Luanda - Dia 25 de Setembro comemora-se em Angola o dia do trabalhador da saúde, aquele que tudo faz para o garante da saúde da população Angolana. Neste dia gostaria de refletir com todos os angolanos em geral e profissionais de saúde em particular alguns aspectos não menos importantes que ainda os profissionais de saúde precisam resolver. Se bem que para alguns deveria ser uma data de elogios e bajulações prefiro ater-me no princípio de um Sábio Angolano: “Fale dos meus pontos bons que dos maus falo eu” (DISSENGOMOKA, 2005).

Fonte: Club-k.net

Deste modo a temática deste artigo estará centrada a problemática das famílias de doentes internados que dormem ao relento junto aos Hospitais de Luanda.

Começaria por definir que a família é a unidade básica da sociedade e é formada por indivíduos com ancestrais comuns. Relatos históricos revelam-nos que esta estrutura teve a sua origem há 6 mil anos atrás quando Deus criou o primeiro casal humano Adão e Eva e que posteriormente tiveram dois filhos Caím e Abel (BÍBLIA SAGRADA, 2013).

De verdade podemos notar que desde os tempos recônditos o homem sempre viveu em família, ou seja, nascemos, crescemos, e morremos sempre inseridos numa família seja ela de cunho consanguínea ou adoptiva.

Custa-me crer a triste vivência diária de muitos familiares que dormem ao relento a volta dos hospitais de Angola com ênfase na nossa Capital Luanda, afastados de seus entrequeridos desde que internam no Hospital.

Diante de tal facto a pergunta que não se cala enquadra-se no facto de que sendo a família a entidade que melhor conhece o seu parente desde antecedentes pessoais como fisiopatológicos, estilo de vida, sociais, história da doença actual e outros elementos fundamentais para o sucesso no acto de

tratar e cuidar a pessoa enferma o porquê o profissional de saúde separa o familiar do paciente internado?

Parece que os profissionais de saúde acabam por ser tão egoístas que usam o familiar somente para recolha de dados para o seu interesse e depois disto mandam-no para fora do hospital junto aos gradeamentos dos muros sob o olhar arrogante e desprovido de ética profissional dos seguranças dos hospitais (que até triagem fazem, dizendo: este doente não é para aqui tem de ir ao hospital X ou Y, porém, este assunto abordaremos noutro artigo) voltando só a ter contacto com o familiar quando o seu paciente agrava-se ou morre.

É notório o pecado da exclusão do familiar/acompanhante desde a concepção das estruturas hospitalares até aos fluxos de trabalho. Vejamos e admitamos que as estruturas hospitalares principalmente as públicas são bastante deficientes em termos de cadeiras/poltronas, quarto de banho, condições para alimentação dos familiares /acompanhantes. Acabamos por construir estruturas hospitalares voltadas para satisfação dos profissionais de saúde e administrativos ao invés de satisfazer as necessidades do doente/família que é o foco das instituições hospitalares.

Marginalizamos os nossos pais, irmãos, tios, avôs e vizinhos deixando-os ao relento fora do hospital. Estes quando vão ao Hospital são chamados de visitantes mas eu pergunto o seguinte: quem de nós deixa um visitante seu ficar e dormir ao relento fora da sua residência? De modo algum!

É notório a marginalização da família / acompanhante quando tem um familiar internado no que tange ao acesso ao Hospital, para além da falta de confiança dos serviços de saúde por falta de medicamentos e insumos essenciais para execução de uma assistência de saúde com qualidade, concordamos que este é um dos factores que contribuem para este problema mas também entendemos que para além destes outros factores modificáveis concorrem para a permanência da problemática em causa.

A descriminação ocorre desde a não oficialização da figura do acompanhante / familiar na unidade de internamento, até a inexistência das condições de infra-

estruturas para recebê-los nos internamentos pois não foram previstos um espaço físico de apoio para garantir a permanência da família.

Os horários de visita são fixos e não têm em conta familiares que vêm de fora de localidade só para visitarem o seu ente querido, estes têm de esperar o dia seguinte caso venham depois do horário de visita e dormirem ao relento.

Nota-se também a falta de mecanismos para informação e compromisso por parte do profissional de saúde perante o paciente e família, demitindo-se das suas responsabilidades de comunicação, informação e educação da família e do paciente. A família acaba por não conhecer o diagnóstico, evolução clínica e prognóstico do seu familiar devido a falta de comunicação entre o profissional de saúde, paciente e família/acompanhante.

Quando abordadas estas questões com os Gestores da Saúde e outros elementos participantes no processo de Organização e Gestão de Serviços de Saúde ouvimos várias justificativas como: “O Angolano é mesmo assim, estes são teimosos, se lhe colocarmos ali dentro vão sujar e estragar o hospital”. Por outra fazendo uma busca sobre os factores que levam os familiares estarem a volta dos hospitais encontramos respostas como a “falta de informação do estado de saúde do seu familiar, o medo da perda associado a falta de materiais e medicamentos nos hospitais”.

