Luanda - A campanha eleitoral termina dentro de uma semana. Mas já pode dizer-se que, ao contrário do que, talvez, esperavam os mais crédulos, a oposição angolana manteve-se igual a si própria, não se mostrando capaz de alterar substancialmente a correlação de forças existente.

Fonte: Jornal de Angola

Há, certamente, várias razões para isso, mas a principal é a dificuldade dos partidos da oposição de mudarem a sua natureza mais profunda e o seu perfil tradicional, para além das “novidades” cosméticas que algumas delas alardeiam.

Quem esteve atento, sobretudo, ao mais recente período da campanha é forçado a chegar a uma conclusão: a oposição não muda. Portanto, como é que poderá realizar as mudanças positivas que a sociedade espera? Tais mudanças são muito diferentes do ajuste de contas com o passado, do oportunístico “agora é a nossa vez”, da vingança confessada sem pudor ou da intenção de “destruir para (supostamente) construir de novo”.


Os principais partidos da oposição continuam fieis à sua imagem de marca do passado: o uso sistemático da mentira como arma política, o desejo de desforra, o tom agressivo, as mentiras, o populismo e a demagogia barata. Só para dar um exemplo, quem assistir ou escutar os discursos dos seus líderes e ainda se recorda dos comícios do líder da UNITA em 1992, Jonas Savimbi, não pode deixar de assinalar a incrível semelhança entre eles. Quer Isaías Samakuva quer Abel Chivukuvuku parecem meros ventríloquos de Savimbi.

Mas a questão é ainda mais funda. Analisemos alguns factos ocorridos nos últimos dias.


A acusação de que os governos do MPLA nada fizeram até agora é a mentira básica esgrimida pela oposição na actual campanha. Mesmo tratando-se de uma campanha eleitoral, hipocrisia tem hora. É ridículo, por exemplo, afirmar, depois de uma viagem por estrada reconstruída ou mesmo construída de raiz depois da guerra, que o governo nada fez. Tais afirmações só desqualificam os seus autores.


E o que dizer do caso do militante da UNITA supostamente sequestrado e lançado ao rio para ser morto pelos jacarés por simpatizantes do MPLA na província da Lunda-Norte? Como se sabe, o referido indivíduo como que “ressuscitou” e até deu uma conferência de imprensa desmentindo as alegações da UNITA. Isso é um exemplo flagrante da insistência da oposição em recorrer às mais deslavadas falsidades para denegrir os seus adversários.


Dir-me-ão aqueles para quem na política vale tudo: o papel da oposição é criticar o governo. Mas será que quem baseia as suas críticas em falsidades absolutas merece a confiança dos cidadãos?


Quem segue a actual campanha também chega facilmente a outra conclusão: as promessas da oposição para melhorar a vida dos angolanos não passam, no melhor dos casos, de slogans vazios, sem qualquer conteúdo, e, no pior dos casos, de populismo barato e de demagogia pura e dura.


Da oferta das casas sociais ao aumento do salário mínimo ou ao fim da taxa de lixo, algumas dessas promessas são manifestações irrefutáveis da mais profunda ignorância e irresponsabilidade, chegando a tocar as raias da indigência. Uma das mais espantosas é a exortação do líder da CASA, ao melhor estilo savimbista (ou “somalizador”?), aos jovens da Lunda-Norte:

- “É cavar! É cavar à vontade!”, disse ele, apelando ao garimpo ilegal e desregulamentado.


Doeu-me ontem, quando escutei um intelectual como Nelson Pestana, no tempo de antena da CASA na Rádio Nacional, tentar “racionalizar” e “legitimar” uma diatribe como essa...


O que é que se esconde, realmente, por detrás do discurso de “mudança” por parte da oposição? Um dos principais partidos da oposição respondeu nos seus tempos de antena na rádio e na TV no passado dia 11 de Agosto: - “Vamos nos vingar desses malandros! Vamos lhes mastigar!” Ou: - “É preciso destruir tudo!”.

Oiçam e julguem por vocês próprios.

Sim, há muita coisa a melhorar e corrigir. Mas não será na base da destruição do que já foi feito, da vingança e da irresponsabilidade.

O país está num momento muito sério. Os angolanos não podem, pois, arriscar. Estou certo que não farão.