Brasil - Fala-se tanto da segurança do atual presidente depois que o mesmo terminar o seu mandato. Para um homem tido como bom, educado, ponderado e menos oportunista que o resto da turma que tem o privilégio de nos governar, o ideal seria lutar para se estabelecer um sistema legal que desse segurança a todo “mundo” e a nação inteira. Afinal, todos precisamos de segurança, hoje e amanhã. Fazer leis direcionadas para sicrano ou fulano é a prova do egoísmo escancarado que caracteriza o regime de JES, que hoje os angolanos já não têm porque orgulhar-se do mesmo. Ao contrário têm motivos suficientes para viverem, acordarem e dormirem, desconfiados deste e do ninho de aranhas que se ergueu nos últimos trinta anos.

O País das Aranhas (II)

Um estado sério e responsável faz leis para dar segurança a todos os cidadãos consoantes as suas responsabilidades, méritos, obrigações e deveres; e tudo em benefício da Administração Pública ou da Nação inteira. Se JES merece um seguro depois de terminar o seu mandato porque governou o país ao longo de trinta anos, derrotou Jonas Savimbi e viu agonizar Holden Roberto em seus últimos dias, dando-lhe um tratamento cínico, já que esse bem merecia, como então ficarão as multidões de pessoas que ao longo dessas três décadas apoiaram o mesmo JES e o MPLA, forjando e sustentando a unidade de uma nação? Acaso esse povo que apoio JES e o MPLA não merecem uma proteção especial? Por que quê o barco pode afundar com todos sem o JES, acaso a população angolana não merece ter um “seguro”? Essas perguntas não se tem em conta porque se habitou a pensar de maneira oportunista e irresponsável, é a típica crença egocêntrica de que uns têm mais direitos do que os outros; quando na verdade a distribuição de deveres e obrigações sempre foi distribuída entre aqueles que menos condições tinham para se defender de uma guerra, para se defenderem da pobreza e hoje defenderem -se da corrupção e da arbitrariedade da administração pública, que quando governa e distribui benefícios, distribui e governa para poucos. O “seguro” que o simples cidadão precisa é de que o estado faça das leis que fabrica o instrumento de soberania em que todos estejam sob a mesma sem excluir ninguém, sem discriminar quem quer que seja.

Assim, se JES quer segurança depois que um dia chegar a ser ex-Presidente deve enviar um projeto de lei à Assembleia Legislativa e esperar que o mesmo seja aprovado, um projeto que dê segurança política e financeira a todos aqueles que um dia diretamente ou indiretamente tiveram o mérito de servir ao Estado Angolano tendo em conta as suas responsabilidades e cargos. Não podemos aceitar que em nome dessa segurança pós-presidencial, JES, se redistribuía o patrimônio público a parentes e amigos; faça-se do patrimônio público e do tráfico de influência assim como da falsidade ideológica a recompensa que o mesmo deve receber como gratidão dos trinta anos de governação. É bom que se saiba que esse povo, a nação, não devem nada a ninguém, e para ser concreto e honesto, é tudo o contrário do que se tem pensado e calculado por aí.

A verdade é que a posição de JES como líder, se é líder, é segura, mas contestável. Se o problema é segurança ele não precisa de elogios excessivos e ser venerado como muitos têm feito por aí. JES precisa de se redefinir, é ele que tem que mostrar trabalho, é ele que tem que agradar a esse povo pelo que faz no terreno. É ele e o seu governo que tem que convencer a todos de que o estado é sério e competente, está presente na vida de cada cidadão, mostrando transparência nos atos públicos. E fazer com que o estado angolano deixe de ser o ninho de aranhas construído ao longo dos 27 anos por ele mesmo e pela turma que aí está ao seu lado; e deixe de ser um estado que perdeu a confiança do cidadão, porque fingi que existe para esse, mas perdeu a capacidade de ouvir o clamor deste quando se trata de denuncias contra a corrupção. A desculpa é sempre a mesma: não existem provas. -É verdade, somos civilizados, até prova serem encontradas ninguém podem ser julgado e muito menos condenado. Mas sabe-se que ir atrás das provas necessárias é o tipo de procedimento que esse executivo aí em nome da bondade, de uma compreensão inexplicável e de uma suposta figura enigmática faz-se do país um país sem regras e leis; transforma-se a nação numa nação de idiotas pendurados em suas respectivas teias de aranhas onde dar-se bem na vida depende, assim, da boa vontade de quem está em cima. Em poucas palavras, o executivo angolano, e o sistema judiciário que temos, sempre tiveram dificuldades de ir atrás de provas quando se trata de corrupção, de ir atrás do nepotismo, do tráfico de influência, da gastança sem limite de quem acha que pode gastar mais que os outros e fazer do patrimônio público a água da banheira de luxo onde o mesmo deve tomar o seu banho diário sem pensar nos milhões ou milhares de cidadãos que passam fome nesse país.E é aí onde esbarra a falta de simplicidade dessa gente, para quem um dia-segundo dizem- até recebeu o voto do difundo para chegar onde hoje está; talvez treinado por este ( o falecido Presidente Agostinho Neto) e visto por este como seu verdadeiro sucessor.

