Luanda – De súbito, o nome de António Francisco Manuel, vulgo Tony Fancy, um quase desconhecido jornalista da Huíla, transpôs as terras altas da Chela e projectou-se além-fronteiras… À conta de uma pergunta ousada, talvez trivial ao Presidente da República de Angola, feita na semana passada, ele ficou conhecido como o jornalista da Rádio 2000 do Lubango que apresentou, durante a conferência de imprensa, um «caderno reivindicativo» ao Chefe de Estado…

Fonte: Texto retirado na página do autor no facebook

Deixando transparecer uma certa ingenuidade e imaturidade, o profissional da rádio privada do Lubango confrontou o PR com uma questão pessoal de natureza salarial. Pecou por não ter despido o cunho pessoal num assunto que, na realidade, afecta um número considerável de jornalistas da imprensa privada que, convenhamos, auferem baixos soldos e enfrentam uma miríade de dificuldades no exercício das suas funções.

Ainda que o contexto não tenha sido o melhor para a abordagem do tema, ficou, porém, subjacente na exposição do jornalista em causa que há problemas graves na comunicação social privada que requerem a atenção do Estado.

Colateralmente, vieram à tona uma série de questões, tais como a insubordinação e indisciplina por parte do jornalista que chegou a ser publicamente demitido, suspenso e mais tarde «readmitido», num conturbado processo de avanços e recuos…

Se é certo que a conduta de Tony Fancy é passível de procedimento disciplinar por parte da entidade disciplinar, não é menos certo que houve sinais em alguns sectores no sentido de se valorizar o banal, privilegiar o periférico em detrimento do essencial, mais concretamente o dever que compete ao Estado no sentido de prestar os incentivos aos órgãos de comunicação social privados.

Não estou a falar concretamente de salários, mas de incentivos consagrados na Lei de Imprensa que em muito ajudariam a reduzir os encargos desses órgãos, o que lhes daria um certo conforto para a melhoria das suas condições salariais.

O Estado não estaria a fazer mais do que lhe compete, ao abrigo do 15.o da Lei de Imprensa, que estabelece o sistema de incentivos de apoio aos órgãos de CS nacional e local, com vista a «assegurar um pluralismo da informação e livre exercício da liberdade da imprensa e o seu carácter de interesse público».

No âmbito da promoção da democracia e no interesse público, que passa necessariamente pela existência de uma imprensa livre e plural, o Estado, ao invés, de demitir-se das suas responsabilidades sociais, poderia colocar à disposição dos «privados» um parque gráfico para impressão dos jornais com custos baixos, promover a subvenção do papel, assim como a redução dos impostos as empresas que invistam em publicidade nas rádios, jornais e TV´s privados, dentre outras medidas.

Não basta criticar a postura do jornalista da rádio 2000 pela forma como apresentou o assunto, assim como o seu acto de insubordinação em relação à entidade patronal, mas apresentar propostas em conformidade com a lei para tirar a imprensa privada do sufoco que actualmente (sobre) vive.