Pretória - Quando chegamos, a África do sul nos finais dos anos 90, nutríamos um certo ódio pela figura de Jonas Savimbi a quem aprendemos a responsabilizar por todo mal que ocorresse nas nossas vidas. Era um sentimento com que todos crescemos motivando a nossa ida para o estrangeiro acrescidas aos propósitos acadêmicos.

ImageAqui no exterior, encontramos estudantes de varias nacionalidades. Eram muitos que manifestavam interesse em saber mais sobre o nosso pais. Perguntavam onde ficava e quem era o seu presidente. Quando respondíamos, que o nosso Presidente se chama José Eduardo dos Santos, o debate tornava se contraditório, porque surgia, dentro da sala de aula, uma voz diferente “corrigindo-nos” de que “o Presidente de Angola era o Dr Savimbi”. Eram respostas vindas de estudantes que também diziam que os Russos e os Cubanos invadiram Angola quando nos repúnhamos a verdade de que era o regime do apartheid que cometeu agressão contra o nosso território. O destino havia nos juntados a esses irmãos que saiam de Angola pelas motivações idênticas as nossas.

Com as circunstancias mas sobretudo o convívio escolar adicionados a nossa imaturidade, fomos nos aproximando e acabamos por construir laços de convivência. Passou a haver mistura de idéias. O debate sobre questões ideológicas foi posto de parte porque não nos unia. Passamos a compreender que os filhos dos senhores da UNITA eram iguais a nos. Sempre que nos perguntassem de onde éramos, a nossa resposta era “somos angolanos”. Embora crescíamos em lados partidários que se combatiam militarmente e ideologicamente percebemos que tínhamos uma causa em comum. A causa de ser angolano. Percebemos também que responder aos estrangeiros que “ele é da UNITA” ou “ele é do MPLA” não tinha valor nenhum. Seriamos incompreendidos.

Os episódios dos soldados de Jonas Savimbi escutados no “hora certa” despertava a nossa curiosidade. Decidimos ler mais um pouco sobre a sua pessoa e compreender as razões da sua luta. As razoes da luta do Holden Roberto, figura que também nutríamos certa despaixão devido a fama canibal que era atribuído ao seu movimento. Fizemos compreender a muitos dos nossos colegas que tanto o Presidente Neto como o Presidente Dos Santos também não representavam o exagero daquilo que lhes haviam ensinado nas matas. Era igualmente um trabalho de intoxicação cerebral de que estavam a ser alvo por parte dos movimentos. Daí que como podem ver, ganhamos algum conhecimento tanto sobre o MPLA, UNITA e FNLA. Fomos ao encontro da verdade. Optamos por perdoar Holden Roberto para que a FNLA nos perdoasse. Perdoamos Savimbi para que a UNITA perdoasse também o Presidente Neto ou o Presidente Holden.

Nos libertamos da discriminação partidaria para ganharmos o espírito nacionalista. Portanto idos para a Angola registramos algo diferente. Notamos que algumas mentes não sobreviveram aos ventos da democracia que África clama. Atitudes de algumas pessoas fazem nos ver que ainda pensa que estamos em sistema de partido único em que o homem do “partido” manda no Estado. Observamos que as pessoas tem medo da democracia. Há pessoas que sofrem represálias por discordarem ou criticarem as autoridades.

RECONCILIAÇÃO ENTRE OS MILITARES

Diz-se que no fim de uma guerra os militares são os primeiros a se entenderem. Neste ramo notamos que antigos militares da UNITA e do MPLA integrados no exercito possuem boas relações. Generais saídos da UNITA e ex Fapla tem parcerias no ramo dos negócios conforme denunciou, ano passado, um relatório de uma ONG que apontava nome de oficias das FAA envolvidos no sector mineiros.

