Luanda - Depois da "subida" ao poder do General João Lourenço, tudo parece querer mostrar o grau de abertura para um verdadeiro ambiente democrático, como que a marcar o encerrar de uma era (com a retirada da cena política activa do engenheiro José Eduardo dos Santos) e o abrir de uma nova era (com a tomada de posse de um novo Presidente, depois de 38 anos de verdadeiro "tudo para nós, nada para os outros".

Fonte: Facebook

Para fazer jus a essa abertura, a TPA resolveu "misturar um pouco as cores" e chamar para o palco dos debates e da emissão de opiniões outras pessoas representando outras coisas que não fossem o "vermelho-preto-amarelo" do MPLA. Todos os angolanos aplaudiram o feito.

Para dar o pontapé de saída, Vigílio Tyova (pelo MPLA), Lindo Bernardo Tito (pela CASA-CE) e Raúl Danda (pela UNITA) para trocarem impressões sobre "Os 100 Dias de João Lourenço). Eu próprio fiquei animado e disse que poderíamos estar em presença de um verdadeiro virar de página, em verdadeiro rompimento com o passado. Mas até quando e até onde iria esse Sol brilhar? 48 horas! Apenas 48 horas foram suficientes para mostrar que "por mais que um papagaio 'fale' bom português, quando se lhe pega na cauda ele não diz 'tira a mão', fazendo antes o 'kyon-kyon' que está na sua génese.

Convidado para ser o "comentador-residente" às quintas-feiras (com Justino Pinto de Andrade-CASA-CE às quartas e Norberto Garcia-MPLA às sextas), a minha estreia foi catastrófica: o Administrador Francisco Mendes e o Director Paulo Julião falaram comigo sobre as modalidades: eu deveria sugerir o tema sobre o qual comentar, podendo a TPA também fazer essa sugestão e concertar comigo. Ontem (quinta-feira, 11 de Janeiro), o Sr. José Camangula (TPA) dizia, ao telefone, que as regras seriam um pouco diferentes, sendo que, de um total de 3 temas para comentar, a TPA indicaria 2 e eu escolheria um.

Ficamos assim acordados. Deste modo, a TPA (através do Camangula) sugeria que eles propunham (1) "Redução do preço dos bilhetes de passagem Luanda-Cabinda-Luanda"; (2) "morosidade na entrega dos BIs aos cidadãos que os tratam"; (3) tema livre de minha escolha, tendo eu sugerido falar dos "Caminhos da transparência", onde abordaria: (1) o caso Fundo Soberano, com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta pela UNITA e a exoneração do Conselho de Administração daquela instituição pelo Presidente Jlo, como forma, a meu ver, de evitar a CPI e, por via disso, branquear a situação; (2) a relutância, pelo Grupo Parlamentar do MPLA, de levar a debate o projecto de lei sobre o Regime Extraordinário de Regulação Patrimonial (RERP), para tratar da problemática do repatriamento dos capitais roubados do país e levados lá fora; e (3) a grave e gravosa limitação constante da lei ainda em vigor relativamente à transmissão da sessões parlamentares. Seria uma oportunidade para avaliarmos a existência ou não de uma real vontade política de termos instituições que pugnem pela transparência na governação.

Ora, 10 minutos antes de o telejornal da TPA ir para o ar ontem, disseram-me que devia primeiro falar com a editora Quieza para, mais uma vez, vermos as modalidades da minha intervenção. Alguma coisa estava já a cheirar muito mal. Com efeito, a Quieza procurou por todos os meios demover-me do tema de mimha escolha, sugerindo que o substituísse pelo assunto das autarquias, levantado pelo Dr. Isaías Samakuva após o seu encontro com o Governador de Luanda. Voltei a insistir que as regras fossem respeitadas, pelo que eu não abdicaria do meu tema. Concordei com a Quieza sobre a questão das autarquias, sugerindo que esse. Tema tomasse o lugar dos bilhetes de identidade, já que a morosidade na entrega dos mesmos não constituía qualquer novidade. A Quieza disse concordar mas afinal era tudo truque. Já no estúdio, com o telejornal no ar, o Paulo Julião reiterou à apresentadora, visivelmente agastada também com aquele embrulhar de coisas, quem o meu tema fosse definitivamente excluído.

Fiquei indignado e foi sem grande entusiasmo que teci os comentários ontem à noite. Depois daquela palhaçada, nem o Paulo Julião teve a hombridade de me vir dar uma explicação (mesmo mentindo) sobre aquele teatro. É mesmo assim que a TPA vai fazer a tal "abertura"? Se não se sente preparado a agir de modo contrário ao das "ordens superiores", está então a inventar essa treta para quê? Show-off para inglês ver? Imagine-se que até me foi dito que eu não devia comentar o caso "Fundo Soberano" só porque o Filomeno Vieira Lopes já se tinha regerido a isso, no dia anterior, como se tivéssemos a mesma visão das coisas!....

O meu recado à TPA é o seguinte: ou consegue mudar e faz as coisas com ética, transparência e verticalidade, ou o melhor será continuarem na vossa "comunicação monopartidária", assumindo que ainda não conseguiram ganhar coragem e forças para mudar. Ou tratarão da mesma forma o vosso convidado do MPLA? DUVIDO! Deixem, pois, de ridicularizar os vossos convidados que até não vos endereçam pedidos para ir comentar. Quanto a mim, se isso volta a acontecer, não contem mais comigo."