Luanda - Mais de trinta vozes contam em uníssono - "31... 32... 33... 34" - no refeitório da Universidade Católica de Angola, em Luanda, à medida que a "mesa" acaba de concluir uma simulação de voto e os "eleitores" irrompem em aplausos com o resultado.

Fonte: Lusa

A iniciativa "E se hoje fosse 23 de Agosto?" pertenceu ao Laboratório de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Católica de Angola (UCAN) e visava "familiarizar os eleitores com o ambiente do local de voto e com os procedimentos a seguir" no dia da votação, disse a docente Cesaltina Abreu.

"Penso que há um quadro geral de falta de familiaridade com o ato de votar. A vida associativa é muito pobre e não há autarquias e instâncias nas áreas de residência a partir das quais as pessoas pudessem ser chamadas a votar", disse à Lusa a professora da UCAN Cesaltina Abreu, organizadora da iniciativa e também membro do Observatório Eleitoral Angolano.

Muitas das mais de cem pessoas que acorreram à simulação de voto - entre alunos, professores e funcionários - vão votar pela primeira vez nas eleições gerais angolanas de 23 de agosto, marcadas pela ausência do Presidente José Eduardo dos Santos do lugar de cabeça de lista do MPLA, partido que está no poder desde a independência de Angola, em 1975.


As dúvidas eram muitas. Uma pessoa cega pode votar com ajuda de alguém da mesa eleitoral? Quais são as regras para a presença de símbolos políticos perto da Assembleia de voto? Pode-se mexer na urna antes do fim da votação?

As formadoras explicaram os oito passos da votação - desde a apresentação do cartão eleitoral, passando pela dobragem do boletim até à sinalização do indicador com tinta preta - e explicaram os deveres dos eleitores no momento de exercerem o seu direito. Vários alunos simularam o voto de pessoas com deficiência (e que precisam de ajuda para votar) para que todos saibam que só podem ser ajudadas por uma pessoa de confiança ou a quem tenham dado a sua autorização expressa.

Eunice, uma estudante de 21 anos, achou estranha a indicação de vestir de cores neutras em dia eleitoral, um conselho das formadoras para que os eleitores não se apresentem nas mesas de voto com as cores dos partidos candidatos.

Tal como Eunice, Helton Carlos também vai votar pela primeira vez. Tem 19 anos e estuda Direito na UCAN.

"É importante porque para nós, que nunca votámos, é um pré-voto e ajuda para que no momento mesmo não fiquemos meio 'tontos' [em frente à mesa de voto]. Assim já temos uma antevisão do que vai ser", contou o estudante à Lusa.

Supervisor da área de segurança da universidade, Costa Kajiba controla as filas de alunos que aparecem "para votar". Traz vestida uma camisola da ASCOFA, a associação de apoio aos combatentes das ex-FAPLA (o braço armado do MPLA) e nota-se-lhe as maneiras militares.

Também veio "votar" no simulacro de hoje, porque "as pessoas precisam sempre de aprender".

"Não acredito muito que estas eleições venham a ser justas, mas se empregarmos a fundo o que acabámos de ver nesta simulação, se cumprirmos com rigor, alguma verdade poderá sobressair. Se os votos forem mesmo contados na Assembleia [de voto] e os resultados afixados ali, onde nós votamos, acho que vai ser muito diferente em relação aos outros anos", afirmou o veterano.

Nesse caso, salientou, "o MPLA pode não sair vencedor".

Com a "mesa de voto" encerrada veio a parte que todos esperavam, ainda que a menos importante, conhecer o "vencedor".

O primeiro voto foi para o MPLA, o segundo também, mas no final a CASA-CE acabou por "vencer" a simulação, com 34 votos, contra os 26 da UNITA, os 12 do MPLA, dois para a FLNA, dois para o APN e um para o PRS. Registaram-se ainda dois votos nulos e dois votos em branco.

Os "eleitores" aplaudiam ou apupavam cada voto a ser contado pela mesa e no final um aplauso de festa para o "vencedor" simulado.

Angola realiza eleições gerais a 23 de agosto, nas quais se elege o novo parlamento, o novo presidente e o vice-presidente.

O cabeça de lista do partido no poder há 42 anos, o MPLA, é o ministro da Defesa, João Lourenço. O cabeça de lista do partido mais votado sucederá a José Eduardo dos Santos, há cerca de 38 anos no poder.