Luanda - A consultora BMI Research considerou hoje que Angola pode ter dificuldades em honrar os compromissos financeiros se os preços do petróleo descerem inesperadamente por causa da elevada dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB).

Fonte: Lusa

"Esta dependência significa que qualquer descida inesperada iria colocar uma pressão substancial na capacidade do Governo para cumprir as suas obrigações", escrevem os analistas da BMI numa nota de análise sobre as finanças angolanas.

Na nota, enviada hoje aos investidores, e a que a Lusa teve acesso, esta consultora do grupo Fitch escreve que "o colapso nos preços do petróleo entre 2014 e 2016 deixou Angola com um fardo da dívida estruturalmente elevado, que vai influenciar a posição orçamental nos próximos anos".

Os analistas preveem que a dívida pública vai passar de 35,4% do PIB em 2014 para uma média de 66,2% nos próximos dez anos, sendo que quase 30% da dívida é detida em moeda estrangeira.


"Suportar os custos da dívida pode brevemente tornar-se problemático se os preços do petróleo não recuperarem o suficiente ou se o banco central optar por uma significativa desvalorização da taxa de câmbio oficial", notam os analistas.

Além do risco do preço do petróleo não recuperar, a BMI aponta ainda que o câmbio fixo face ao dólar "significa que o kwanza está significativamente sobrevalorizado em termos de taxa de câmbio efetiva", por isso se os preços do petróleo caírem de repente, a BMI espera "que o volume de reservas estrangeiras diminua, tornando a paridade impraticável".

Isto, concluem, poderia "forçar uma grande desvalorização da taxa de câmbio, aumentando os custos de servir a dívida em moeda estrangeira".

O nível de dívida pública em Angola, de acordo com os números divulgados este mês pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), estava no final de 2016 nos 75,8%, bem acima da média da África subsaariana, cuja relação entre a dívida pública e o PIB situava-se nos 43,2%.

Já esta semana, numa intervenção em Londres, o diretor do departamento africano do FMI considerou que a dívida pública era o problema económico mais importante que os países desta região tinham para resolver, não só pelo volume de dívida, mas também pelo ritmo de crescimento, que acelerou significativamente nos últimos dois anos.