Lisboa – A sintonização com que José Eduardo dos Santos justificou o conceito de nepotismo, antecedida por iniciativa semelhante por parte da filha Isabel dos Santos, deu azo a interpretações de que o líder do MPLA, foi assessorado pela sua primogênita na mais recente reunião/intervenção partidária.

Fonte: Club-k.net 

Indicou a melhor amiga da filha para o Bureau Político

No dia 28 de Novembro, Isabel recorreu as redes sociais (twitter) para alertar que “a palavra nepotismo significa a promoção de uma pessoa incompetente para um determinado cargo pelo único facto de ser membro da sua família”. Passado duas semanas, José Eduardo dos Santos (JES) transportou, as teses da filha para a reunião do Comitê Central, defendendo que, apesar das várias definições e discussões à volta do assunto, os cidadãos qualificados não deviam deixar de ser nomeados pela razão de parentesco, ao contrário do branqueamento de capital, que considerou "sempre condenável", tendo em conta que está subjacente uma actividade ilícita.

 

Um outro detalhe revelador de que o líder do MPLA, tem sido “comandado” pelas filhas, foi a indicação de Yolanda Brígida Domingos  de Sousa, 35 anos,  para integrar o Bureau Político. Yolanda de Sousa é neste momento a melhor amiga de Tchizé dos Santos.

 

Desde que entrou em divergência com a JMPLA defendendo que esta organização carecia de disciplina, a deputada Tchizé dos Santos veio assumir-se como defensora de uma alternativa para a liderança da juventude do partido.

 

“Apelámos à direcção da JMPLA que identifique, que saiba quem dentro da JMPLA está a causar (…) distúrbios, que discipline, que puna, quem de facto está a tentar criar desunião. Apelo à direcção do MPLA que se empenhe (…). Há que pôr ordem na casa. Em vésperas de eleições tem que se pôr os pingos nos is e pôr os camaradas no lugar”, defendeu Tchizé dos Santos, numa mensagem áudio difundida em Janeiro deste ano.

 

Yolanda de Sousa, antiga líder da associação dos estudantes do ensino superior de Angola, é a figura a quem Tchizé veem apresentando como tendo qualidades para se apresentar como próxima candidata a presidência da JMPLA, nos próximos dois anos.

 

Ao entrar para o BP do MPLA, Yolanda de Sousa tem meio caminho andando, uma vez que para liderar a JMPLA, deve se estar por inerência de funções neste órgão do partido no poder. Até ao momento, varias correntes na juventude do partido, acreditam que a cooptação de Yolanda para este órgão partidário tratou-se de uma satisfação às vontades políticas de Tchizé dos Santos.

 

Antecedentes: O poder que filhos de JES tinha de fazer “cair” governantes

 

Quando era chefe de Estado, José Eduardo dos Santos tinha a fama de ter nos filhos o seu ponto fraco, e de fazer às suas vontades, por conta disto, permitia que estes influenciassem  na nomeação e na queda de membros do governo, cujos exemplos o Club-K, trás em retrospectiva.

 

Certo dia Isabel dos Santos foi a sede da Endiama para ser recebida pelo então diretor-geral José Dias, com quem desejava abordar assuntos ligados a cedência de uma parcela de minas de diamantes nos leste do país. Neste dia, Isabel dos Santos ficou irritada por lhe terem feito esperar para ser atendida e por lhe terem negado o seu pedido, ao qual o então diretor alegava ser uma reserva do Presidente José Eduardo dos Santos. Ao sair da sede da diamantífera estatal, Isabel dos Santos, que tem a reputação de ser rancorosa, foi ter com o seu pai-Presidente e passado dois dias às rádios anunciaram a exoneração de José Dias. Em seu lugar foi nomeado o economista Arnaldo Calado.

 
Com a nomeação de uma nova direção na Endiama, Isabel dos Santos deixou de ir a esta empresa. Entretanto, sempre que quisesse tratar assuntos relacionado a sua Ascorp, a mesma convocava o novo diretor Arnaldo Calado e este é quem ia ao seu encontro.


 Numa certa tarde de Janeiro de 2004, Isabel dos Santos teve um desentendimento com o então governador de Luanda,  Simão Mateus Paulo que a chamou atenção pelo facto da sua empresa “Urbana 2000” ter andado a falhar no sistema de recolha de lixo deixando a cidade de Luanda, com amontoados de lixeiras. As 20h30, deste mesmo dia, a TPA anunciava a exoneração do então governador de Luanda.

 

Isabel dos Santos foi também responsável pela nomeação de Antônio Carlos Sumbula, como PCA da Endiama. Antes da saída de JES do poder, moveu influencia para recondução de Sumbula para mais 5 anos. JES fez às vontades da filha, mas na sequencia da eleição de um novo Presidente da República, Carlos Sumbula seria afastado, depois de dois meses da sua recondução.

 

Ainda antes de JES, deixar o poder, a sua primogênita convenceu lhe a alterar os Estatutos da Sonangol e transferir para ela, como então PCA, poderes que eram do titular do poder executivo.

 

Tchizé dos Santos também detinha certo poder  de influenciar nas nomeações embora não muito na dimensão de Isabel. Quando regressou dos Estados Unidos, depois do incumprimento da sua formação, deu uma entrevista a revista Figuras e Negócios do jornalista Victor Aleixo, dizendo que o seu sonho era ter um canal de televisão. Passado alguns anos, o Pai-Presidente orientou ao então ministro Manuel Rabelais a entregar o canal2 da TPA aos filhos.

 

No inicio de 2013, quando Tchizé dos Santos sentiu que o então ministro da construção Fernando Fonseca não estava a dar prioridade as suas empresas no ramo das obras de construção, esta filha de Eduardo dos Santos resolveu a solução influenciando a nomeação de um novo ministro Waldemar Pires Alexandre.

 

Por outro lado, o irmão Zenú dos Santos ao notar mais tarde que Tchizé dos Santos teria se desligado do então ministro Waldemar Pires Alexandre, indicou, ao pai, o nome de Artur Carlos Andrade Fortunato, para ser nomeado como novo titular do ministério da construção. A data anterior a sua nomeação, o então ministro Andrade Fortunato fazia parte do conselho de administração do fundo soberano comandado por Zenú dos Santos.

 

Zenú dos Santos foi também responsável pela exoneração do ex-ministro das finanças Armando Manuel. Ambos desentenderam-se quando Zenú exigiu, sem qualquer suporte legal, que o Ministério das Finanças libertasse qualquer coisa como 500 milhões de dólares para acudir a necessidades do Fundo Soberano, cujos cofres, estavam inexplicavelmente vazios.  Perante a recusa de Armando Manuel, o presidente do FSDA teria partido, primeiro, para ofensas à honra e dignidade do outro, evocando, insistentemente, o nome do pai, que, segundo ele, seria o dono de tudo neste país. 

 

Há também registros de não atendimentos de pedidos dos filhos por parte do  pai-Presidente, tal como aconteceu no congresso passado do MPLA em que José Eduardo dos Santos, deu às voltas a um pedido da filha Tchizé dos Santos que pretendia ver indicado para o Comitê Centra, um amigo Mario Domingos Durão. Para compensar a desfeita, JES agradou agora a filha com a indicação da melhor amiga desta, neste caso, a jovem Yolanda de Sousa para se tornar na próxima Primeira Secretaria Nacional da JMPLA, em substituição de Joaquim Luther Rescova.

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