência. A única força da qual já se sabe sobre seus pontos bons e maus é aquela que alguma vez já exerceu seu poder. Das outras, vê-se nos documentos (pilares de base), nas promessas (aliciantes?) lá constantes, assim como se viu nas propostas que nos guiaram até hoje, onde confiávamos fielmente por esperar cumprimento seriamente comprometido: infelizmente a grande maioria dessas promessas nunca deixou de sair do papel e hoje ficou tudo na história, justificações e no final, silenciamento eterno. É preciso experimentar uma nova força que saiba tratar todos como um só povo de Cabinda ao Cunene (como se dizia em 1975); uma organização política que não nos classifique severamente pela militância partidária, mas somente pela cidadania; uma força que não persiga pessoas que pensem diferente, ou em que aqueles que pensam diferente não o façam sob a cultura do medo e receio de ser raptados; um governo que não somente trabalhe para todos, como também possa trabalhar com todos, contando com as reais capacidades dos filhos da Pátria; é preciso um governo sério, comprometido com o povo, que preste contas ao povo quando não cumprir alguma promessa; um governo que saiba reconhecer que a insatisfação popular é sua culpa e não razão da violência; um governo enfim, que saiba respeitar o povo e sentir-se seu servidor. Porém, até hoje, 42 anos depois da Independência, o povo angolano ainda anda a procura desse tipo de governo que nunca chegou para realizar o tão almejado sonho da sociedade. Mesmo assim, ainda vamos tentar encontrá-lo dentro das urnas no próximo dia 23 de Agosto.
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Felisberto Ndunduma Sakutchatcha