Luanda - “A TV-Zimbo ainda não concorre com a TPA”, assegura Ernesto Bartolomeu justificando no entanto que  “a única coisa que a TV-Zimbo trouxe é mais emprego na área da Televisão”.  Estas constatações foram reveladas numa entrevista que o "rótulo" do Telejornal da TPA concedeu ao “Novo Jornal" e que transcrevemos na íntegra:


Fonte:  NJ (Adebayo Vunge)

Comissão de Gestão: Parece que veio salvar o Canal 1

Há mais de 20 anos no Jornalismo. Hoje, as redacções são povoadas de novos jornalistas e muitos jovens.  Que comparação?
Na minha opinião, nas redacções de há 20 anos, os potenciais candidatos a jornalistas eram poucos e acompanhados por uma equipa de mais de seis profissionais. Dependia desses mais de seis profissionais, o futuro dos candidatos. O candidato teria de agradar pelo menos cinco destes profissionais para continuar candidato. No meu tempo, um erro ortográfico ou de pronúncia maldita valia três meses sem tocar na máquina de escrever ou no microfone. Hoje, na minha humilde opinião, os candidatos têm muitos problemas de base.


De que problemas se refere?
Grande parte dos candidatos desconhece regras básicas que a nossa profissão exige, como falar e escrever bem a língua de Camões. Muitos também não têm culpa, porque são quadros que aparecem nestes empregos com diplomas que demonstram estarem habilitados a exercer esta profissão. Quero dizer que no que diz respeito à TPA, ainda bem que a Comissão de Gestão já fez esta identificação da situação e será possível separar o trigo do joio, nem que este joio seja o Ernesto Bartolomeu. Temos de dar possibilidades aos candidatos que se apresentem com potencial para exercer a profissão e impedir que entrem para as redacções candidatos sem qualificações e permaneçam nos órgãos vetando que outras pessoas o possam fazer. Temos de criar a concorrência até do ponto de vista interno nos órgãos de comunicação social. Todos os dias há erros no nosso trabalho. Mas devemos evitar que eles aconteçam, responsabilizando quem os comete. Porque penso que o erro de um repórter, de um paginador, de um locutor ou apresentador, até mesmo um erro de legenda, mancha todo um colectivo que sai de casa e que se esforça por fazer bem as coisas. Hoje nas redacções quem comete erros já não é responsabilizado como era no meu tempo. Por isso e que há cada vez mais criticas ao nosso trabalho.


Sente-se uma grande preocupação pelo imediato, pela fama e vaidade ao invés do suar a camisola. Concorda com isso? Porquê?
As funções jornalísticas mais glamourosas na televisão são as de repórter e âncora (Apresentador). Elas povoam as ambições e os sonhos de milhares de jovens que lutam para ingressar no mercado da Televisão e depois de entrar alcançar aquelas funções. E isso tem a ver com as características que marcam esses trabalhos, como a popularidade, a intimidade, os altos salários e a possibilidade de conhecer o mundo.

Para conquistar tudo isso, aqui em Angola, os caminhos sempre passaram por um rosto mais ou menos bonito, uma voz agradável e alguma preparação técnica. Mas com a concorrência que para mim ainda não está acirrada, as coisas começam a mudar. Além dessas condições, são necessários mais conhecimentos especializados e uma constante actualização, tanto do conteúdo como da forma de fazer no nosso caso telejornalismo. Desculpe-me por estar sempre a falar de televisão, mas acho que é a área que mais domino, mas penso que as exigências básicas são idênticas: saber ler (fazer locução) e escrever bem. E preciso queimar bem, todas essas etapas para sermos reconhecidos pela sociedade em que vivemos. Hoje, de facto, há jovens que quase nada sabem, mas já se consideram estrelas, porque alguém lhes bateu nas costas e disse: “gostei desse ou daquele trabalho”. Isso é errado.


