Luanda - Vive-se nos dias actuais um clima de alguma crispação laboral entre sindicatos representativos de trabalhadores de várias áreas e a entidade patronal, sobretudo a estatal.

Fonte: JA

São diversos os focos de pressão que temos vindo a assistir ultimamente, desde os funcionários da justiça, da saúde, dos professores que protagonizaram a recente greve e, agora, também os jornalistas. Todos reclamam melhores condições laborais, passando isso, naturalmente, por incrementos salariais, mas não só.


Um direito consagrado legalmente e que, na actualidade, resulta essencialmente pelo não cumprimento de promessas anteriores, algumas com mais de cinco anos, exactamente quando o país mergulhou numa crise económica e financeira pela quebra abrupta das receitas devido à volatilidade do preço do barril de petróleo, o principal produto de exportação.


Apesar de o preço do petróleo estar a mostrar uma tendência de estabilização acima do previsto nas contas do Orçamento Geral do Estado, isso não significa um aumento imediato das receitas porque os contratos de comercialização obedecem a calendários próprios, nem sempre ajustados à cotação do dia. Ou seja, o facto do barril estar agora a rondar os oitenta dólares não quer dizer que haja, desde logo, um incremento dos lucros com a sua venda, porque muito do que está a ser produzido foi negociado antes, não fazendo, pois, sentido as contas simplistas que alguns fazem, alertando para hipotéticas receitas que, afinal, não existem.


Há uma grande ansiedade da sociedade gerada pela mudança política ocorrida em Agosto do ano passado, mas o pouco tempo que leva o novo Governo não pode produzir os resultados que permitirão a inversão da situação crítica por que passa o país em quase todos os domínios.


Estes seis meses de governação têm revelado um país sofrido, doente, a necessitar de cuidados intensivos e para os quais não há fármacos milagrosos, nem dinheiro suficiente para acudir tantas necessidades, qual delas mais prioritária que a outra.

O sector social é 'só' um dos onde as dificuldades mais se notam mas sabe-se que a crise não tem barreiras e está a afectar toda a sociedade de um modo transversal.


A depreciação da moeda, a inflação e a erosão do poder de compra do salário são argumentos mais do que suficientes para essa onda de pressão que alguns sindicatos e outras plataformas de trabalhadores e de cidadãos estão a fazer, essencialmente, sobre o Estado.


Uma das linhas de actuação do Governo tem sido a reforma da máquina estatal, tornando-a mais eficiente, logo mais produtiva. Isso ao nível das estruturas centrais, provinciais e locais da administração do Estado, dos institutos e organismos públicos, e também das próprias empresas.


Cortar “gorduras” é uma necessidade para que as verbas que venham a ser libertadas possam ser alocadas para áreas mais carentes. Por isso, está em curso um Programa de Estabilização Macroeconómica a que se juntam as acções contidas no Prodesi de apoio à produção, diversificação das exportações e substituição das importações, com um forte pendor para a retirada gradual do Estado, abrindo espaço para uma necessária maior presença do empresariado privado.


Os relatos que chegam das instituições que lidam com os empresários, sejam os bancos ou outros organismos são alarmantes porque revelam que a maioria está a desinvestir e abrir falências nas suas actividades, o que significa, no imediato, meter pessoas no desemprego.


No sector empresarial público a situação não é melhor, com uma série de vícios de um passado recente que precisam e estão a ser agora corrigidos. A hora não é de buscar culpados, mas sim de arregaçar as mangas e procurar uma gestão que vá ao encontro de práticas modernas e procure eficácia e eficiência para deixarem de ser mais um fardo no esforço financeiro do Estado.


No caso da comunicação social, as empresas públicas foram sendo 'invadidas' por “exércitos de trabalhadores”, uma boa parte sem qualificações, nem vocação, ante a passividade das forças sindicais que nunca protestaram contra essa 'invasão' mas que agora, quando se fala no saneamento empresarial, querem lavar as mãos, atribuindo responsabilidades única e exclusivamente ao empregador.

Se é justa a luta sindical não deixa de ser igual verdade que os sindicatos, na defesa dos trabalhadores, não têm apenas de se atirar contra a entidade patronal, contra as administrações empresariais, mas velar também para a segurança dos seus filiados, sobretudo quando estão em situação de alguma aflição, criando um fundo social ou outros que possam ajudar os subscritores em necessidades financeiras eventuais.


Impôr limites temporais tão curtos para tarefas complexas, como a elaboração de um qualificador profissional, é quase como que querer caminhar logo depois de nascer. Até porque um qualificador não se resume aos jornalistas, havendo nas empresas de comunicação social outros profissionais que, seguramente, também quererão ver definidas as carreiras.


E, acima de tudo, quando tem havido uma predisposição para o diálogo, para a concertação, quanto aos problemas que afligem o sector, a começar pela qualificação, a formação e superação profissional, por forma a que o jornalismo angolano possa resgatar a áurea que já teve em outras alturas, indiscutivelmente de maiores dificuldades.