Luanda - Ainda não estamos no período eleitoral para se constatar a tal "evolução" da imparcialidade e compromisso com a Nação (verdade, honestidade, transparência e interesse público) no tratamento e escolha de conteúdos na nossa comunicação social.

Fonte: Club-k.net

Aliás, não precisou haver período eleitoral para tirarmos as nossas dúvidas de que, se não se fizer alguma coisa, vamos ter, garantidamente, o que sempre vimos e ouvimos: uma imprensa propagandista que disseminou mentiras para o povo angolano. E hoje estamos todos a pagar a factura do não compromisso com a verdade e com a honestidade, do não compromisso com a Nação. E este não compromisso com a Nação foi partilhado por todos os órgãos públicos que simplesmente ficaram a assistir ao navio a afundar a cada dia, quando tinham a responsabiidade de evitar que estivéssemos hoje como estamos.


Na semana passada, a Associação Mãos Livres convidou todos os órgãos públicos e privados a fazer uma cobertura de uma conferência de imprensa, com o intuito de partilhar com o povo angolano uma lista dos, supostamente, nomes dos angolanos que tranferiram ilegalmente dinheiro para fora do país.


Há alguma linha editorial que não atropele a Constituição que possa ignorar tal informação?


Fiquei surpreendido com o facto de só ter visto a notícia por meio de um canal estrangeiro (RTP ÁFRICA), quando temos em Angola vários canais televisivos, onde a Televisão Pública de Angola (TPA), por ser estatal, tem responsabiidades acrescidas no que à responsabilidade de informar diz respeito pelo facto de ser uma televisão custeada com dinheiro de todos os angolanos, de Cabinda ao Cunene, que mereciam ter essa informação de extrema importância para a vida de todos nós.


Pelas minhas fontes, apercebi-me de que, para além de órgãos "privados" como a TV ZIMBO, que diz que só ela faz um "debate livre", os órgãos públicos (RNA, TPA, JORNAL DE ANGOLA e ANGOP) não apareceram deliberadamente na conferência de imprensa das Mãos Livres que anunciou que amanhã, segunda, 14 de Maio, vai fazer a entrega de uma lista ao Banco Nacional de Angola (BNA) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) de responsáveis do anterior Governo, que, alegadamente, transferiram ilegalmente dinheiro de Angola para fora do país.


Nesta lista, segundo o jurista David Mendes, na notícia da RTP ÁFRICA, constam os nomes do antigo presidente da República e ainda presidente do MPLA José Eduardo dos Santos, o antigo vice-presidente da República Manuel Vicente, os generais Dino e Kopelipa, como são conhecidos, entre outros.


As minhas fontes dizem que órgãos nacionais como os jornais O País, Novo Jornal, Folha 8 e a Rádio Despertar apareceram na referida conferência de imprensa. Resta-nos ver o destaque, ou não, e tratamento da matéria, do que cada um deu à conferência de imprensa para tirarmos as nossas ilações sobre a nossa comunicação social. E esta não é uma tarefa dos jornalistas nem do Executivo. Avaliar o comportamento da nossa imprensa é uma tarefa de qualquer cidadão angolano que goza do direito à informação plasmado na Constituição da República de Angola (CRA).


Qualquer cidadão pode, dentro dos limites da boa educação, manifestar publicamente a sua insatisfação por algum direito violado e exigir que os seus direitos sejam salvaguardados por quem se propôs servir o país nas recentes eleições.


Por outro lado, fica agora a incógnita sobre o que as entidades do Estado que visam salvaguardar o direito à informação, de interesse público, vão fazer para que a Lei de Imprensa e Constituição sejam cumpridas por todos os órgãos de comunicação social, já que, até prova em contrário, ninguém está acima da Lei.


Basta que um órgão decida, deliberadamente, não ir a uma conferência de imprensa para justificar uma eventual violação ao direito à informação? Até que ponto os órgãos de comunicação social podem ignorar uma eventual informação e serem responsabilizados pela sua atitude? Como o povo angolano pode participar para que os seus direitos, na imprensa, não sejam violados? São reflexões que devem ser feitas por qualquer cidadão angolano preocupado com o futuro do país. Os cidadãos podem fazer estas análises e exigir os seus direitos. Quem está a governar prometeu alguma coisa. Está a cumprir? Onde está a "abertura" de que se fala mesmo?

Carlos Alberto
13.05.2018