Lisboa - Os independentistas da FLEC-FAC acusaram hoje o Presidente angolano de hipocrisia por querer resolver os conflitos nos países vizinhos em vez tratar "diplomaticamente o problema da invasão angolana de Cabinda, que se mantém desde 1974".

Fonte: Lusa

Em comunicado assinado pelo porta-voz do movimento, Jean-Claude Nzita, a Frente de Libertação do Estado de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC) visa diretamente a recente viagem do chefe de Estado angolano, João Lourenço, a França e à Bélgica, em ambos os casos com a instabilidade política na vizinha República Democrática do Congo (RDCongo) em discussão.

O porta-voz da FLEC-FAC acusa o chefe de Estado de violar "as regras de boa vizinhança e de não interferência nos problemas internos dos outros países" e recorda, por outro lado, que a situação do enclave de Cabinda continua por resolver.

"A linguagem belicista do Presidente angolano pretende, através da hipocrisia, negociar uma ordem interna na República Democrática do Congo, quando o mesmo Presidente de Angola fecha todas as portas a qualquer negociação para pôr fim ao conflito armado em Cabinda", denuncia ainda o porta-voz dos independentistas de Cabinda.

A direção político-militar da FLEC-FAC, lê-se no comunicado, "insta João Lourenço a estabelecer negociações para pôr termo ao conflito em Cabinda, em vez de intervir militarmente nos países vizinhos, como aconteceu no passado com [ex-Presidente] Eduardo dos Santos", reclamando "uma solução negociada" para o problema daquele enclave, "através da abertura de um diálogo direto, público e imediato".

O conflito latente no enclave de Cabinda, por parte da FLEC-FAC, é um dos riscos à segurança em Angola admitido pelo Governo angolano numa informação prestada aos investidores, conforme a Lusa noticiou em maio último.

No documento é referido que "apesar dos esforços do Governo, a contínua atividade criminosa, a agitação e os conflitos políticos no país podem levar a uma redução na produção de petróleo, deter o investimento estrangeiro direto e levar ao aumento da instabilidade política".

A situação de Cabinda - a principal província produtora de petróleo em Angola -, é considerada a mais instável, referindo-se que desde a morte do líder da FLEC, Nzita Tiago, em junho de 2016, que se verifica um "conflito entre várias fações" pela liderança daquele grupo independentista.

Numa posição rara num documento oficial reconhecido pelo Governo angolano, o texto refere que têm ocorrido "escaramuças e emboscadas militares em Cabinda, como resultado da campanha contínua da FLEC", pela independência da província.

Ao mesmo tempo, é sublinhado que esta atividade não é vista pelo Governo angolano como uma ameaça à integridade territorial de Angola.

Os independentistas das FLEC-FAC, de Cabinda, anunciaram a 07 de maio que têm pronta uma delegação militar para estabelecer "os primeiros contactos com uma delegação reconhecida oficialmente pelo Presidente de Angola, para "pôr fim definitivo às hostilidades" naquele enclave, ao qual, publicamente, o Governo angolano nunca respondeu.

Esta organização luta há cerca de 50 anos pela independência de Cabinda, contestando sempre o que apelida de "invasão militar angolana após o acordo de Alvor", assinado em 1975, e considerando que "as autoridades políticas portuguesas, sem qualquer consulta aos cabindas, os entregaram aos angolanos".

A FLEC-FAC recorda que em 01 de fevereiro de 1885 foi assinado o Tratado de Simulambuco, que tornou aquele enclave um "protetorado português", o que está na base da luta pela independência do território.

Desde 2016, com o reativar dos ataques em Cabinda, a organização já reivindicou ter estado na origem da morte de dezenas de militares angolanos, em emboscadas, informação sempre negada pelo Governo e pelas chefias militares de Angola.

A 08 de novembro de 2017, o Presidente angolano, João Lourenço, presidiu em Cabinda à primeira reunião descentralizada do Conselho de Ministros de Angola no atual mandato, para "dar o sinal de que Cabinda é importante" para o Governo.