Quando recebeu o prémio, lembrou uma frase de Valentim Amões: Melhor jornalista a empresário. O jornalismo é necessariamente uma profissão para pobres ou até mesmo empobrecedora financeiramente?
Eu penso que todas as profissões são rentáveis. Tudo depende do mercado em que estamos inseridos. Quando só havia um canal de televisão, éramos pagos de uma forma. Hoje acredito que a Comissão de Gestão da TPA está a fazer uma reavaliação dos nossos salários, porque os tempos mudaram. Quem paga bem atrai sempre os melhores. E isso tem reflexos, obviamente, na da audiência que aumenta porque aumentou a qualidade dos profissionais. Por isso, não concordo que o jornalismo seja uma profissão para pobres, senão não tínhamos tanta gente nas universidades e nas faculdades e até mesmo no CEFOJOR a formar-se em jornalismo.

O que o Valentim Amões me ensinou foi que não devemos atropelar os outros, falar mal deste ou daquele para atingirmos os nossos objectivos. Devemos sim identificar as debilidades do nosso concorrente para tentarmos fazer melhor.  Isso também aprendi no seio da minha família.


«Pretendo explorar melhor a Reportagem»

Como encara o trabalho da Comissão de Gestão?
Tal como foi com todas as direcções que passaram pela TPA, sinto-me a vontade, sou um profissional que dá e espera receber. A Comissão de Gestão da TPA é formada por jovens, com grande abertura e acredito já terem identificado os problemas da empresa, até porque alguns já trabalham na casa há muitos anos.  Estou satisfeito com o resultado do trabalho que estão a efectuar e acredito que agora que estão identificados os problemas, falta-lhes passar a acção. Espero  que não se demorem muito. Quando me perguntam o que e que eu acho da Comissão de Gestão eu respondo: Parece que veio salvar o Canal 1.


O que mudou na TPA com a chegada da concorrência formal da TV Zimbo?
A TV-Zimbo ainda não concorre com a TPA.  A única coisa que a TV-Zimbo trouxe é mais emprego na área da Televisão.


É rico?
Sou rico de espírito. Materialmente não posso dizer que sou pobre.


Onde é que se sente mais a vontade: como pivot do TJ ou como repórter?
Não gosto de fazer avaliações ao meu trabalho, mas acho que como Pivot já mostrei algumas qualidades, como repórter quero trilhar o mesmo caminho.


Que novos desafios?
O futuro só a Deus pertence. Quero voltar a reportagem para fazer a segunda parte da Batalha do Kuito Kuanavale. Se o meu contrato for renovado no final deste ano, vou continuar na Televisão onde todos os angolanos se sentem em casa.


É verdade que não sabe fazer um nó? Como se desvencilha?
Na verdade não sou eu quem faz o nó das minhas gravatas. A responsável por isso chama-se Cecília Pinto, realizadora da TPA. E quando o marido dela não deixa recorro a minha filha.


EB e a suspensão em 2008
«Fui mal interpreteado»

Hoje teria dito o que disse em 2008 e que lhe valeu a suspensão?
Digo sim. Não falei política. Mas fui mal interpretado. Essas coisas também acontecem na vida dos filhos de DEUS.


Como foi para si o período de suspensão?
Foi muito bom. Aprendi a conhecer os meus verdadeiros amigos, a demarcar-me dos meus inimigos, aprendi também que os homens do bem sempre vencem. Fiz novos cursos, fui mais vezes a universidade, descobri um lado jornalístico que não explorava: O da Reportagem e ai estão os frutos.


O que lhe parece este prémio? Vem tarde?
Nunca é tarde para receber o reconhecimento do Continente Africano, numa profissão que abracei desde muito cedo. Nunca é tarde para saborear 80 mil maboques. Obrigado CNN e Multichoice. Obrigado ao Júri do Prémio Maboque pelo reconhecimento do meu trabalho.


Acha que o facto de ter ganho o Prémio CNN pressionou os prémios nacionais?
Acho que o que me valeu o prémio Maboque foi o conjunto das minhas obras. Acho que ganhei o prémio Maboque porque, pela primeira vez, este ano, apareci como finalista em três categorias. Também acho que este ano trabalhei bastante na reportagem. Acho que estou a ficar um jornalista completo.


Continua hoje a sonhar com a Direcção da TPA?
Sonhar não é proíbido. Mas agora conheço melhor o chão em que piso. Director da TPA só a longo prazo. Por enquanto quero defender a minha tese de licenciatura, e dar mais alguns anos ao telejornalismo angolano.

 

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