Luanda - A desilusão faz parte dos sentimentos humanos, caso contrário não o seriamos, nem a sentiríamos. A política tem um grande peso na ilusão ou desilusão humana, principalmente, quando abre avenidas ao clientelismo ou a “intuit persona”, por outras palavras, direito de preferência comercial ao “kambismo”.

Fonte: Folha8

A ascensão de João Lourenço criou a ilusão de mudança de paradigma governamental, imbuídos de ser escravo das suas palavras, de redução do gabinete ministerial, mas foi sol de pouca dura, porque a máscara caiu, em pouco tempo. Muito pouco tempo mesmo. Afinal, são todos iguais pois: “vira o disco e toca a mesma keta”, no mesmo salão, com idênticos malandros, “lourençamente” falando…


A desilusão abateu-se na tribo indígena da informação, quando se assistiu à ascensão de João Melo, não para um órgão regulador da Comunicação Social, maos consentâneo com a realidade, mas como ministro da Comunicação Social.


Não houve a tão esperada purificação, mas a continuidade das águas turvas, num órgão desnecessário em regime democrático.


E, numa clara demonstração de fidelidade, a primeira visita, do escritor/deputado/empresário/ministro que deveria marcar a diferença, não recaiu num órgão privado, mas no óbvio, órgão público; TPA (Televisão do Partido), fiel à linha partidocrata.
Desilusão.


Esperar um rasgo, num capítulo de uma obra de ficção, com a personagem ministro a marchar em sentido contrário aos antecessores, é mera coincidência.


Tudo será igual, aliás a discriminação tem sido a tónica e o F8 conhece-a bem, por ser o único órgão privado mais antigo a nunca ter sido visitado por um ministro do MPLA.


Não haverá mudança na discriminação informativa, tão pouco na independência funcional dos órgãos públicos.


A própria “Constituição Jessiana” dá conta disso, vide art.º, 44.º, n.º 3 CRA. “O Estado assegura a existência e o funcionamento independente e qualitativamente competitivo de um serviço público de rádio e de televisão”, mas nunca tal pergaminho (desde o fim de partido único em 1991), foi percorrido, ou algum cidadão sentiu “um funcionamento independente e qualitativamente competitivo”, dos meios de comunicação social do Estado, ostensivamente colonizados pelo regime, com caciques do partido no poder, em todos os sectores nevrálgicos, como garantes da catana e roda dentada para esmagar as opiniões contrárias.


O que se esperava neste consulado, era uma Alta Autoridade da Comunicação Social (órgão regulador) existente nos Estados democrático.
Não sendo, assim, nada se conforma com a “Constituição Jessiana” tratada por eles mesmo como um farrapo, daí a permanente colisão com o art.º 40.º CRA (Liberdade de expressão e de informação), cujo paradigma de referência de Liberdade de expressão, de informação e dos Direitos Humanos, ser a Coreia do Norte, que substitui campos de trigo, pelos de propaganda mental intensiva e construção de bombas nucleares.


Tudo na velha lógica comunista de ser melhor ter arsenal bélico, que silos de alimentos, capazes de retirar da fome extrema, mais de 20 milhões de autóctones angolanos, que na sua infinita ingenuidade acreditam, ser uma provação divina, quando Deus é inocente.


O diabo da crónica má governação é a grande responsável pelo analfabetismo informativo propagado pelos órgãos públicos, capitaneados pelo MPLA, que manda às urtigas, o papel regulador do Estado, segundo o art.º 89.º CRA: “papel do Estado de regulador da economia e coordenador do desenvolvimento económico nacional harmonioso, nos termos da constituição e da lei”.


E, o consulado de João Melo começou onde menos se esperava? Sim, num órgão público, de muitos negócios e interessando, desde logo, marcar posição e alertar Helder Barber, alegadamente, na linha vermelha de puder ser “chutado”, devendo começar a arrumar as malas, tal como Henrique Júnior, considerados, ambos homens de Manuel Rabelais.


No Jornal de Angola, por razões óbvias a solidariedade de João Melo dará respaldo a continuidade ideológica funcional e as múltiplas afinidades. Desde logo não esquecer, que tendo sido um dos mentores de um órgão entre aspas “privado”, o Correio da Semana, parido das entranhas do e no Jornal de Angola, por sinal um dos bastiões mais sanguinários contra a diferença de opiniões e a democracia, co-responsável dos assassinatos selectivos do 27 de Maio de 1977.


Este órgão, dirigido por um escritor, Costa Andrade, assessorado por Artur Pestana Pepetela agitou e coagiu a mente de milhões com a propaganda diabolizante, contra uma parte da intelegentizia autóctone e patriótica de então.


Por tudo isso fiquei com a ilusão que João Melo desse uma “bahya” no passado e já que não extinguiram o ministério da comunicação colocasse coadjutores, desligados da intolerância, dos negócios e da bajulação ostensiva ao templo.


Poderia escolher não um quadro da oposição, mas alguém com carisma e respeitabilidade, junto da classe, tal como Reginaldo Silva, mas não, optou pela linha vermelha.

Mas, reconheçamos, aqui, num princípio de coerência, com a natureza empresarial partidocrata dos governantes, o ministro empresário, concedeu direito de preferência ao seu sócio, na empresa privada de comunicação social, Movimento, Celso Malavoloneke, camarada comprometido ideológica e comercialmente.


Considerado um quadro de reconhecida competência, tem contra si o carácter de intolerância contra todos quantos não comunguem das mesmas posições e disso, não se coíbe de destilar nas redes sociais, uma violência verbal extrema, principalmente contra a UNITA, a restante oposição ou membros da sociedade civil.


A desilusão não recai no facto de ambos não poderem ser sócios, têm legitimidade de ser empreendedores, mas no actual contexto, será que estão, juridicamente, no pleno gozo da capacidade civil? Sendo os dois empresários, não estarão impedidos?

Uns pensam, com certa razão, poderem ser tentados, a realizar negócios com eles mesmos, a partir do ministério da comunicação social, elevando a promiscuidade aos píncaros.

O alento de João Melo e Celso Malavoloneke é não estarem a correr sozinhos, na via expresso, têm robusta companhia, licenciada, mestrada e, até doutorada, na alta corrupção…

Como eu gostaria de estar enganado e tudo isso não passar de “um sonho, que sonhei sozinho e, cujas consequências a não transbordar o meu umbigo”, pois as sociedades secretas comerciais dos ministros e nos governos do MPLA, são a bíblia dos ex-proletários que se transformaram em proprietários vorazes.