Todos aprendemos na escola que as boas relações numa sociedade só encontram equilíbrio quando todos estivermos dispostos e preparados para respeitar as leis. O que significa que até o perdão a ser dado aos corruptos e dilapidadores do patrimônio público deve ser definido por lei e não pela bondade de um homem, querendo em todos os momentos fazer-se passar por um deus que tudo perdoa e compreende. E esperando que a gratidão do perdão venha como uma religião a ser defendida e criada; religião defendida e criada da forma como só um servo na pele do Dr. João Pinto saberia defender e criar!

Qualquer sociedade, família e individuo têm dever e obrigação de preservar sua obra, erguida ao longo de sua história, principalmente quando ela transcende o necessário para glorificar quem quer que seja. O insensato no decorrer de qualquer trajetória histórica é acreditar e ver que qualquer evento sucessivo que o presente e o futuro anseiam pode constituir o túmulo daquilo que deve ser preservado, tornando nulo tudo o que já se fez ou até se tem feito. José Eduardo Dos Santos pode ser o combatente que tenha participado em todas as batalhas e ganhado todas elas: herói dos 14 anos de luta armada contra o colonialismo português, no Congo, nas florestas do Maiombe, no CIR, nas chanas do Leste; acompanhante vitorioso de Agostinho Neto, quando Luanda e o resto do país suspirou o primeiro grito de liberdade; Comandante em Chefe das Forças Armadas de um exército vitorioso que derrubou o exército racista do regime do apartheid, vencedor da Batalha do Cuito Kuanavale , o homem que pulverizou a Jamba, enfim, e outras batalha por aí . Merecedor da ordem ou ordens que esse país jamais ofereceu a alguém.

Mas uma coisa é certa, que não devemos ignorar, ou tentar tampar a visão com os cinco ou os dez dedos das mãos e ainda aberta; é de que o nosso herói perdeu a batalha contra a corrupção, e é preciso reconhecer que isso é tão humano quanto ganhar qualquer uma daquelas batalhas mencionadas acima; e humano ainda é estar a altura de reconhecer que uma outra pessoa pode estar a altura, existe e deve estar preparado para enfrentar a batalha da corrupção. O que o nosso herói tem que fazer é dar espaço e oportunidades para que os outros trabalhem, como ele que no passado alguém lhe deu oportunidades e confiança para chegar aonde chegou, outros com potencial inquestionável precisam participar nesta nova frente; a frente de combate contra a corrupção e contra todos os vícios que o Estado Angolano gerou ao longo destes trinta anos, desde que saibam dividir o êxito com toda a comunidade, essa comunidade que pode mesmo significar a nação inteira. Parece que a nossa ideia neste parágrafo foi bem explícita e é a de dizer ao mais alto mandatário da nação( A Vossa Excelência) que está envenenado ou inoculado com o veneno da aranha: as aranhas venenosas de que estão infestada todo o sistema ou o atual regime que o Senhor ajuda a sustentar. E pelo que temos conhecimento o Senhor não tem como vencer essa batalha, ela se tornou mais forte que Vossa Excelência!

Ainda assim somos de opinião que nem tudo está perdido, mas se quiser continuar a ser líder, que proponha ao MPLA o retorno às suas verdadeiras origens e não ter vergonha do passado e evitar que esse partido seja uma falsa no tempo. Evitar que esse partido seja um instrumentos dos grupos reacionários que vivem esperando o momento adequado para se banquetearem do poder, quando esse ceder o mesmo, ou o Senhor cansar-se do mesmo. Retornar as suas origens não é sinônimo de se regressar ao velho regime comunista mono partidário. Mas é ver no socialismo a alternativa a ser construída usando o regime democrático e o estado de direito como instrumento de transparência necessária que ajude a envolver todos os grupos sociais e classes na reconstrução e construção do país, tendo em conta todas as formas de propriedades possíveis: a propriedade pública, a coletiva, a propriedade privada e a bem chamada propriedade mista. Sem se esquecer que todas elas têm função social, devem ser respeitada e bem delimitada, sem a tradicional confusão que temos assistido por aí. E por último, mas a principal de todas, dar mais poderes e liberdades ao cidadão, porque afinal é ele o grande objetivo desse Estado e o da Nação inteira. É nele que deve recair o seguro que a nação deve oferecer para todos! E não nos grupos privilegiados que compõem a está teia de aranha.

O País das Aranhas (I)

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* Nelo de Carvalho, Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Fonte: WWW.blog.comunidades.net/nelo