Luanda - Na companhia dos vossos filhos, como família núcleo transmissor da vida, Saúdo-vos e desejo-vos saúde e coragem na governação de Angola e do seu povo. Sendo assim, estimado casal presidencial, permita-me a ousadia, mais uma vez, de nunca me calar perante os problemas do meu querido país e de vos deixar conselhos e pedidos como filho desta Angola, que augura o melhor para o bem-estar do seu povo e anseia ao casal presidencial um lugar indelével e resplandecente nos anais da história de Angola, de África e do mundo civilizado e desenvolvido.

Fonte: Club-k.net

Também permita-me, casal presidencial, usar uma linguagem do povo, do campo, da pastorícia. Eu acredito que muitos dos meus concidadãos angolanos que desejam uma Angola moderna e desenvolvida, pensam o mesmo que eu, embora não o expressem, por isso, faço-me voz e portador dos sem voz, desta Angola profunda, escondida e esquecida nos recônditos das circunscrições territoriais (de Cabinda ao Cunene, de Benguela ao Moxico) aqui onde vivemos nos SHITHOLE” (lugar de merda) entregues aos SHITs (merdas) vossos amigos governadores e administradores (não amigos e servidores do povo) incompetentes abocanhadores do orçamento de todos nós e que converteram as nossas províncias e municípios em HOLEs (lugares desagradáveis). O senhor presidente assume-se como um reformador do estado angolano que se encontra caduco, anacrónico, caótico, psicótico e insalubre, catapultando-o para um novo paradigma auspicioso, congregador, desenvolvido, igualitário e sem assimetrias regionais, por isso, se autointitula de Deng Xiaoping dos nossos tempos.


Na verdade, essa filosofia reformadora Dengxiaopinguista vai de encontro às esperanças e aos sonhos de todos os angolanos de mente sã, de valores humanistas e de volições empreendedoras. A minha pequena contribuição passa, essencialmente, por quatro pilares inadiáveis para a conjugação e a partilha de ideias para uma harmoniosa e parcimoniosa transformação de Angola rumo a um país de sucesso socioeconómico, captação de investimento, diversificação da economia e da eliminação de assimetrias regionais, isto é, de um país de oportunistas para um país de oportunidades para todos. Esses pilares são:

(1)- ÁGUA, (2)ENERGIA, (3)- ESTRADAS (VIAS DE ACESSO) e (4)- SEGURANÇA.

Apesar de ter um curso superior, não sou formado em planeamento e reformas, nem em economia e finanças, apenas sou um agricultor e criador de gado na minha província Cunene. Por isso mesmo, a vida dura do campo e da gestão do tempo e do espaço entre a savana (para cuidar do gado) e o campo (para cuidar da lavra) me ensinaram que não haverá diversificação da economia em Angola enquanto esses quatro pilares básicos não forem dirimidos e solucionados. Explicarei o porquê de cada um. O senhor presidente João Lourenço pode ser um génio da economia, de formas e ter orçamento bilionários de apoio e atração ao investimento e de todas as reformas possíveis, mas nunca será um Deng Xiaoping dos nossos tempos enquanto não apostar e investir seriamente nesses quatros pilares.


ÁGUA: Senhor presidente, uma povoação, uma comuna, um município, uma província ou um país sem água não atrai ninguém. Simples. Aprendemos na escola que água está presente em 70 ou 80 por cento dos corpos, e ela é a VIDA. Assim me ensinaram os professores. E penso que eles não me enganaram como os ideólogos do MPLA que nos enganam a torto e a direito. Senhor presidente, senhores governadores e senhor administradores, como podem vender e convidar um empresário sério (que tem o seu capital fruto do seu suor honesto) a investir num lugar onde não há água? Pensam que os empresário e pessoas serias são loucos como são loucas as vossas políticas infrutíferas? Tinha muito para dizer sobre a importância da água para uma política de investimento e para o desenvolvimento de um país, de uma província, de uma comuna e de uma povoação, mas o espaço é pouco. Cada leitor e angolano acrescente mais razões com a sua visão da realidade e do contexto em que vive.

ENERGIA: Casal presidencial e fanfarrões de atracão de investimento, sabem o que significa a energia para a diversificação da economia? Sem falar de coisas complexas da economia e do empresariado, como podem vender ou convidar (atrair) um empresário sério para se instalar num matagal à luz de lanternas? Ou em Angola já se fabricam computadores, máquinas industriais, máquinas registadoras nas lojas de venda, lâmpadas de iluminação de casas, etc., que se alimentam à energia das baterias humanas (tomates, testículos) dos bajuladores? Sabem quanto custa um bidon de gasolina para atestar o meu motor de iluminação e os transtornos que me causam todos os dias?

