Alemanha  - Em entrevista à DW África, o investigador britânico Alex Vines, da Chatam House, aponta os desafios económicos e políticos que o novo Governo angolano enfrenta. Crescer sem depender do petróleo é um deles.

Fonte: DW

O novo Governo angolano tem de criar mais emprego e mais oportunidades para os angolanos, defende Alex Vines, investigador do instituto britânico Chatham House. Em entrevista à DW África, Vines fala sobre o futuro do país que desde meados de 2014 está em crise por causa do preço do petróleo no mercado internacional.

O especialista também é duro ao criticar o Governo cessante do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), dizendo que até agora o Executivo beneficiou um pequeno grupo de membros do partido e esqueceu-se dos da população.


Como desafio para o novo Governo do MPLA, a ser chefiado por João Lourenço, o investigador britânico aponta a diversificação da economia, que ainda está muito atrelada ao setor petrolífero.


"Até 2020, haverá uma diminuição de 11% dos recursos petrolíferos a cada ano. Por isso é muito importante buscar novas oportunidades na economia", alerta o especialista.


DW África: Angola é uma economia dependente do petróleo e enfrenta a forte crise do setor desde meados de 2014. Qual deve ser a postura do novo Governo: continuar a investir na exploração petrolífera ou diversificar a economia?
Alex Vines (AV): O primeiro objetivo do novo Governo em Angola é buscar um caminho para a diversificação da economia do país. Claro que o futuro petrolífero em Angola é fraco e não há nenhuma outra possibilidade para a diversificação da economia hoje em dia.


DW África: Então, o que ajudaria o Governo a diversificar a economia?
AV: É uma boa questão. Acho que a agricultura vai ser muito importante para Angola. Há muita terra no país. E esta é também uma oportunidade de ajuda de terceiros como o Brasil, China e outros países que ajudam Angola neste setor. Também um futuro menos [ligado ao] petróleo está relacionado ao gás [natural]. Há recursos de gás no país, mas o Governo de José Eduardo dos Santos deu mais importância ao petróleo do que ao gás.


DW África: Entre as propostas anunciadas pelo MPLA durante a campanha eleitoral estão a construção de "pelo menos" uma refinaria, para diminuir a "grande dependência do país em produtos refinados", e a garantia de 30% de novas empresas nacionais no setor. Acha que são medidas exequíveis diante da crise que o país enfrenta?
AV: Há muitos problemas no setor petrolífero neste momento. Há poucos investidores, e não há nenhum novo campo de exploração em Angola neste momento. O problema é que os recursos de petróleo estão a acabar. Até 2020, haverá uma diminuição de 11% dos recursos petróliferos a cada ano. Por isso é muito importante buscar novas oportunidades na economia.


DW África: Angola é um país rico com uma população pobre, é o que dizem muitos analistas. O que o novo Governo deve fazer para distribuir os rendimentos entre os cidadãos?
AV: Esta é a questão número um para o novo Presidente de Angola, João Lourenço, que precisa criar mais emprego e mais oportunidades para os angolanos. Neste momento, o Governo de Angola não prioriza os interesses da maioria, mas a prioridade é um pequeno grupo de pessoas dentro do MPLA.


DW África: Em termos de política externa, qual deve ser o principal foco do novo Governo do MPLA na relação com os países vizinhos e os de língua portuguesa?
AV: A relação com os países que falam português vão ser normais, como no passado. Acho que, no Governo de João Lourenço, Angola vai melhorar mais a política voltada para a África Austral. E a política externa de Angola também dará grande importância à situação da República Democrática do Congo (RDC). Para Angola, não há país mais importante no mundo. E quando houver uma mudança de política externa depois das eleições, caberá ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de Angola buscar uma solução para a relevante situação na RDC.