Luanda - O novo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, vai ter de realizar um "ajuste cambial eficaz" da moeda angolana, que se encontra "sobrevalorizada" face ao dólar norte-americano, reconhece o Governo.

Fonte: Lusa

As mexidas no kwanza angolano fazem parte do Plano Intercalar do executivo a seis meses (outubro a março), para melhorar a situação económica e social do país, documento ao qual a Lusa teve hoje acesso.

 

Aprovado a 10 de outubro, na primeira reunião do conselho de ministros presidida pelo novo chefe de Estado, João Lourenço, o documento reconhece que "algumas medidas de política necessárias e inadiáveis podem ser impopulares" e por isso "politicamente sensíveis".

 

As medidas de gestão cambial já serão implementadas pelo novo Governador do BNA, José de Lima Massano, empossado hoje no cargo - o mesmo que ocupou até 2015 - pelo chefe de Estado, em substituição de Valter Filipe, que estava em funções desde março de 2016.


"Para o Quadro Macroeconómico de Referência 2018, prevê-se o ajustamento controlado da taxa de câmbio, com vista a redução do diferencial cambial entre os mercados formal e informal, a flexibilização do mercado, sem prejuízo da estabilidade do nível geral de preços da economia", lê-se no documento aprovado pelo Governo, que não aponta o valor ou forma de desvalorização do kwanza.

 

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, conjuntura que afetou, por exemplo, o acesso a divisas nos bancos comerciais para garantir a importação de matérias-primas, máquinas ou alimentos.

 

O Governo reconhece, no mesmo documento, que as taxas de câmbio nominais dos mercados primário, secundário e informal "depreciaram-se 70%, 71% e 261%, respetivamente", desde a crise.

 

A taxa de câmbio oficial do BNA, inalterada há mais de um ano e meio, coloca o dólar a valer 166 kwanzas, contra uma cotação, no mercado informal, que está acima dos 400 kwanzas.

 

Apesar da desvalorização já realizada, o Governo angolano conclui que a moeda nacional "continua sobrevalorizada", não acompanhando a taxa de câmbio real em 2017, "devido, em parte, às pressões inflacionistas acentuadas".

 

"Esta dinâmica de apreciação da moeda nacional, em termos reais, reduz a competitividade da economia nacional e é um constrangimento para o processo da diversificação da economia e das exportações", lê-se.

 

Acrescenta que o ajuste cambial efetuado nos últimos três anos "levou à deterioração de variáveis económicas", como a inflação (42% em 2016), mas "terá sido, em parte, ineficaz".

 

"Assim, torna-se necessário um ajuste cambial eficaz, que deverá obter-se por via de uma combinação adequada de medidas e ações que propiciem a desinflação e a redução do spread cambial entre os mercados primário e informal, isto é, a eliminação da sobrevalorização da moeda nacional", prevê o Governo.

 

Em declarações recentes à Lusa, o diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola admitiu como inevitável uma desvalorização da moeda angolana.

 

"Claro que o kwanza vai ter de ser desvalorizado, no mínimo em 30%. Estou para ver como o novo executivo vai lidar - evitando - a repercussão desta medida sobre o aumento da taxa de inflação, num país que está estagnado no seu crescimento económico", disse Manuel Alves da Rocha.