A presença das famílias de doentes internados dormindo ao relento junto aos hospitais acarreta consigo vários problemas desde o risco de desenvolvimento de doenças e consequentemente morte, incapacidades e mortes por atropelamentos, desorganização urbana, assaltos, violações, perda de confiança nos serviços de saúde, desintegração da família por abandonar por muito tempo os outros membros da família que ficaram em casa com enfase o esposo se tiver, criação de mercados ambulantes a volta dos hospitais.

É emergente que encontremos caminhos eficientes e eficazes para sanarmos tal mal tendo em conta que vivemos num país em crescente desenvolvimento e o mesmo faz-se com indivíduos e famílias saudáveis. Não há desenvolvimento de uma nação sem famílias saudáveis, a título de exemplo podemos afirmar que as eleições de 23 de Setembro só foram

realizadas porque os elementos que a organizaram estavam saudáveis, os candidatos e seus familiares, os eleitores, os jornalistas, todos os elementos que directa ou indirectamente participaram neste processo estavam saudáveis, eles e suas famílias.

Nenhum investidor terá interesse em investir em Angola se não existir famílias com força de trabalho qualificada e saudáveis porque isto é que garante produção. Daí a responsabilidade dos Governantes em geral e Gestores em Saúde em particular em garantir condições adequadas para o exercício da arte e ciência do tratar/cuidar a pessoa enferma sem separa-la da família garantindo desta forma força de trabalho saúdável para construção de uma Angola forte.

Fica claro com isso que Angola e qualquer sociedade faz-se com famílias saudáveis. Diante disto o que precisamos fazer para resolvermos a problemática das famílias de doentes internados que dormem ao relento junto aos hospitais de Luanda?

O objectivo deste artigo não é apontar os problemas existentes no nosso sistema de saúde mas antes sim assinalarmos sugestões exequíveis para solucionarmos este mal que afecta as famílias angolanas. Por meio de uma revisão de literatura de alguns artigos científicos que debruçam-se sobre tal problemática passarei a apresentar passo a passo algumas sugestões que os gestores da saúde / Directores de Hospitais podem fazer para ultrapassar este problema. Espero que consigamos contribuir para resolução do problemático fenómeno da presença desesperada de familiares dormindo ao relento a volta dos Hospitais da nossa terra Angola.

Considerando que a actual prática profissional da equipa de saúde deixa a desejar quanto a atenção oferecida aos familiares de pacientes, dificultando desta forma uma assistência holística ao paciente, na qual a família constitui parte integral e integrada deste processo, e partindo do principio que isto só será possível, a partir da reestruturação dos serviços de saúde e da forma de agir dos seus profissionais, de modos a assegurar uma atenção mais humaniza aos pacientes e também aos familiares que o acompanham de modos que sugerimos as seguintes contribuições:

1 – A oficialização da presença de familiares/acompanhantes junto as camas dos pacientes com uma cadeira / poltrona ao lado, nas instituições de saúde públicas e privadas, fazendo-a constar na documentação interna da instituição.

2 – A definição de uma política interna que protege e rege os direitos e deveres do acompanhante/família a quando do internamento do seu paciente/familiar.

3 – O oferecimento de medidas para satisfação das necessidades dos acompanhantes no que tange a: alimentação, acomodação, sono e repouso.

4 – O desenvolvimento de um programa de orientação sistematizada e supervisão contínua dirigido ao acompanhante/familiar com vista a garantir a sua disponibilidade e potencial de ajuda na execução dos cuidados ao paciente e assegurar a continuidade dos cuidados após a alta.

5 – A definição do papel do acompanhante e o estabelecimento de medidas que visem a sua participação efectiva nas actividades relativas a atenção ao paciente.

Em gesto de conclusão volto a sublinahar que a família é a base fundamental de uma sociedade e o familiar de modo algum deve ser separado do seu paciente quando o mesmo interna, é mister que se crie caminhos para uma solução da presença dos familiares fora do hospital, se deixarmos que o familiar fique numa cadeira próximo do seu paciente acabaremos com as gasosas em troca de informação, se realizarmos uma reunião por semana cada um no seu serviço de internamento com os familiares explicando o seu estado de saúde e ouvir os seus anseios, estaremos a construir pontes para resolução deste problema e incluir a família no processo de tratar e cuidar a pessoas enferma sem exclui-la da sociedade visto que a família é a base de qualquer sociedade.

POR UM SISTEMA DE SAÚDE INCLUSIVO SEM DESCRIMINAÇÃO E EQUIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE SAUDÉMOS O 25 DE SETEMBRO DIA DO TRABALHADOR DASAÚDE!

Luanda ao 25 de Setembro de 2017.