COMUNICAÇÃO SOCIAL

Numa democracia a media tem força de mover governos, de promover a estabilidade e a paz. Na presente fase de transição certa imprensa menos independente não terá sobrevivido aos tempos da tolerância. A sua acção mostra-se por vezes refém aos anos 80. Existe a tendência em misturar assuntos partidários com o Estado. Há certa diferença no tratamento de matérias jornalísticas das actividades do MPLA em relação as da oposição denotando a sua veia parcial. Por exemplo, matérias relacionadas a oposição, na agencia Angop, dificilmente vem acompanhada de fotografias ao contrario das atividades do partido de maior proporção parlamentar. Discursos dos lideres da oposição não são explorados. Apenas retomam o que convem. Meses atrás chegavamos a pensar que o político Carlos Contreiras do partido republicano fosse um mercenário político a soldo do governo. Artigos publicados na imprensa do Estado a cerca do seu partido apenas trazia elogios ao governo. Quando tivemos oportunidade de explorar alguns dos seus discursos notamos que para alem de fazer a critica ou fazer respaldo das atividades do seu partido, o dirigente político realçava sempre um ponto positivo da governaçao, provavelmente como forma de reconhecimento. Porem ao retomarem simplesmente aquela parte, os leitores menos atentos ficariam com a percepção de que se esta diante de um político bajulador.

Nos dias seguintes ao desabamento do prédio da DNIC a FpD reclamou que os seus comunicados expressando solidariedade não estava merecer tratamento na impressa estatal.

Na RNA notamos também alguma estranheza. Quando houve o debate parlamentar sobre a gestão privada do canal 2 da TPA doadas aos filhos do Presidente, o noticiário das 13h apresentaram inicialmente um parecer do deputado Alcides Sakala da UNITA e de seguida um outro de Kwata Kwanawa explicando o que realmente se sucedeu. Os editores porem, apresentaram o parecer do porta voz do MPLA anunciado como desmentido ao parlamentar do “Galo Negro”. Mais adiante colocaram um parecer do deputado do PAJOCA e mais outros dois pronunciamento de personalidades do MPLA, nomeadamente do deputado Mateta e o Ndunduma. Quer dizer, a impressão que os ouvintes ficavam era de que o Senhor Sakala estava a levantar um assunto que nem deveria parar naquele fórum. Depois ele era combatido por 4 reações a favor do debate contra ele.

No Jornal de Angola tem surgido temas interessantes mas no entanto observamos nos últimos meses artigos de opinião cujo teor reflecte desautorização ao discurso de fim de ano do Presidente José Eduardo dos Santos que apelava o respeito a diferença. Tratam-se de artigos mal criados que pouco contribui para educação do povo. Por outro lado temos de parabenizar a TPA por ser um dos órgãos de imprensa com maior abertura a reclamações sócias das populações carentes.

DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS

Para o Politologo Fernando Marques Pena, do Brasil a democracia é entendida como um regime político que melhor protege e promove os direitos humanos. Os partidos políticos queixam-se sobre intolerância política pelo que as autoridades policiais refutam dizendo tratar-se de actos associado a delinqüência. Se Angola não esta a proteger os direitos humanos dos seus filhos então o pais precisa se renovar. Angola precisa sair da fase de ratificação dos instrumentos jurídicos sobre os direitos humanos para a fase do incentivo a pratica da defesa dos direitos humanos.

Martin Luther King dizia que “Nós não podemos nos concentrar somente na negatividade da guerra, mas também na positividade da paz”. É necessário critérios que promovam o respeito pela vida em Angola. Há paises africanos que podemos tirar lição. O Governo de Moçambique inseriu a disciplina dos direitos humanos no sistema de ensino nas escolas. Na África do Sul, Nelson Mandela ensinou que tanto os brancos como os negros são iguais. Eles colocaram de parte do debate ideológico. Angola esta subcarregada de carga ideológica. é preciso que coloquem de lado as questões partidárias para priorizarmos as questões de interesse nacional.

Entretanto volvidos seis anos de paz em Angola assinalados a 4 de Abril do corrente, serve-nos o momento para reflectir no que disse um dia Martin Luther King: “Nós não somos o que gostaríamos de ser. Nós não somos o que ainda iremos ser.Mas, graças a Deus, Não somos mais quem nós éramos.”

* José Gama
Fonte: Club-k/Angolense