Querem cobrar impostos sobre os lucros das vendas de todo tipo de produtos e serviços? Já foram à Namíbia, aqui minha vizinha, aos Estados Unidos da América, ao Brasil, à China, etc., etc.? Viram por lá que todas as vendas e serviços são registados numa máquina à porta de saída e que vos dão um papel (talão) e eles ficam com outro? Exatamente, aquela máquina está ligada a energia e é a partir desse papel (talão) que os contabilistas e as finanças podem se basear para cobrar tal imposto que ajuda o estado a prestar serviços ao seu povo e punir os infratores. Ou os senhores querem diversificar a economia informal? Essa é a que já temos, não registada nem taxada, que nem favorece ao Estado, pelos impostos que não cobra, nem as pessoas que vendem e compram, porque o Estado não sabe quem são e o que fazem, por isso, sem segurança social, entre outros benefícios. Meus senhores, invistam antes na energia, em vez de papaguear por aí sobre a diversificação da economia.

ESTRADAS (VIAS DE ACESSO): Como já disse, eu sou camponês e criador de gado na minha querida província Cunene. Diversifico a economia todos os dias num município chamado Cuanhama e Namacunde, fronteira com a vizinha Namíbia. Tenho uma carrinha Toyota Land Cruiser 4X4, a única que chega até ao lugar da diversificação da minha economia e as vezes nem lá chego, durmo na mata enterrado. E já está velha sem peças, pior ainda. Como posso trazer os produtos para cidade? E pior de tudo meteram nas vossas leis, que essas carrinhas são carros de luxo com imposto altíssimo que já nem aguentamos comprá-los e desalfandegá-los. Casal presidencial, senhores governadores e senhores administradores, quando vocês falam da diversificação da economia, estão exatamente a falar de quê e em que lugares? Da cidade de Luanda, de Benguela, do Lubango, etc. e vender plásticos chineses nas praças? Quando falam da produtividade agrícola e criação de gado (motores da autossuficiência alimentar) querem dizer que temos que cultivar e criar gado na cidade de Luanda, de Benguela, Malanje, Huambo? Ou os senhores pensam que a carne e os produtos agrícolas andam a pé para vir até aos seus consumidores? Meus amigos, sem estradas (vias de acesso) não há economia que se diversifica. Chamem os cartógrafos e engenheiros e elaborem um mapa nacional, a partir das comunas, municípios e províncias, rasguem o país de ponta a ponta com estradas, não precisamos de estradas (vias de acesso) asfaltadas, sabemos que custam muito dinheiro (e com as vossas comissões, muito mais ainda), façam estradas (vias de acesso) terraplanagem para começar, que facilite a circulação de pessoas e bens, que nos facilite ir até ao interior das comunas, municípios e províncias produzir a terra, levar e buscar produtos esbatendo assim as assimetrias regionais. Os camiões e tratores não chegam as terras aráveis no interior sem esses acessos. Vão a Namíbia ver e aprender como se faz isso. Copiem bons exemplos em África.


SEGURANÇA/JUSTIÇA: Por fim, chegamos à segurança e a justiça. Penso que falar de segurança e justiça não preciso de muitas delongas, todos percebemos a sua importância. Só existe justiça onde a segurança funciona e só há segurança onde há justiça social, patriotismo e educação. E infelizmente isso não existe em Angola. Os capitalistas sérios de Singapura, da América, da Alemanha, do Canadá, da África do Sul, da China, do Dubai, etc., etc. e até mesmo de Angola, nunca irão investir o seu dinheiro onde sabem que não há segurança. Por isso, vocês guardam o vosso dinheiro no ocidente. A segurança e a justiça custam dinheiro, mas sobretudo requerem ética, mentes sãs e patrióticas. Como podem incentivar, convidar empresários a irem investir e diversificar a economia nos municípios onde não há água, energia, segurança e sem estradas para chegar até lá?

Sem esses quatros pilares, partindo da minha experiência do campo e do que vejo noutros países desenvolvidos ou em vias desenvolvimento, garanto-vos que a nossa economia angolana, as nossas províncias, os nossos municípios, as nossas comunas e as nossas povoações, ou melhor dito, a nossa Angola será sempre SHITHOLE” (lugar de merda).


Viva a Revolução de paradigmas

Viva Angola de Neto, Savimbi e Roberto.