Lisboa -  Na  semana passada, o ministro do Interior de Angola, Ângelo de Barros Tavares ao distanciar-se das praticas de assassinatos levadas a cabo pela Polícia  de Investigação Criminal, trouxe ao de cima uma auto confissão assumindo taxativamente ser o autor da operação que resultou na condenação do antigo Comandante   provincial de Luanda,  Joaquim Vieira Ribeiro.
 
Fonte: Club-k.net
 
Como diz o adagio  popular: “o Peixe morre pela boca” 
 
“Saiba pois  que foi esta pessoa que agora acusa de assassino que, enquanto Vice-Ministro do Interior e por orientação expressa do Presidente da República coordenou a comissão de inquérito num dos casos mais badalados e que envolveu um oficial Comissário e vários superiores e propôs que o mesmo merecesse tratamento criminal que culminou com a condenação de oficiais da Polícia Nacional”, le-se no seu direito de resposta, em reação  ao teor de uma entrevista do jornalista Rafael Marques de Morais em que se sente difamado. 
 
 
Durante os últimos seis anos, a sociedade angolana   acreditava que a cabala montada contra o comissário Joaquim  Ribeiro teria sido montada pelo antigo ministro do interior e ex-DG do SINSE, Antônio José  Sebastião Martins.  As suspeitas sobre a implicação de Martins era sustentada pelo facto de  operação ter como figura um subordinado seu, Miguel José Luís Muhongo, na altura dos factos, ocupando o cargo de chefe do departamento do Crime organizado do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado, hoje colocado como delegado provincial da secreta nas Lundas. 
 
 
A participação de Miguel  Muhongo por se tratar de um alto funcionário da secreta dava convicção de que Sebastiao Martins  estaria mesmo  por detrás da operação sobretudo aos métodos violentos  que teria recorrido para colher confissão das suas vitimas. 
 
 
Na altura,  o ex-ministro  Sebastião Martins, os familiares de Quim Ribeiro e a imprensa privada com destaque para o Folha-8, detonaram contra Sebastião Martins  por os seus subordinados  terem recorridos a métodos menos exemplares nesta operação.  Numa tentativa de acalmar os ânimos das famílias, Martins teria justificado em fóruns próprios que os alegados   interrogatórios (violentos) feitos pela corrente de Miguel Muhongo  estavam a ser avançados fora do seu conhecimento.
 
 
A recente confissão de Ângelo Tavares não só iliba   Sebastião Martins de métodos poucos recomendáveis na operação contra Quim Ribeiro como também  trás a superfície,  esclarecimento das  antigas suspeitas de que o ex-patrão da secreta estava a ser “apunhalado” pelo seu próprio “Vice” que acabou por lhe tomar o lugar.    
 
 
O antingo vice ministro Ângelo Tavares, coordenou tais operações sem que o seu superior hierárquico se apercebesse tanto do ocorrido e sobretudo de ter tido a sua disposição um alto funcionário da secreta (Miguel Muhongo) que tinha boas relações com Sebastião Martins. 
 
 
Ao nível do ministério do interior, era consabido que as relações entre o então ministro Sebastião Martins e o seu  “Vice”   Ângelo Tavares não eram das melhores.   As coisas azedaram-se depois de Martins ter sido afastado e Ângelo Tavares, nas vestes de novo  ministro  ter coordenado as operações  em torno do caso Isaías Cassule e Alves Kamulingue, os dois  executados   pela Polícia de Investigação Criminal, em Maio de 2012.
 
 
Em meios da inteligência angolana,    dizia-se que o então  delegado do SINSE de Luanda, António Vieira Lopes havia  sido persuadido  pelas autoridades no sentido   de  apresentar uma versão a implicar o seu antigo Chefe da Secreta, Sebastião Martins.  A recusa do mesmo resultou na condenação por um tribunal de primeiro instancia. O Tribunal Constitucional inocentou quatro anos depois por não ter ficado provado que a ordem de execução partiu de si. 
 
 
No seu -  direito de resposta - em forma de confissão Ângelo Tavares auto se proclama desta operação dizendo que  “Foi esta pessoa que o senhor (Rafael Marques de Morais) acusa de assassino a quem o Presidente da República incumbiu a tarefa de tudo fazer esclareceras mortes de dois activistas, com graves repercussões para a imagem do país a nível nacional e internacional , e num trabalho digno de registo do Serviço de Investigação Criminal e posteriormente do Procuradoria Geral da República o caso ficou devidamente esclarecido e levado a justiça”.
 
 
Ângelo Tavares assume com regozijo   a paternidade do “trabalho digno” da investigação em torno do caso dos    activistas executados   pela polícia de investigação criminal, porém, não  esclarece a opinião pública  porque permitiu a fuga  do agente do SINSE  Benilson Pereira Bravo da Silva “Tuchinho” que atraiu Isaías Cassule à morte. O actual ministro também não explica porque   colocou de fora do processo,  o tenente-general José Filomeno Peres Afonso da Secreta  Militar  mesmo depois de em tribunal, um dos réus  Júnior Mauricio “Chéu”, afecto ao  gabinete técnico do MPLA,   ter confessado que foi deste  oficial general  que recebeu ordens para o destino dado a Isaías Cassule. 
 
 
Para o activista  Pedro Malembe, “O Presidente João Lourenço deve demitir  o Senhor  Ângelo  Tavares por  não reunir condições morais  para servir um governo que quer distanciar-se das praticas de execuções em Angola”.
 
 
Malembe que hoje carrega no rosto uma cicatriz fruto da tortura por parte dos  subordinados de Ângelo  Tavares, do comando municipal do Sambizanga,  acredita o novo chefe de Estado terá coragem de mandar fazer um inquérito as execuções que o SIC desencadeou este ano e que foram denunciadas pelo jornalista Rafael Marques. “Para esta tarefa, o senhor presidente não pode contar com um ministro que no caso Cassule e Kamulingue mandou  uns para tribunal  e deu  cobertura aos verdadeiros autores do crime, que hoje estão soltos”.
 
* Paulo Alves