Luanda - Num aniversário, em casa de uma parente, dei uma cotovelada involuntária em sobrinho-neto, que por altura teria, por aí, entre cinco a sete anos, mal me lembro. Logo o menino se desfez em berros daqueles que adultos não gostamos de aturar – até parece que nunca passamos por essa etapa da vida, a da franqueza e espontaneidade. Pois ali, especialmente, a mulherada “bulinguenta” logo desatou a “instigar”: ‘oh que é isso Danilo, homem não chora!’. Mas ali, meu sobrinho, inteligência rara, como a quem saiu (olha só a vaidade?) manda essa: “pois é, vocês falam homem não chora, homem não chora, mas que dói, dói!” Ele hoje, crescidinho, já não se lembra disso e é, justamente, por esta pequena estória que nunca esqueci, que começo para ver se entendem por que chorei, quando uma muito provável futura primeira-dama, depois do dia 23, a Dr.ª Ana Dias Lourenço, me ofereceu o seu próprio cachecol do glorioso MPLA.

Fonte: Facebook

Antes, tinha abraçado e confabulado, brevemente, com seu esposo, candidato pelo partido, evento que se repetia pela segunda vez, em menos de uma semana, desde aquele fatídico e doloroso dia em que foi ordenado a especialistas da TPA, que me transformassem de um crítico construtivo, que sempre me considerei, em um reles bajulador. Sabem que até fizeram um boneco com roupa semelhante a minha, a inclinar-se, profundamente, junto do candidato, em frente ao grande anfiteatro de eventos do MPLA, em Belas, quando eu fui recebido, num encontro muito mais breve ainda, pelo candidato João Lourenço, com toda dignidade e simplicidade, a seu pedido, numa sala “behind the scenes”’?!

 

Naturalmente, eu falei disso ao candidato, ao explicar-lhe o quanto me custou aparecer, para lhe dar aquele apoio público, deixando a família dividida, entre os que achavam que era demais voltar ao risco de expor-me novamente ao ridículo e os que com razão, achavam que – qual Agostinho Neto (com as devidas proporções), a caminho de Kinshasa, ao encontro do “diabolizado” Mobutu, em busca da pacificação do norte de Angola, com a compreensão de outro tanto ‘vilanizado’, nosso também libertador Holden Roberto – devia lançar-me, corajosamente para aquela janela de oportunidade que se abria para um possível retorno a um palco mais consistente para as transformações que se impõem, no imediato, ganhe quem ganhar o que devia ser apenas uma formalidade, a das eleições.

 

E aqui é o lugar para esclarecer que fui a convite anunciado por um telefonema do Secretário-Geral do MPLA, Eng. Paulo Kassoma, por recomendação do Presidente do Partido, que segundo ele, gostaria de me ver lá, onde teria lugar a sua derradeira intervenção, apresentando publicamente o que já é seu presumível sucessor, na direcção do MPLA e muito provável substituto na chefia do estado angolano, nos próximos cinco anos. Vejam que razoabilidade haveria no recusar um tal convite! Se errei, porque criei espetactivas “revolucionárias” que nunca, conscientemente, me propus criar, a história cuidará de esclarecê-lo.

Pois chorei porque, inesperadamente, apercebi-me dessa responsabilidade, que, provavelmente, nada diz àqueles que só se preocupam com o aumento de votos para o seu partido, nestas eleições, e que estavam a imaginar um abandono que afinal nunca aconteceu, porque o provável bom senso do total da Organização não se precipitou a provoca-lo, embora estivesse eu, perfeitamente, preparado para o enfrentar, com a maior das normalidades;

Chorei, porque quase 8 anos depois, voltei, entre muitos, a abraçar o General Dino Matross; chorei, porque, antes do gesto terno de uma irmã que, no dia 24, poderá ser anunciada, tacitamente, como a Primeira-Dama que se segue ... não direi que voltei, mas dei uma vez mais, e naquela hora e lugar, um abraço a cada um dos generais Ndalo e Nvunda, duas figuras lendárias da luta de libertação nacional e do estadismo angolano, mas de uma simplicidade e sabedoria inultrapassáveis, só provavelmente comparáveis, entre outros grandes comandantes/estadistas que conheci, ao general Pedalé. Chorei porque naquele tempo todo, num turbilhão de contradições, entre a rejeição de aceder a pedidos de entrevistas de meios de comunicação ferozmente sectarizados, estive exposto ao lado de Lopo de Nascimento, no mínimo, a segunda figura política viva mais notável da chamada “família MPLA”, a que se juntaram figuras como o lendário presidente Pinto da Costa, de S. Tomé e Príncipe e o antigo Primeiro-Ministro de Cabo Verde, o jovem José Maria Neves (não o veterano Pedro Pires, como anunciaram certos media). Se tudo isso foi, pura encenação, mais uma vez não sentirei os remorsos de uma culpa que não é minha; eu sempre a procura de ser ponte que une as diversas margens do meu país e não vale que as queira separar, mesmo a pagar os altos preços que tenho pago.


Àqueles que acham que eu não deveria dizer certas coisas que aqui disse, para esclarecer algumas dúvidas que se levantam nas redes socias, como mera ponta de um iceberg das inúmeras dúvidas espalhadas pelo país, direi que há uma coisa que quase não tolero: ser um político cínico. É o cinismo político de boa gente no Ocidente que trouxe para o primeiro plano político gente como Donald Trump, com as suas sombras de ressurreição do racismo e do antissemitismo, nos Estados Unidos; Forage Nigel, no Reino Unido, a perigar a conclusão de um monumento fantástico como a União Europeia (modelo da União Africana, em certa medida); que elevaria Marine le Pen, ao podium do poder, com todo um desenho de cenários inimagináveis, não fora o talento de um jovem político, em França, de 39 anos, com o nome de Emmanuel Macron.


Aproveito para dizer que no dia 23, voto Angola, esta nação tão difícil de construir, “a partir de várias nações”, como dizia Neto. Se eu pudesse saltaria para mais duas ou três tribunas partidárias para gritar o que disse. E não digam que isso é estar em cima do muro. É pensar que, independentemente dos resultados que forem ditados, nenhum partido isolado dos outros partidos e de toda a sociedade, poderá remover as dificuldades que vêm aí. Nos últimos dias, falei da provável necessidade do estabelecimento de um governo formal ou informal de “salvação nacional”, que nos traga uma “verdadeira” reconciliação, que tente propor uma espécie de perdão, no plano dos extravios de ordem económica e financeira, havidos; que restabeleça alguma credibilidade do país, especialmente, a nível do Ocidente, e predisposto a fazer as rectificações que se impõem, com o Oriente.


Por isso gostei que, nesse dia, os discursos, particularmente o do Presidente Santos, não enveredaram, nem pouco mais ou menos, para as habituais veredas do sectarismo partidário puro e duro. O que, por certo, me surpreendeu muito positivamente. É pena que que o irracional tenha persistido até ontem, com cortes e invenções cirúrgicas em meios de comunicação públicos e privados que têm dono, sempre a sugerir que há gente que pertence a grupos inferiores, em Angola. Isso é completamente inaceitável e não poderá mais continuar, nos próximos tempos.

A minha solidariedade ao amigo Makuta Nkondo.

Que todos votem para a busca de equilíbrios que nos permitam o aproveitamento positivo dessa nova oportunidade.