Luanda - O comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-geral Eduardo Mingas “Panda”, quer ver devolvidos os serviços de Logística da Polícia Nacional, que se encontram sob controlo do ministro do Interior, Ângelo da Veiga Tavares.

Fonte: Novo Jornal

A insatisfação pelo descontrolo da Direcção de Logística está a ser manifestada pelo comissário-geral durante as suas intervenções em encontros com responsáveis da corporação.


Na última sexta-feira, dia 5, o novo homem forte da Polícia Nacional apelou à sensibilidade das estruturas superiores para que cooperem, sublinhando que o comando completo das forças, meios logísticos e administrativos “são condições sine qua non para o exercício da actividade operacional”.


O comissário-geral, que intervinha na cerimónia de cumprimentos de Ano Novo, disse que quer ver reposta a autoridade de comandante-geral, para passar a ter o controlo completo das forças e meios logísticos da corporação. “Estas e outras premissas suportam a nova visão estratégica da Polícia Nacional para os próximos anos. Mas, para o seu sucesso, é imperioso que os comandantes, oficiais, comissários, superiores, subalternos e agentes façam um exame de consciência sobre o seu papel na corporação, que está ‘infestada’ de males e vícios, alguns dos quais ‘crónicos’, que urge banir completamente”, declarou o comandante.


Esta terça-feira, 8, o comandante-geral reiterou a sua intenção, mostrando-se descontente com o estado de funcionamento da Direcção Nacional de Logística, de quem solicitou a apresentação de um relatório crítico sobre o estado de organização e funcionamento daquele órgão, que tem a missão de prover os meios materiais e alimentares para a Polícia Nacional. “Quem não tem uma logística organizada não pode ir a lado nenhum, e a Logística é parte dos problemas que hoje a Polícia enfrenta”, ressaltou Eduardo Mingas, quando visitava as instalações da Logística, localizada na Av. Comandante Fidel Castro, popularmente designada Via Expressa, em Luanda.


Para o comandante-geral, a Direcção de Logística teria sido reduzida de forma “tendenciosa” a “nada” nos meandros policiais. “Não sei se foi de forma tendenciosa que reduziram a importância da Logística a esse ponto. Basta olhar para o local onde viemos parar. Ela está completamente subordinada à direcção do Ministério do Interior. Portanto, ela foi reduzida na sua forma e conteúdo”, reclamou a alta patente.


A novela à volta do controlo da Direcção de Logística da Polícia Nacional não é nova e remonta ao ano de 2012, altura em que Ângelo da Veiga Tavares tomou posse como titular da pasta do Interior.


À época, já o ex-comandante-geral Ambrósio de Lemos reclamava a titularidade da Logística, que viu ser “usurpada” pelo ministro do Interior, facto que tornava tenso o clima nas relações entre ambos, de acordo com fontes conhecedoras do processo.


As fontes, que presenciaram o episódio, lembram que a crispação entre o ministro e o antigo comandante-geral era visível nas reuniões operativas semanais às segundas-feiras, em que o ministro desferia ataques verbais contra Ambrósio de Lemos.


De acordo com os interlocutores, o controlo exclusivo da Direcção Nacional de Logística da Polícia Nacional pelo ministro do interior tem criado desentendimentos sobre a gestão dos fundos destinados à corporação.

As fontes queixam-se de carência de fardas, botas, viaturas para patrulhamento e até da falta de abastecimento alimentar regular nos comandos e divisões policiais de Luanda e no interior do país. Dizem mesmo que há unidades que ficam meses sem receber dotação alimentar e quando acontece são abastecidos com “três sacos de arroz, três sacos de fuba de milho e uma caixa de óleo para um período de três a quatro meses, para alimentação de centenas de agentes policiais de várias unidades.

Por conta da situação, de acordo com os queixosos, o patrulhamento quase já não é realizado em várias zonas do país. “Os polícias fazem turnos, mas quase não comem por falta de comida, e quando aparece é uma alimentação que entristece. Tudo por conta do egoísmo do ministro do Interior”, lamentaram os queixosos, que aplaudem a iniciativa do novo comandante-geral de ver devolvidos os meios logísticos da corporação.
A Polícia Nacional, segundo fontes, conta com mais de 100 mil homens nas suas fileiras.

A maior dotação orçamental do Orçamento Geral do Estado é canalizada para a Direcção Nacional de Logística, para o aprovisionamento das condições técnicas, matérias e sociais da corporação.