Luanda - Acabaram-se infelizmente as esperanças! No dia 6 de Setembro de ano em curso, a CNE anunciou os resultados definitivos das eleições gerais de 2017, declarando vitória por maioria qualificada para o MPLA e João Lourenço. Acabaram-se as esperanças porque Isaías Samakuva já reagiu, e não falou mais da suposta contagem paralela das eleições de 23 de Agosto pela UNITA. A UNITA admite assim provavelmente que foi derrotada pelo MPLA em todas as províncias do país, e, pelo que parece, sem fraude, uma vez que a mesma UNITA nunca veio a terreiro contradizer os resultados da CNE, apesar de admitir estar em posse das actas das operações eleitorais das mesas de voto de todo o país.

Fonte: Club-k.net

Esta constatação força-nos a concluir que, apesar de todas as irregularidades, o MPLA ganhou a eleição de 2017 com o voto do povo. O povo ainda prefere o MPLA. Mesmo a província de Cabinda, alegadamente independentista e supostamente insatisfeita com o MPLA, ainda permitiu a eleição de 2 deputados a este partido. Nas únicas províncias em que a UNITA subscreveu a legalidade do escrutínio provincial (Uíge, Zaire, Cabinda), a UNITA reconhece que o MPLA ganhou legitimamente, isto é com o voto do povo e sem fraude. Luanda, onde o descontentamento contra o MPLA é supostamente mais expressivo, o MPLA derrotou a oposição. Resumindo: o MPLA ganhou com irregularidades provavelmente maciças, mas com o voto do povo. Se assim não tivesse sido – repita-se – a oposição teria provado com base na sua alegada contagem paralela que ganhou nalgum círculo eleitoral. Quer dizer: o povo ainda prefere o MPLA no poder.

 

Ora, é isto que é interessante, e é isto que num futuro breve mergulhará os „revus“ e outros activistas cívicos da sociedade angolana para uma profunda crise de sentido. Na ressaca das eleições de 2017, Luaty Beirao e seus companheiros vão começar a questionar-se sobre o sentido do seu sofrimento, da sua tortura na prisão e do risco de vida a que estão expostos todos os dias, e interrogar-se seriamente sobre o sentido que tudo isto faz, se afinal o povo ainda prefere o MPLA no poder. Quarenta e dois anos de um partido no poder é muito para quem – para eles, os „revus“ ou para o povo? Também o heroísmo e a coragem destemida de um Rafael Marques parecerão a ele próprio e em breve inúteis e desmerecidos, ou seja: o povo não merece que por ele se arrisque a vida. „Podem abrir as cadeias e comprar os caixões...“ – gritava num vídeo o jovem Nito Alves. „Primam o gatilho...“ – ousava desafiar recentemente Rafael Marques. Mas para quê? Para um povo que vota livremente no MPLA?

 

A luta dos activistas cívicos (revus, Rafael Marques, David Mendes, Associação Omunga, etc.) entrará brevemente em crise de sentido. Que cada filho do casal presidencial cessante seja supostamente dono de um banco; que se fale do Fundo Soberano como praticamente de uma conta privada do seu presidente José Filomeno dos Santos; que se denuncie a Fábrica de Cimento do Kuanza-Sul como negócio privado de Joaquim David e companhia limitada financiado com 731 milhões de dólares da Sonangol; ou que se desmascare que 30% dos 4,5 mil milhões da futura barragem de Caculo Cabaça sejam na verdade afinal uma oferta de despedida do cessante Presidente da República à sua filha Isabel dos Santos, etc. – tudo isto não interessa, o povo vota no MPLA, e o MPLA na verdade não precisa de fraude para ganhar as eleições. É por isso que em breve os „revus“, Rafael Marques e outros activistas ficarão calados, desanimados com a falta de sentido do que fazem.