A violência incide particularmente sobre emigrantes estrangeiros tendo já provocado 22 mortos, segundo dados oficiais.

São igualmente relatados danos materiais incalculáveis tendo dois mil e cem estrangeiros pedido protecção à Polícia devido ao aumento exponencial da violência.

O cenário hoje em Joanesburgo é completamente diferente do habitual, com ruas sitiadas e semi-desertas e alguns estabelecimentos comerciais encerrados .

As motivações dos sul-africanos para este tipo de comportamento prendem-se com o facto de eles verem nos estrangeiros as pessoas que retiram deles o seu ganha pão, o trabalho e as casas sociais a que eles deveriam ter direito, alegando que são entregues aos estrangeiros, segundo a cidadã angolana residente na Africa do Sul, Sílvia Rodrigues.

«Isto começou numa zona pobre de Joanesburgo Alexandra e agora generalizou-se por toda área de Joanesburgo e agora também na cidade do Cabo, existem lá muitos Somalis que têm lojas e outros negócios e também já foram assaltados. Aqui assaltam mais os Zimbabueanos que é a maior força de trabalho, são jardineiros, empregados de obras e já mataram algumas pessoas, batem-nos e a polícia já está em todos esses bairros, apoiada pelo exército e as empresas de segurança. Ainda assim pressistem as ameaças pois eles dirigem-se aos locais de trabalho, porque sabem onde eles trabalham».

Sílvia Rodrigues, angolana residente na África do Sul em entrevista a Voz da América, descreve a fúria dos sul-africanos contra moçambicanos, zimbabweanos e somalis, que trabalham na África do Sul.

«Eles entrevistaram um ou outro zimbabweano que atribuem a culpa do que está a acontecer ao discurso feito por Jacob Zuma que fazia referência à não admissão de mais estrangeiros no país. Outros dizem que eles estão na África do Sul a trabalhar e que os sul-africanos são preguiçosos, comem e bebem. Eles agora atingem toda a gente, os do Malawi e Moçambique. Isto está mau, porque eles não estão a conseguir controlar a situação, eu vou ouvindo pela televisão e pela rádio, o meu jardineiro é zimbabwano e diz que não dorme à noite, está sempre a espera para ver quando é que vai incendiar a casa dele também».

Sílvia Rodrigues, disse ainda que para além de atearem fogo nas casas, roubam-lhes os poucos haveres que têm, as crianças filhas de zimbabueanos já começaram a ser atingidas nas escolas, já bateram em algumas. Apesar deste clima quem circula pelas ruas de Joanesburgo não se apercebe de nada, tudo está a acontecer nos arredores da cidade. Mas o medo instalou-se na maior parte dos estrangeiros que residem na Àfrica do Sul.

« As pessoas dizem que têm medo, os zimbabueanos fugiram e encontram-se nas esquadras da polícia porque têm medo de voltar para casa e o governo ainda não disse nada, ainda não fizeram nenhuma declaração. Eu a única situação que vi na rua aqui onde andamos é que os trabalhadores das obras estão munidos de pás e tubos, porque estão a espera a qualquer momento de serem atacados. Anda muito carro da polícia de um lado para o outro, e é o que se está a passar aqui».

Em face desta situação o Consulado angolano em Joanesburgo abriu as portas para os angolanos que desejarem regressar ao país e aos que permanecerem naquele país para se manterem calmos e evitar movimentar-se pelos locais críticos e sobretudo no período nocturno. O interesse de regresso a Angola foi apresentado apenas por duas famílias dos cerca de cinco mil angolanos que lá se encontram.


Cônsul-geral de Angola visita locais afectados por xenofobia 

O cônsul-geral de Angola em Joanesburgo, Narciso do Espírito Santo, visitou hoje (terça-feira) as áreas mais afectadas pela violência resultante da prática de xenofobia, na África do Sul, para constatar a situação dos angolanos lá residentes. 

O cônsul visitou as localidades de Cleveland e Jepe, onde estão concentrados, sob a protecção da polícia, 2.100 estrangeiros de diferentes nacionalidades, cujas residências foram saqueadas, destruídas e queimadas.

Segundo as autoridades policiais, desses dois locais visitados, o número de angolanos atingidos pela onda de violência é diminuto. Três perderam os seus haveres e viram suas casas destruídas.

Até ao momento não há notícias de mortes ou de ferimentos graves de angolanos.

A violência está a atingir, fundamentalmente, cidadãos das repúblicas do Zimbabwé, Moçambique, Malawi, Democrática do Congo e Burundi.

Segundo uma nota do consulado, actualmente a cidade de Joanesburgo mudou completamente de cenário. As ruas estão sitiadas e alguns estabelecimentos comerciais encerrados, com as principais avenidas semi-desertas.

Devido a esta situação, o Consulado de Angola em Joanesburgo apela aos cidadãos para se manterem calmos, evitando a sua movimentação em locais críticos e sobretudo no período nocturno.

O Consulado "abriu as suas portas" para todos aqueles que devido a esta situação tenham a pretensão de regressar a Angola, mas até ao momento apenas duas famílias manifestaram tal interesse. A cidade de Joanesburgo alberga perto de cinco mil angolanos.

No documento, a representação explica que o problema da xenofobia, que desde a alguns dias se regista na África do Sul, continua a preocupar, sobremaneira, não só as autoridades locais, como as acreditadas nesse país da região austral.

Um incidente já provocou perdas materiais incalculáveis e também humanas, cujas cifras oficiais apontam em 22 mortes até ao momento.

São focos que se verificam um pouco por toda a parte, com maior incidência em Alexandra, Malvern, Jepe, Tokoza, Tembisa, Germiston, em Joanesburgo.

Fonte: VOA/Angop