Odivelas - Ao fim de quase um mês de internamento, Maria das Dores Rodrigues, uma das seis doentes que cegaram depois de tratadas com o medicamento Avastin, voltou a casa. O momento, que devia ser de alegria, revelou-se afinal uma desilusão. "Percebi que estou incapacitada. O olho direito continua cego e só vejo sombras do olho esquerdo. Os médicos dizem que vou melhorar, mas já perdi a esperança de voltar a ver."


* José Carlos Marques
Fonte: Correio da Manha

“Perdi esperança de voltar a ver”

Maria das Dores, de 53 anos, recebeu ontem o CM na sua casa, em Odivelas. Apesar da boa disposição – é uma mulher de riso fácil – mostra-se pouco optimista em relação à hipótese de recuperar a vista. "Eu fazia uma vida normal e até conduzia. Desde o dia 17 de Julho que perdi tudo", lamenta.


Atendida no Hospital Egas Moniz devido a uma perda súbita de visão, provocada pela diabetes, Maria foi encaminhada para o Santa Maria. Foi operada na manhã seguinte: "Saí da operação a ver. Só à noite comecei a ver tudo vermelho. Voltei ao hospital, mas na manhã seguinte era tudo escuridão." Já foi submetida a mais três cirurgia no Santa Maria, mas sem grandes resultados.


Apoiada por duas das três filhas, que vieram de propósito de Angola, Maria diz que os médicos aguardam a chegada de um novo medicamento do Canadá – umas gotas recomendadas pelo especialista canadiano que viu os doentes em Lisboa. A doente sublinha que "toda a gente no hospital tem sido impecável" e recorda que a própria ministra da Saúde falou com ela, e com os outros cinco doentes, pedindo desculpa pelo sucedido.


FILHAS ANGOLANAS SÓ PODEM FICAR 30 DIAS EM PORTUGAL


Por estes dias, a casa que Maria das Dores partilha com a comadre, Rosalinda Malesso, está cheia de gente. As filhas, Célia e Albertina, e dois netos vieram de propósito de Angola para estar com ela. Têm-na acompanhado nas visitas diárias ao Hospital de Santa Maria – os exames e tratamentos começam de manhã e só acabam à tarde –, mas todos temem pelo que pode acontecer quando tiverem de partir.


"Vivo e trabalho em Angola, como as minhas duas irmãs. Pedi uma licença de 30 dias no emprego para vir, mas tenho de voltar. Os médicos dizem que o tratamento vai demorar pelo menos seis meses, mas a minha tia trabalha e não pode acompanhar a minha mãe ", conta ao CM Célia, a filha mais velha. No hospital, perguntaram a Maria das Dores pelas suas condições de vida, mas a doente – que já não trabalhava por problemas de saúde – não recebe apoio monetário do Estado.