Luanda - Angolanos do grupo ‘Mais’ compram participação da Camex, outro grupo nacional e antigo detentor do banco, e passam a mandar na instituição, que ganha nome do grupo. Nova gestão já enviou sugestão do novo nome e marca para o BNA. Especialistas em marketing e publicitários explicam porquê o nome ‘Pungo Andongo’ tinha de cair.

*Nelson Rodrigues
Fonte: Valor Economico 

Os novos accionistas do Banco Pungo Andongo, ligados ao grupo ‘Mais’, decidiram alterar o nome e a marca do banco, passando este a chamar-se ‘Banco Mais’, pouco menos de dois anos desde que inaugurou a sua primeira agência em Malanje, soube o VALOR de fonte da administração da entidade.

 

A alteração do nome e marca ocorre após a cessação do contrato de promessa que os accionistas fundacionais assinaram com a empresa Camex, detida pelo empresário Jorge Gaudens Pontes Sebastião  que, nos últimos anos, assumiu a liderança do conselho de administração do banco.

 

Ao que apurou o VALOR, Sebastião terá alegado “outros compromissos” para não avançar com a compra das acções do banco, após a imposição de aumento de capital pelo regulador para o cumprimento de rácios regulamentares, o que levou os accionistas a procurarem por novos compradores. Além da mudança do nome, a entrada dos novos compradores, cujo aporte financeiro permitiu o aumento do capital dos 2,6 para os cinco mil milhões de kwanzas, implicou mudanças na administração do banco, com destaque para a saída do actual ‘chairman’, o empresário Jorge Sebastião, que já terá comunicado o regulador da sua condição de PCA cessante.

 

Da administração do banco, o VALOR sabe que a alteração do nome e da marca já é do domínio do BNA, que já recebeu a sugestão do novo nome, apesar de ainda não incluir na lista actualizada de instituições financeiras bancárias autorizadas a exercer actividade no país.

 

O processo, no entanto, já foi autorizado e o “banco passa a chamar-se ‘Banco Mais’”, assegura outra fonte, citando uma decisão da assembleia-geral de accionistas, anterior ao lançamento do próprio banco, precisamente em 2014.

 

“A partir do momento em que o BNA autoriza, ele [o banco] já é ‘Banco Mais’. A única coisa que vai acontecer é alterar o nome para a parte pública, porque isso também tem procedimentos e leva algum tempinho para fazer”, explicou ao VALOR a fonte da alta gestão do banco, acrescentando que os “accionistas andavam apenas à espera da autorização e homologação” do regulador.

NOVO NOME SEGUE NOVO CAPITAL

Desde que iniciou actividade, a 27 de Novembro de 2015, esta é a segunda alteração de fundo por que passa a entidade que tem, como CEO, o brasileiro José Valentim Barbiéri. A primeira foi o anúncio de um aumento de capital de 2,4 mil milhões de kwanzas sobre os anteriores 2,6 mil milhões de capital social, processo que viria a ‘mexer’ na estrutura da administração do banco, segundo noticiou o VALOR no fim do semestre passado.

 

Assim, e com a entrada dos novos sócios, podem saltar da administração várias figuras do banco, mas está garantida a permanência do actual presidente da comissão executiva, o brasileiro José Valentim Barbieri, como assegurou outra fonte, que não quis identificar os nomes dos novos accionistas à estrutura do Pungo Andongo, que passa a ‘Banco Mais’. Actualmente, além de Jorge Gaudens Pontes Sebastião  que lhe preside, o conselho de administração do banco integra mais quatro administradores, designadamente Hélder Jesus dos Santos, Filipe Lemos Inácio, António Fernandes Santana, além de José Barbieri.

‘PUNGO ANDONGO’ NÃO VENDE

Ao VALOR, dois especialistas em comunicação e marketing e uma empresa publicitária explicam as motivações por detrás das mudanças de nomes e marcas corporativas. Segundo o docente universitário João Demba, a mudança do nome e marca ‘Pungo Andongo’ pode estar relacionado com vários factores, entre os quais o facto de a denominação estar na língua kimbundo, ou pela alteração do ‘corebusiness’ da entidade.

 

Para o caso da língua, o também autor do livro ‘Marketing e Comunicação’ sublinha que a expressão ‘Pungo Andongo’ pode atrair clientes que se identificam com a língua e afastar potenciais clientes que, por exemplo, falem o fiote (língua nacional originária de Cabinda).

 

“Este nome (Pungo Andongo), por si só, pode acabar por ser um elemento de exclusão para pessoas que não se revejam nessa língua. Quem fale fiote, provavelmente, pode não se rever no nome (do banco), pelo facto de ser ‘Pungo Andongo’. Se aparece um outro banco, com um nome em fiote, pode não fazer confusão a outro cliente”, explicou o acadêmico.

 

Já Wilson dos Santos, outro autor do livro ‘A comunicação: o espelho de um país’, chama a atenção ao facto de o nome ‘Pungo Andongo’ não ser “apelativo e não ter carácter comercial”. Wilson dos Santos defende que, para nomes e marcas corporativas, as alterações obedecem a critérios de marketing, sobretudo a “características apelativas, a todos os níveis”.

 

Segundo o estudioso, “num primeiro momento, quem olhar ou vir a determinada marca ou a suas cores, associa, normalmente, a alguma coisa, ou ao produto que esta marca tem disponível no mercado”. “Não me parece de bom tom que um banco tenha o nome ‘Pungo Andongo’, embora sendo o nome que, de alguma forma, queira homenagear as ‘Pedras de Pungo Andongo’.

 

Não me parece ser de bom tom que se tenha associado este nome à marca de um banco, que é um sítio de prestígio, que garante a credibilidade e a confiança das pessoas”, criticou Wilson dos Santos, profissional de comunicação e autor.