Lisboa - Não basta, periodicamente, dizer algumas certas verdades. Há que estar sempre em cima do acontecimento e manter a panela, mesmo que em lume brando, bem activa e quente

Junto do Povo angolano

ImageO presidente da UNITA, Isaías Samakuva, quer recuperar algum do tempo que tem mantido perdido sabe-se lá por onde. Daí que na última reunião da Comissão Política terá prometido que iria procurar recuperar a confiança da sociedade que, reconheceu, “ter diminuído nos últimos tempos”. Nada como voltar o Partido para junto do Povo para que este perceba quem defende, realmente, os seus problemas, terá deixado no ar o presidente da UNITA.

Nada mais correcto, o problema está que a UNITA tem andado tão desaparecida – mesmo que estivesse a fazer o chamado trabalho subterrâneo que não se vê de imediato mas que colhe dividendos, o que parece não ser assim pelas palavras de Samakuva – que começa a ser tarde a reaparição pós-eleitoral.

Tão tarde que há quem dentro do Partido já comece a questionar a sua liderança e a sua capacidade visionária para manter unido o Partido além de continuar a mostrar não ter um carisma forte para uma forte candidatura presidencial.

Não basta, periodicamente, dizer algumas certas verdades. Há que estar sempre em cima do acontecimento e manter a panela, mesmo que em lume brando, bem activa e quente.

E isso, reconheça-se e doa a quem doer, que não tem acontecido.

Onde tem estado a UNITA nos casos como os jardins milionários de Benguela e Namibe. Manda a verdade que têm sido as ONG da Sociedade Civil que tem mantido o assunto visível, e, pasme-se ou talvez não, até o Partido que suporta os “acusados” também tem criticado os mesmos, ao ponto de, um deles, poder ir ter de responder em tribunal.

Não basta condenar os desmantelamentos de bairros populares e dizer que os últimos actos do Governo que conduziram às demolições dos bairros do Iraque e Bagdad, em Luanda, foram “ injustiças sociais” e prometer ajudar as actuais e as próximas vítimas de actos semelhantes.

Demolições arbitrárias ou não, reconheço o real desconhecimento, mas não devemos esquecer que muitos bairros surgiram ou têm surgido como cogumelos sem quaisquer planificações urbanísticas e em claras violações de domínios públicos, com o beneplácito do próprio MPLA e dos seus comités, reconheça-se, enquanto províncias há que quase estão sem populações devido à deficiente recolocação das mesmas nas suas províncias de origem.

Recordo, quando recentemente estive em Angola, nomeadamente em Luanda e no Lobito, que via-se muitos bairros onde o que predominava era o livre arbítrio urbanístico sem quaisquer condições mínimas. Como uma pessoa amiga me disse, no Lobito, só a cidade tinha mais habitantes que cerca de 5 ou 6 províncias juntas!

Deverão ser as demolições e os desalojamentos mais “urbanos e humanos”? Aceito que sim. As pessoas não são objectos que se podem retirar ao simples estalito de uns dedos. Mas há que reconhecer os limites da urbanidade livre.

E não será com afirmações como as proferidas por Samakuva, por muito honestas e de bom senso que mostrem, que irão trazer o Povo à UNITA.

O Povo Angolano precisa de actos claros e objectivos para voltar a acreditar na Oposição e não sentir receio – ou medo – de assumir a sua vontade.

Não lhe basta continuar a ouvir dizer aquilo que muitos já há muito, e sem medo, vêm escrevendo nos órgãos de comunicação social: há quem ache que só é angolano quem vota num determinado partido (como me foi dito na minha cara por um apoiante desse partido, no que não serve, por certo, os interesses desse partido…). Os Angolanos querem muito mais!

É que não só ganha Angola, como ganha a Governação, como, e principalmente, além do Povo ganha a UNITA como partido credível.

Até lá, não se surpreenda o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, que surgem vozes a apoiar uma eventual candidatura de Abel Chivukuvuku e a criticar uma eventual crítica que um jornalista da Rádio Despertar terá ouvido em plena Comissão Política por apresentar factos relacionados com Chivukuvuku.

Não baste pedir Democracia externamente se, internamente, tomamos atitudes em tudo semelhantes aos dos nossos adversários políticos!

É que o Povo Angolano precisa de actos claros e objectivos para voltar a acreditar na Oposição e não sentir receio – ou medo – de assumir a sua vontade.

E não será com amordaçamentos que o Partido poderá avançar por muito honestas e sentidas palavras que o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, transmita na Comissão Política e nos meios informativos.

E, já agora, não é estranho que desde que começou a constar que Chivukuvuku estaria a pensar numa hipotética candidatura à presidência – e que deseja fazê-lo no âmbito da UNITA e não fora dela – até a ANGOP e o Jornal de Angola comecem a dar destaque a notícias da UNITA?

Estranho, ou… talvez não!

Fonte: NL